Biblioteca da Vivi

Patti Smith cita seus livros favoritos, conta causos e fala da situação política brasileira

Roqueira lançou recentemente 'O Ano do Macaco' e 'Devoção'

Patti Smith
Patti Smith durante show do Popload Festival - Fabrício Vianna/Popload/T4F/Divulgação
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São Paulo

Fã do poeta francês Rimbaud (1854-1891) por toda a vida, a roqueira punk Patti Smith, 72, recordou durante sua passagem por São Paulo, na última semana, seu livro favorito na infância: "Pinocchio", o clássico de Carlo Collodi de 1883. E revelou detalhes saborosos da vida antes da fama, adquirida após uma juventude transgressora que a inspirou a escrever o lendário "Só Garotos" (R$ 49,90, 280 págs., Cia das Letras).

"Quando era criança, minha família era pobre e eu disse à minha mãe que gostaria de conhecer o mundo. Ela, então, veio com um globo para mim", divertiu-se Patti, muito simpática, em encontro no Sesc Pompeia.

"Lembro-me que na minha casa não tinha TV e meus pais liam muito. Quando eu tinha uns dois anos, dormia com o livro embaixo do travesseiro para ver se passava alguma coisa [risos]. Então, pedi que minha mãe me ensinasse a ler. E ela, que nunca terminou a escola, ensinou-me as duas coisas mais importantes: a ler e a rezar", contou. "Eu me apaixonei pelos livros assim que os conheci." ​

Avessa às novas tecnologias, contou uma história interessante sobre como ganhou o primeiro celular. "Eu estava filmando com o Johnny Depp e meu filho telefonou para ele para conseguir falar comigo. Eu imagino que não seja fácil conseguir o número do Johnny [risos]. Então, no dia seguinte ele foi lá e me deu um aparelho. E eu ainda o uso!"

Admiradora de histórias policiais, Patti compara o detetive à figura de um poeta. "Ambos têm de criar aquele corpo que é a investigação, algo que faça sentido, é um trabalho muito cerebral. Então, vem a parte de finalizar, chegar à última linha, o que para o detetive é encontrar o bandido", afirma. E faz ressalvas em relação a cenas de violência. "Não gosto, aprecio a investigação."

Crítica ao governo americano de Donald Trump, Patti afirma que vivemos tempos sombrios também fora da ficção. "Tenho uma sensação ruim. Gosto de dizer que sou uma pessoa otimista, pois viver é isso, é esperar que enquanto nós vivermos poderemos fazer transformações. Mas isso não quer dizer que eu esteja feliz com o que está acontecendo. Eu entendo a situação de vocês", disse, referindo-se ao governo de Jair Bolsonaro. "É de cortar o coração."

No encontro, Patti Smith falou também sobre os recém-lançados "O Ano do Macaco" (R$ 49,90, 168 págs.) e "Devoção" (R$ 39,90, 144 págs.), ambos da Cia. das Letras. O primeiro traz sua percepção das últimas eleições americanas. No segundo, a autora do aclamado disco "Horses" faz uma reflexão sobre os mecanismos da escrita.

Sobre eles, confessa: "Não gosto de ser editada, mas entendo que isso seja necessário às vezes". A honra geralmente fica para o guitarrista e amigo Lenny Kaye, a quem ela costuma submeter suas obras.

Biblioteca da Vivi

Vivian Masutti, 35, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela USP (Universidade de São Paulo), onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é coordenadora da Primeira Página.

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