CNN Brasil enfrenta demissões e cortes para estancar prejuízo
Sob novo comando, canal enxuga gastos, processo que também ocorre na matriz americana
A CNN Brasil inicia nesta quinta-feira, 1º de dezembro, um processo de reestruturação que provocará demissões em número significativo, incluindo grifes da casa. O objetivo do novo presidente executivo (Executive Chairman) do canal, João Camargo, é equilibrar as contas e alcançar o chamado breakeven, tirando a empresa do vermelho até março de 2023.
Fundador e presidente do conselho da Esfera Brasil, grupo criado para promover o diálogo entre a classe empresarial e representantes do setor público, Camargo também é acionista de outros meios de comunicação, como as rádios 89 FM, Alpha, Nativa e BandNews FM, além de chairman da rádio Disney.
E foi convidado a comandar a CNN Brasil pelo próprio Rubens Menin, proprietário do canal, em busca de propostas e relações capazes de atrair anunciantes para a marca.
A reestruturação afeta orçamentos de projetos, custos da operação diária e folha de pagamentos. Entre os âncoras com lugar assegurado na nova estrutura, estão William Waack, nome a ser ainda mais valorizado no cenário almejado por Camargo, Daniela Lima e Márcio Gomes.
Recentemente, o canal perdeu a CEO Renata Afonso. O posto, que antes dela foi ocupado por Douglas Tavolaro, cofundador do canal e ex-sócio de Menin, permanece vago. Mas Camargo assume as tarefas que cabiam a ela.
A direção de jornalismo segue nas mãos de Leandro Cipoloni, trazido por Tavolaro da Record desde o processo de criação da CNN Brasil, ainda em 2019 --a emissora entrou no ar em 15 de março de 2020. Cipoloni acumulou as funções de Américo Martins, que após as eleições deixou a vice-presidência de conteúdo do canal para voltar a morar em Londres, então como correspondente da CNN Brasil.
Funcionários afetados pelos cortes serão informados ao longo desta quinta-feira, 1º. Aos olhos do público, a reestruturação pretende ampliar o espaço dado ao conteúdo de hard news, com notícias do momento, aumentando também as apostas no jornalismo de economia, além do que já se faz na área política.
Sem efeito junto à audiência, a faixa chamada como "Soft", que propunha a desaceleração do noticiário do dia com conteúdo leve, será praticamente extinta --as exceções são o programa Sinais Vitais, com o médico Roberto Kalil, e as entrevistas de Gabriela Prioli, bem recebida pelo público desde a estreia do canal.
Com os cortes de gastos excedentes, o canal pretende ganhar fôlego para investir na sucursal de Brasília, honrando a proposta de ampliar o espaço dado a política e economia.
Na manhã desta quinta, a CNN Brasil distribuiu o seguinte comunicado interno:
"Prezados Colaboradores,
A CNN Brasil informa que realiza, nesta quinta-feira (01/12), a reestruturação de suas operações, com dois objetivos principais: fortalecer o DNA do canal, focado em hard news, e readequar custos, ajustando a empresa ao cenário econômico do país, criando as condições para atingir o equilíbrio financeiro (breakeven) em 2023 e crescer.
Em linha com a estratégia de fortalecimento do jornalismo, a coordenação da cobertura será concentrada em São Paulo e Brasília, duas praças que ganham relevância dado o contexto político e econômico nacional. Em decorrência dessa nova lógica, a newsroom do Rio de Janeiro será desativada, sem prejuízo à cobertura. As mudanças incluem a readequação de programas, assim como da grade. O selo CNN Soft será remodelado para 2023.
Aos colegas que deixam a empresa, manifestamos o nosso profundo respeito e gratidão. A dedicação e o trabalho de cada um foram fundamentais para a construção e consolidação da CNN Brasil.
Decisões como essas exigem coragem, determinação e visão de futuro. As mudanças irão adequar a empresa ao novo cenário da indústria de mídia e abrirão espaço aos investimentos necessários para seguir entregando o jornalismo independente, relevante e de alta qualidade, marca registrada da CNN.
Este é o nosso compromisso com todos os colaboradores, com o mercado e com os milhões de brasileiros que confiam na CNN Brasil para tomar as melhores decisões."
MATRIZ TAMBÉM CORTA
A reestruturação de quadros e gastos na CNN Brasil obedece a uma correção de salários e custos que se mostraram inchados para os padrões do mercado nacional. E embora seja uma empresa controlada de modo independente do grupo que detém a franquia da sigla, a CNN Brasil atravessará essa operação praticamente ao mesmo tempo em que a matriz americana passa pelo mesmo processo.
CEO do canal nos Estados Unidos, Chris Licht distribuiu memorando informando que haverá demissões na matriz nesta quinta, 1º e sexta-feira, 2. "Será um momento difícil para todos", previu ele.
Há um mês, Licht anunciou que a reestruturação, provocada por momento de recessão econômica, afetará pessoas, orçamentos e projetos.
Assim como todos os canais e grupos com grande concentração de audiência, a CNN perdeu público nos últimos anos, em parte pela fragmentação do consumo de mídia trazida pela internet, mas também pela polarização que nos EUA favoreceu canais que abandonaram a isenção jornalística para atender a torcidas de determinada ideologia, como a FOX News, adepta da direita.
O terceiro trimestre deste ano colocou a CNN na lanterna dos canais pagos vistos pelo público de 25 a 54 anos, sendo a emissora por assinatura menos assistida desde o 2º trimestre de 2015, segundo dados do instituto Nielsen.
Mas no caso da CNN americana, o cenário é ainda reforçado pela fusão entre a Warner, grupo ao qual o canal fazia parte, e a Discovery, numa operação consumada em abril que visava ao corte de US$ 3 bilhões para condensar departamentos e cargos duplicados após a junção das duas gigantes.
De toda forma, o enxugamento de pessoal vem afetando também outros grupos nos EUA, como a rede AMC e os grupos Criterion e Nexstar. No grupo Disney, que inclui os canais Disney, ESPN e derivados da FOX, inclusive no streaming, as contratações foram congeladas.
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