É melhor não ter filhos, mas quem não tem não sabe a felicidade que é viver os dias com eles
Nem todas têm instinto materno, mas respeito o meu excessivo
O primeiro blog que eu tive, pouco depois de Luiza nascer, chamava-se “Filhos”. Foi na Tribuna Impressa de Araraquara (273 km de SP), cidade onde morei por nove anos. O blog ganhou esse nome por causa do “Poema Enjoadinho”, de Vinicius de Moraes. “Filhos... Filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos, como sabê-lo?”, dizem os primeiros versos. Amo esse poema. Desde quando não sabia se seria mãe. Amo Vinicius e amo poesia.
Acho muito digno, inteligente, corajoso e forte mulheres e homens que passam a vida sem ter filhos. Ou sem querer tê-los. Acho que decidir não ser mãe é a melhor coisa que o feminismo nos deu.
Eu decidi aos 17 anos que queria ser mãe. Na época, escolhi o nome da mais velha: Luiza. Música de Tom Jobim. Nome do rei do baião, de prefeita e presidente. Laura foi um bônus na minha vida. Jamais planejada, mas sempre amada, teve o nome que a irmã escolheu e que se encaixou perfeitamente na minha menina meiga, sorridente e muito inteligente.
O fato é que eu sempre quis ter filhos e, hoje, tenho três: duas meninas e o jornalismo. Este último me dá mais trabalho. Tira mais o sono, exige mais e consome as madrugadas, mas me alegra também.
Acredito piamente que nem todas têm instinto materno, mas respeito o meu instinto materno excessivo. Sou mãe das meninas, do jornalismo, de alguns amigos, de cachorro, peixe, gato e periquito.
Filho é, sim, uma sucessão sem fim de aporrinhações. É a experiência mais transformadora da existência e uma responsabilidade do tamanho do universo. Eles esvaziam os bolsos, riscam as paredes e choram em horas inapropriadas.
Filhos te tiram do eixo, do rumo, do caminho. Impedem o mochilão pela Ásia, a viagem para as ilhas gregas e o intercâmbio na América Latina. Filhos te fazem pensar duas vezes em cada decisão, te impedem de sair à noite e mudam seu corpo. E, como dizem meus versos preferidos do poema de Vinicius: “Chupam gilete, bebem xampu, ateiam fogo no quarteirão. Porém, que coisa. Que coisa linda. Que coisa louca que os filhos são!”.
Comentários
Ver todos os comentários