BBB 21: Aceitem, não há BBB sem interferência
Pitacos de globais e pressão de patrocinadores sempre foram determinantes
O Big Brother Brasil não é um experimento antropológico ou científico. É um programa de entretenimento.
Parece óbvio, mas entender a natureza do reality é fundamental para aceitar e compreender que sem interferência não existe programa, seja ela praticada por marcas ou mandachuvas da Rede Globo. O BBB21 movimenta, apenas em cotas de patrocínio, mais de meio bilhão, um valor colossal demais para que o programa não seja minimamente controlável.
A forma como Karol Conká venceu a prova do líder nesta quinta (11) levantou suspeitas nas redes sociais sobre uma possível manipulação da direção do programa para favorecer a cantora. É impossível saber ao certo se houve manipulação; acho que neste caso Karol teve sorte e o povo brasileiro, azar. Mas é fato que a Globo dispõe de muitas ferramentas, visíveis e invisíveis, para influenciar o andamento do programa.
O confessionário tem sido usado com frequência para conversas privadas e passagem de informação privilegiada aos participantes. A Globo confirmou ao menos um destes papos, quando Boninho falou com Projota sobre Lucas, que havia acabado de desistir do programa. O próprio Projota já havia recebido ao vivo informações alguns dias antes, desta vez de Tiago Leifert, que agradeceu o "enquadro" que o rapper deu em Lucas.
Na quarta (10) foi Karol quem disse que conversou com "gente importante do programa" e que recebeu dicas sobre seu comportamento na casa. A proteção dos famosos pode ter objetivos de curto e longo prazo (manter a audiência nesta edição e não desestimular a participação de celebridades em edições futuras).
Os pitacos não estão restritos a famosos e nem a esta edição: Felipe Prior, participante do BBB 20, disse que foi alertado pela produção após tentar fazer uma piada com zoofilia. Lá atrás, Dhomini (vencedor do BBB 3, que voltou a participar no BBB 13) disse que torturou um cachorro e há relatos de que teria sido orientado no confessionário a desmentir a história.
Isso sem falar no contragolpe, uma novidade surgida no ano passado e ativado apenas quando a produção do programa quer, que permite o emparedado indicar alguém ao mesmo paredão. No ano passado favoreceu Prior e neste ano apareceu novamente para aliviar a barra dos mocinhos Gilberto, Juliette e Sarah.
As intromissões desempenham um papel fundamental no programa, seja para forçar o encaixe de participantes em determinados papéis (toda edição precisa de um roteiro, com mocinhos, jornadas de herói ou anti-herói, pares românticos e vilões) ou para corrigir os rumos do jogo. Discussões, barracos e brigas são estimulados –mas racismo, assédio e outros crimes podem gerar muitas reações negativas na audiência e afetar o humor dos patrocinadores.
O público tem a palavra final. Mas o caminho até lá é cheio de interferências e injustiças, como sempre foi e como sempre vai ser.
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