Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Bom de Garfo

No coração do Jardim São Paulo, Espaço Pau Brasil faz sucesso com frango atropelado recheado

Boteco na zona norte de São Paulo foi comprado por frequentador há oito anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Qual amante de botequim um dia não pensou em ter um boteco só para chamar de seu? Aquela casa ideal, rodeada de amigos, com os petiscos preferidos e a bebida do jeito que você gosta? Dez entre dez boêmios já idealizaram isso alguma vez na vida. Atire o primeiro copo aquele botequeiro que nunca fez planos de montar o bar dos sonhos com a bufunfa virtualmente ganha na Mega-Sena da Virada!

Não foi diferente para o corretor de seguros Vagner Pereira de Araújo. Há oito anos, o bar que ele gostava de frequentar ficou à venda. Em 2011, o Espaço Pau Brasil, no coração do Jardim São Paulo, não se encontrava lá muito bem das pernas.

Contudo, Vagner conhecia o boteco como ninguém. Sabia que além de um lugar agradável, a casa tinha algumas pérolas no cardápio. O corretor não pensou duas vezes e arrematou o estabelecimento. Dono de uma corretora, Araújo aproveitou seus conhecimentos adquiridos na vida empresarial e os aplicou na administração do bar.

Porém, na ponta do lápis, o que prevaleceu mesmo na reconstrução da casa foi a sua visão de cliente. “Reorganizei toda a estrutura do bar, coloquei as contas em ordem e troquei todo o pessoal”, conta Vagner. Mas, curiosamente, da equipe original Araújo manteve apenas o cozinheiro.

A motivação era bem clara: o frango atropelado recheado. A iguaria original da casa era um dos maiores motivos de o corretor frequentar o espaço: “Posso dizer que só comprei o bar por causa do frango atropelado”, confidencia, soltando uma boa risada.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O Vagner é assim, sujeito boa praça. Sempre distribuindo sorriso sincero. E a casa tem sua cara: um lugar tranquilo e amigável. Até a geografia dali corrobora. Encravado entre duas pequenas “vilinhas”, na pacata rua Pedro Cacunda, o bar é protegido por um pequeno bosque. 

No local, até meados dos anos 1960, funcionava a estação Vila Pauliceia, antiga parada da linha de trem da Cantareira. Aquela mesma estrada de ferro onde passava o “trem das onze”, do genial Adoniran Barbosa. Da Pauliceia, a composição trilhava por Parada Inglesa, Tucuruvi e Vila Mazzei até chegar ao Jaçanã.

Durante a entrevista, somos gentilmente interrompidos pela dona Conceição Arantes. Com seus delicados cabelos alvos, a septuagenária vizinha caminha até o bar apenas para abraçar o dono do botequim. “Gosto do Vagner como fosse meu filho. Ele é muito atencioso com a gente. Ele deixa aqui tudo muito tranquilo, até em dia de jogo”, conta a vizinha com olhar carinhoso.

‘C... DO POSTO’

Sossego, comida boa e cerveja gelada. Nem parece que se está entre duas agitadas estações de metrô. O bar fica aos fundos de um grande posto de combustíveis e serviços na avenida Luiz Dumont Villares. Por isso, ganhou dos fregueses o “carinhoso” apelido de “C... do posto”.

Nenhum cliente velho de casa conhece o “Espaço  Pau Brasil”, é “C... do posto” mesmo. O turpilóquio também dá nome a uma entrada que é servida gratuitamente aos clientes. Uma porção de cenouras e pepinos frescos, cuidadosamente cortados em bastonetes, é disposta numa salmoura dentro de um copo americano. Esse mimo, além de saudável, abre a sede de qualquer cidadão de bem.

Enquanto preparo os flashes para fotografar o “frango atropelado”, mais um vizinho aparece. É o seu Laerte Sanches. Aos 90 anos, de saúde invejável, o descendente de espanhóis e italianos me conta que mora na região desde 1949. Mudou-se para Vila Pauliceia quando a zona norte da cidade ainda tinha contornos quase rurais. Foi trabalhar numa grande fábrica de autopeças, que escoava sua produção pelo trilhos da Estrada de Ferro Cantareira. 

Laerte é um poço de história. Relata que no prédio onde hoje está o botequim já funcionaram fábrica de prensa, armazém e até padaria. Mecânico desde jovem, trabalhou em carros de competição ainda num embrionário autódromo de Interlagos. A turma do bar me conta, com orgulho, que até hoje seu Laerte é um mecânico de mão cheia, capaz de ajustar o ponto de um motor apenas com seu ouvido apurado.

Histórias à parte, não dá para sair do bar sem provar o inigualável frango atropelado recheado. Preparado em algumas versões e tamanhos, o frango é totalmente desossado. Onde antes havia ossos e cartilagem segue um farto recheio de queijos, brócolis e calabresa.

A iguaria é preparada na chapa até ficar bem passada. Servida no rechaud, é acompanhada de uma mandioca macia e bem amarelinha. Farofinha e vinagrete também completam o prato. A versão completa serve de 3 a 4 pessoas e custa R$ 89.

Outro destaque da casa é a caipirinha de jabuticaba. Suave e saborosa. Minha versão preferida é com cachaça (R$ 19), mas também fazem com vodca ou saquê. Vagner compra a fruta de pequenos produtores durante a temporada de safra e congela jabuticaba suficiente para oferecer a caipirinha ao longo do ano. O bar é um sucesso entre os moradores da zona norte de São Paulo. Além do famoso frango, feijoada, torresmo, caldinhos e porções generosas fazem a cabeça do público.

O técnico de informática Leandro Risegato conheceu a casa através da mãe. “Minha mãe leu sobre o frango atropelado no Facebook e me trouxe aqui pela primeira vez”, conta ele, que desde 2011 é cliente fiel da casa.

Assim como grande parte dos clientes que lotavam a casa durante minha visita, Leandro se tornou amigo do Vagner. Já é tradição no Jardim São Paulo juntar os amigos e passar um bom tempo lá no “C... do posto”. 

Espaço Pau Brasil

Bom de Garfo

Otavio Valle, 48, é formado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pós-graduado em fotografia pelo Senac, mas a vida de jornalista o fez especialista em "botecologia", pela universidade "Bares da Vida".

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem