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Zapping - Cristina Padiglione

'Pantanal' terá capítulos maiores que a versão original

Número de episódios, no entanto, será menor na releitura de Bruno Luperi

O autor Bruno Luperi, 33, neto de Benedito Ruy Barbosa, 90, escreverá uma história mais longa que a original, porém exibida em período menor - Mauricio Fidalgo/Globo
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A versão original de "Pantanal", novela de Benedito Ruy Barbosa que foi ao ar pela Rede Manchete, há 32 anos, tinha 208 capítulos. O remake que estreia nesta segunda (28), pelas mãos de Bruno Luperi, neto do dramaturgo, não vai durar 208 dias de exibição, mas os episódios serão maiores. Segundo ele, cada capítulo atual usa um capítulo e mais um terço do texto de 1990.

"A minutagem, o tamanho do capítulo mudou. Então, esses 208 capítulos originais seriam agora 150", disse o autor em entrevista à colunista em sua casa, em São Paulo, há três semanas, quando escrevia já o capítulo 164. Ou seja, o remake terá ainda mais volume de história que a novela da extinta Rede Manchete. Pelos parâmetros de 32 anos atrás, seriam 20 episódios a mais.

Luperi promete não fazer mais que uma adaptação, sem mexer na espinha dorsal da saga dos Leôncios, que tem agora direção artística de Rogério Gomes. Assuntos datados, como o Plano Collor, lançado poucos dias antes da estreia da novela, ou o congelamento da inflação caíram fora, evidentemente.

"Pantanal" estreou na Manchete em 27 de março de 1990, e chega à Globo neste 28 de março, dando às duas produções o mesmo período de estreia. A música de abertura, "Pantanal", de Marcus Viana, é a mesma, agora interpretada por Maria Bethânia, com Almir Sater no acompanhamento instrumental.

Tudo remete à versão original, dirigida por Jayme Monjardim, e não é por falta de inventividade. "É uma homenagem mesmo, ao Benedito, que sempre teve o sonho de fazer essa novela na Globo, e ao Jayme [Monjardim], que criou um novo conceito com 'Pantanal'", disse Rogério Gomes em entrevista virtual coletiva.

O coro de jacaré, que era tema de Tenório em 1990, perdeu espaço, até em função da postura da indústria da moda. Mas o plantio de soja como vilão do desmatamento, cai na boca de José Leôncio (Marcos Palmeira) e do filho Jove (Jesuíta Barbosa).

Eis o que Luperi nos conta sobre a novela que vem aí:

"Mais do que 30 anos, acho que mudou uma era. Comportamento de questões culturais e tecnológicas. Tem internet hoje, não tinha na época. Mas em essência, a gente conta a mesma história."

RITMO

"A obra do meu avo tem um compasso mais contemplativo, é um tipo de história em que o cenário faz parte, o dia e a noite interferem no comportamento do personagem. Ela tem uma terceira camada que a gente não vê normalmente numa novela urbana dentro de um cenário muito fixo, e são poucos núcleos. Grosso modo, a gente tem três grandes núcleos: a família do Tenório, a do Zé Leôncio, um pouco da família do Tenório no Rio, e Juma Marruá. São em torno de 25 personagens, porque alguns vão embora.

VIDEOCLIPES

"A gente está sempre entre uma fazenda e outra, e foi um recurso essa dilatação de capítulo [com longos videoclipes de tuiuiús filmados na direção de Jayme Monjardim, há 32 anos]. Tava dando muito ibope e as pessoas não iam desligar se colocassem ali 20 segundos de passagem de tempo, de troca de fazenda, mas olhando pro texto original, isso não é uma marca. Tem um momento da história que ela pode estar mais dinâmica."

BOM É REESCREVER

"A sensação que eu fiquei quando acabei de escrever 'Velho Chico' foi: ‘ah, agora eu quero voltar pra escrever do primeiro capítulo’, porque ali você já sabe qual é a história. Eu fiquei com uma frustração muito grande. Eu falei: 'agora eu tenho competência pra acertar'. Eu li a novela inteira e falei: ‘isso aqui funcionou, isso aqui não funcionou’, 'isso foi bom, vai render mais', 'aqui a gente passa rápido'. É o melhor dos cenários. É algo que eu não pude fazer em 'Velho Chico' e agora isso daí surgiu em cima de uma obra que pra mim é um clássico, uma obra-prima, é uma possibilidade única, a gente já sabe o que funcionou no papel. Meu avô tem isso como uma obra aberta, numa época em que você escrevia, era tudo super analógico."

Eu tenho a sinopse original e os capítulos, então você vai vendo como as coisas vão se solidificando, e é muito legal, é muito gostoso. O bastidor [da produção da Manchete] é muito interessante porque tem uma parcela de amadorismo no melhor sentido da palavra, que ela imbuiu o espírito de todo mundo.
O Almir [Sater] comenta que o personagem dele nem ia aparecer, de repente veio o Sérgio [Reis], trouxe ele, virou o Trindade, um personagem que apareceu do nada, e aí deu tão certo que mataram o Trindade pra ele começar a gravar a novela seguinte ['A História de Ana Raio e Zé Trovão'], tem umas questões em que ela foi muito feliz, foi feita com muita paixão, uma coisa muito rara, uma obra que nasça de tanto desejo das pessoas."

UM MUNDO SEM ALGORITMOS

"E virou um pouco linguagem, né? Toda essa questão da imagem, do 'Pantanal' como pano de fundo, a nudez, algumas coisas que talvez não sejam exploradas hoje como eram numa Manchete.
E essa camada do tempo, isso interfere demais. Aquela história carece ser interpretada à luz do nosso tempo."

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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