'Os Incríveis 2' chega aos cinemas com cenas de ação e tema feminista
A sequência da animação estreia nesta quinta nas salas brasileiras
Após 14 anos da estreia, a sequência de “Os Incríveis” chega amanhã aos cinemas. Em 2004, o filme original fez sucesso mundial. Era atraente às crianças e também aos adultos. A continuação surge agora ainda mais direcionada a espectadores grandinhos.
Quem tem filhos pequenos pode levá-los sem receio algum a uma sessão. Há um bom punhado de cenas de lutas e perseguições que vão deixar os garotos ligados na tela. Mas será difícil para eles acompanhar a trama que fala sobre inclusão social, crise econômica e da força da propaganda e das mídias sociais.
Para quem não viu o filme original, vale explicar que os Incríveis são o pai megafortão, Sr. Incrível, a mãe, Mulher-Elástica, a adolescente Violeta (que pode ficar invisível e criar campos de força), o garoto superveloz Flecha e o bebê Zezé, que dava pistas de ter superpoderes, ainda adormecidos.
No segundo filme, a família está sem dinheiro, há leis que impedem os heróis de agir no combate ao crime, e Violeta está enfrentando problemas na vida escolar. Então, um investidor milionário procura os Incríveis oferecendo ótimo salário e um plano de marketing para que eles voltem à ativa.
Mas a estratégia é concentrada na Mulher-Elástica, que teria maior apelo junto ao público. Ela parte sozinha para as missões, e um desolado e frustrado Sr. Elástico fica com a incumbência de cuidar da casa e dos filhos, o que acabará se revelando tão ou mais perigoso do que enfrentar vilões. O filme é divertidíssimo.
O novo cenário hollywoodiano, com a eclosão dos movimentos feministas, provocou transformações na Pixar, estúdio em que a animação foi feita. “As mulheres que trabalham lá sentem que podem levantar a mão e fazer sugestões. Antigamente, não era assim”, diz a produtora Nicole Grindle. “Elas sempre tiveram permissão para falar, mas agora se sentem à vontade.”
Em novembro, uma notícia abalou o estúdio: John Lasseter, cofundador da Pixar e um dos nomes mais importantes da animação, foi acusado de assédio sexual, o que culminou em sua saída da empresa. A trama de “Os Incríveis 2” segue essa tendência de igualdade de gêneros.
Quando o primeiro “Os Incríveis” chegou aos cinemas, em 2004, os super-heróis ainda não eram levados a sério em Hollywood. Apesar de alguns lampejos, o gênero amargava fracassos. Assim, a animação de Brad Bird pousou em um terreno fértil ao mostrar uma família que se dividia entre banalidades cotidianas e batalhas contra supervilões.
“Os Incríveis” foi indicado a dois Oscar –venceu na categoria melhor animação– e rendeu US$ 633 milhões no mundo (R$ 2,38 bilhões). Quatorze anos depois, “Os Incríveis 2” encara um cenário diferente. Hoje, o cinema pop americano basicamente vive de adaptações de histórias em quadrinhos: só neste ano, as bilheterias somadas de “Pantera Negra”, “Vingadores: Guerra Infinita” e “Deadpool 2” representam mais do que o valor total dos outros 20 filmes mais vistos de 2018.
A saturação do mercado, no entanto, não atrapalhou. Em dez dias de exibição nos EUA, o desenho rendeu US$ 350 milhões (R$ 1,31 bilhão) e bateu o recorde de fim de semana de estreia de uma animação, com US$ 182 milhões (R$ 685,4 milhões) –contra US$ 135 milhões (R$ 508,4 mi) de “Procurando Dory” (2016).
ALERTA DE RISCO DE CONVULSÃO
Nos EUA, "Os Incríveis 2" ganhou destaque além dos recordes de bilheteira. A Pixar, responsável pela distribuição do longa, colocou um aviso antes do filme, afirmando que ele poderia causar convulsões. A animação, que já está no circuito americano de cinemas, recebeu críticas do público pelo risco de causar ataques. A Disney Brasil não comentou se o mesmo alerta estará no filme exibido aqui. As reações são provocadas por cenas em que há efeitos de luzes intermitentes.
“É a chamada epilepsia fotossensível. Quem não sofre disso não corre risco nenhum de ter um ataque”, tranquiliza Marlon Figueiredo, professor de pós-graduação em neurologia do Instituto de Pesquisa e Ensino Médico. “Quem já teve esse problema, no entanto, precisa de avaliação e de tratamento individualizado”, completa.
“É uma espécie de curto-circuito que dá no cérebro que tem um foco irritativo. É uma característica física do cérebro, e pode acontecer mesmo em cenas de pouca duração”, diz o psicólogo e especialista em programação neurolinguística Roberto Debski.
Diretor da Sociedade Brasileira de Neurologia, Fernando Gomes Pinto conta que não há como evitar. “O melhor é que essas pessoas não vejam cenas com luzes piscantes demais. O sono também é um fator desencadeador da convulsão, então, se o epiléptico não dormiu bem na noite anterior, deve passar longe dessas imagens.”
ROTEIRO ELOGIADO PELOS FÃS
A família de heróis ainda cativa os fãs, que aguardaram a sequência. “O filme original me chamou a atenção porque enfatiza a importância da família unida. E este mostra uma luta que as mulheres travam o tempo todo”, diz a estudante Bianca Tedeschi, 21. Ela diz que a história passa longe de ser infantil demais. “Diverte e ainda mostra valores. Tenho amigos, até mais velhos do que eu, que não veem a hora de ver’.”
A digitadora Maria Augusta Tavares, 29, concorda que a história é para todos. “Mesmo sendo sobre uma família de heróis, o filme tem a ver com as nossas vidas. Trata de uma situação moderna, que ocorre em qualquer casa.”
O longa inspira até profissionais. Penha Maia, 52, estilista da marca Pó de Arroz, é fã de Edna Moda, personagem estilista do filme. “Ela é maravilhosa! Tem cortes precisos, que passam personalidade.”
"HOMEM CUIDAR DA CASA NÃO É MAIS TÃO TABU"
A vida real tem as suas Mulheres-Elásticas, como a heroína do filme “Os Incríveis 2”. Na animação, ela salva o mundo enquanto o marido cuida da casa e dos filhos. A pesquisadora Evelin Xavier, 34, vive assim com o marido, Edson, há cerca de um ano. “Nós dois fazíamos a nossa casa de escritório, mas chegou um momento em que eu precisei trabalhar fora. Aí ele ficou como dono de casa.”
Evelin conta que todos ao seu redor encararam com naturalidade o fato de ela trabalhar fora e o marido cuidar de tudo. “Não ouvimos nada de ninguém, o que é bom. Isso significa que essa ideia não é mais tão tabu quanto antes.” Ela ainda diz que o casal não planeja mudar de situação. “Estamos confortáveis, e eu só vejo vantagens. Com isso, sei que, por exemplo, a nossa filha está segura”, afirma ela.
A supervisora de suporte Joana D’arc Valério, 53, passou por situação diferente. Há 23 anos, quando a sua filha nasceu, o marido, José Antônio, perdeu o emprego. Na época, ela propôs que ele ficasse em casa para cuidar da menina, o que foi aceito sem problemas por ele.
Algumas pessoas que conheciam o casal, porém, não viram com bons olhos a decisão. “Ouvimos muitas piadinhas nos primeiros três anos. Mesmo a minha família tinha dificuldade para aceitar essa realidade. Mas sempre fomos unidos e não ligamos para todo o falatório”, lembra Joana.
Depois que a garota cresceu, José trabalhou algumas vezes fora, mas voltou à antiga rotina para cuidar do pai de Joana, que ficou doente. “Hoje, meus familiares agradecem pelo que ele fez. Fico feliz em saber que o fato de o homem trabalhar em casa já não causa tanto estranhamento.”
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