Colo de Mãe

Os filhos crescem, mas a exaustão não vai embora

Mãe e cansaço andam juntos; o melhor é aceitar a missão, assumir a exaustão, se divertir e sorrir

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Descrição de chapéu Agora

Vou começar a coluna com um spoiler: o cansaço materno não passa. É isso mesmo. Mãe e cansaço são como tampa e panela, doce e formiga, Patati e Patatá. Unidos e inseparáveis.

Eu, a otimista, gostaria de dizer a você, cara leitora (ou caro leitor), que vai passar, que tudo ficará bem. Aliás, é essa técnica que uso com minhas meninas quando as coisas estão difíceis e desafiadoras para elas. Mas a real é que, na maternidade, a exaustão inicial não acaba, ela só muda de fase.

Muda de fase como aquele meme que relaciona a maternidade a um jogo de videogame: quando você comemora ter passado de nível, vem outro mais difícil.

É exatamente assim. É sempre mais difícil e mais trabalhoso. É trabalho pesado, braçal e, muitas vezes, intelectual. Há semanas em que olho para mim e estou exausta. No espelho, sinto-me como a Rosa, protagonista do filme “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky. Em uma das cenas, o marido quer fugir de uma discussão e diz que vai dormir porque está cansado. Rosa responde: “Eu também. Estou cansada há uns 15 anos”.  

O fato duro, cruel e real é que o cansaço não nos deixa. Passa a fase de recém-nascido, acertamos a amamentação e o sono da criança. Parece que tudo ficará bem. Mas eles começam a andar, falar, comer e fazer birra. E lá vem mais cansaço. Entram na escola, vem a adaptação. Vêm as férias. Cansaço. Volta para a escola, nova adaptação, e mais cansaço.

Enfim, eles crescem. Vestem-se sozinhos, arrumam o próprio material, colocam a própria comida, levam o prato na pia, ajudam em pequenas tarefas, param de dar trabalho para fazer lição de casa. 

Mas são filhos. Eles adoecem, se entristecem, passam por dificuldades e para onde correm? Para a cama da mãe, o abraço da mãe, o carinho da mãe. Não, minha amiga, você jamais vai conseguir ser só você de novo. 

E, mesmo que tenha uma grande rede de apoio, que conte com babá, empregada doméstica, escola bacana, pais e sogros fofos, a mãe é você. Mesmo que consiga vale-night, almocinho com as amigas, cafezinho e chazinho no cabeleireiro, fazer a unha nunca mais será igual, assim como viajar sozinha e ir ao cinema. Você apenas dá uma pausa na dura realidade para respirar, mas precisará voltar e vai se cansar novamente.

As coisas são ainda piores para as mães que trabalham. Em meio a todas essas fases do videogame materno, o mercado de trabalho também exige. Adaptações de horário, rotina e funções são cada vez mais comuns. É preciso ter flexibilidade e proatividade. É preciso ter tolerância, é necessário fazer cursos, se aperfeiçoar. Resultado de tudo: cansaço da dupla ou tripla jornada.

O cansaço existe, querida mãe. Mesmo que você tenha um companheiro que é pai de verdade e parceirão. E qual a solução para tudo isso? Eu aceito. Vou ao cinema, leio, bebo, saio com amigos e volto cansada, mas sorrindo!

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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