Mocinha de nova novela espelha tendências do Brasil atual
Mulher negra sustenta família multigeracional na pele de Sheron Menezzes em 'Vai na Fé', próxima das sete na Globo
Vender quentinhas com paródias ao ritmo de funk é função para Sol, personagem de Sharon Menezzes, e Bruna, papel de Carla Cristina na próxima novela das sete da Globo.
De Rosane Svartman, "Vai na Fé" mantém o protagonismo negro feminino no horário após "Cara e Coragem". Batalhadoras, as duas sustentam a família com a venda de marmitas no centro do Rio, diretamente do porta-malas do carro velho.
"Temos uma história cheia de conflitos, humor, romance, e que trata de temas contemporâneos que atravessam a vida de todos os personagens: desde os mais jovens aos mais vividos", diz a autora.
"São dramas que devem entreter, emocionar, fazer a gente torcer e pensar. Nessa novela, temos personagens que acertam e erram, aprendem e erram de novo, mesmo tentando acertar... São personagens humanos, imperfeitos, como nós. E a obra fala da esperança, da fé e de seguir em frente mesmo em meio às adversidades, acreditando num futuro melhor."
O tom otimista da autora, profissional bem-sucedida nas novelas do horário, é o que a Globo busca para gerar identificação num público normalmente relegado ao posto de coadjuvante nas novelas.
Em abril deste ano, ao se dirigir a um a plateia de roteiristas e produtores de audiovisual no evento Rio2C, o diretor da TV Globo e Afiliadas, Amauri Soares, alertou profissionais de criação para dados de recentes pesquisas que apontam o Brasil como um país onde uma a cada três famílias é regida por uma mãe preta, na maioria das vezes, solteira. É preciso dar protagonismo a esse retrato e reparar um desequilíbrio histórico de cores na tela. Mas essa correção não chega à toa.
ARTE E CONSUMO
Ao lado de Sol, nas batalhas do dia a dia, está sua família, formada pela mãe, Marlene (Elisa Lucinda), o marido, Carlão (Che Moais), e as filhas, Duda (Manu Estevão) e Jenifer (Bella Campos), a primeira universitária dessa família.
Os clãs multigeracionais, diga-se, foram outro fator de forte tendência apresentado por Soares na Rio2C e se explicam pela crise econômica acentuada após a pandemia: muita gente voltou a morar com outros membros da família para rachar contas.
Já a presença de um primeiro membro da família a conquistar diploma universitário, caso da personagem de Bella Campos na trama, já é um cenário que vem se desenhando há pelo menos dez anos, fruto das políticas públicas de educação da primeira década deste milênio no Brasil. Obra das primeiras gestões de Lula no governo, a valorização do ensino universitário é uma das propostas a serem retomadas pelo petista, recém-eleito para o seu terceiro mandato no comando do país.
O avanço da educação universitária em famílias historicamente sustentadas por subempregos também motiva uma ascensão sócio-econômica que abastece o consumo e entra no radar de anunciantes e mercado publicitário. Daí a importância de a TV, sustentada por publicidade, espelhar esse consumidor que até bem pouco tempo atrás tinha papel quase nulo nas telas.
ENREDO
Sol canta no coral da igreja desde a infância. Na juventude, sem que os pais soubessem, ela frequentava os bailes funks que marcaram os anos 2000 e era conhecida como a princesa do baile, a gata das gatas! Hoje a família passa por dificuldades financeiras, com Carlão desempregado desde a pandemia. E é nesse momento que o acaso a levará aos palcos.
Sol recebe um convite para trabalhar com Lui Lorenzo (José Loreto), um cantor pop e conquistador. Essa reviravolta na vida de Sol faz com que ela reencontre Benjamin (Samuel de Assis), sua paixão na juventude, e Theo (Emilio Dantas), de quem guarda más lembranças.
Casado com Clara (Regiane Alves), Théo é um empresário de sucesso que esconde negócios escusos, sem que ninguém desconfie. Ben se casou com Lumiar (Carolina Dieckmann) e juntos construíram uma vida profissional bem-sucedida como advogados criminalistas.
Paulo Silvestrini, diretor artístico da novela, conta que a trama vai apresentar os conflitos de diferentes gerações e camadas socioculturais, dentro da diversidade do Rio de Janeiro. "É uma novela carregada dessa positividade tão característica do povo brasileiro, dessa certeza de que o amanhã será melhor. O ambiente é essa cidade plural e misturada, onde as diferentes gerações, culturas e identidades sociais se confrontam e convivem, adequando expectativas e revendo valores", antecipa o diretor.
Com estreia prevista para janeiro, "Vai na Fé" é criada e escrita por Rosane Svartman, com colaboração de Mário Viana, Pedro Alvarenga, Renata Corrêa, Renata Sofia e Sabrina Rosa. A produção é de Mariana Pinheiro e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.
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