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Cinema e Séries
Descrição de chapéu The New York Times

Cenas de sexo estão de volta aos cinemas, mas por que elas não são exatamente sexy?

Em filmes como 'Anora' elas refletem dinâmicas complexas e dizem muito sobre os envolvidos

Cena do filme 'Anora', de Sean Baker - Divulgação
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Esther Zuckerman
The New York Times

De vez em quando, surge um debate tedioso nas redes sociais: as cenas de sexo são realmente necessárias nos filmes? Dizem que a Geração Z quer ver menos delas. E, no entanto, a resposta é clara se os concorrentes desta temporada de premiações tiverem algo a dizer: sim, o sexo é crucial para o cinema.

Os filmes em discussão estão cheios de sexo. "Anora" gira em torno de uma trabalhadora do sexo, e mostrá-la no trabalho é central para a narrativa. "Babygirl" é sobre uma mulher explorando os desejos que considera vergonhosos. Até "Nosferatu" é em grande parte sobre sexo: a releitura de Robert Eggers do clássico conto de vampiros centra-se nos desejos das presas do conde morto-vivo, Ellen.

Mas nenhuma das cenas de sexo nestes e em outros filmes recentes é emocionalmente clara. Qualquer excitação que possam inspirar vem com um asterisco: os diretores estão usando os momentos para explorar dinâmicas de poder complexas entre os personagens. Essas cenas são feitas para gerar discussão, não excitação. Cinco delas fazem isso especialmente bem (confira abaixo).

‘ANORA’: O RAPIDINHA

A primeira metade de "Anora" de Sean Baker se desenrola, de muitas maneiras, como uma comédia romântica tradicional. Um par incompatível —a trabalhadora do sexo Ani (Mikey Madison) e o herdeiro oligarca Ivan (Mark Eydelshteyn)— se encontra e depois se casa após um rápido namoro. Mas suas cenas de sexo estão longe de ser românticas. Em vez disso, são quase inteiramente voltadas para a comédia. Veja a primeira vez que Ani vai à mansão de Ivan. O sexo é transacional —afinal, ele está pagando por isso—, mas também é extremamente rápido.

Madison gerou controvérsia quando disse à Variety que recusou usar um coordenador de intimidade no set. Em uma entrevista ao New York Times, ela descreveu o trabalho para mim mais como "tomadas de sexo" do que cenas de sexo. Isso é fiel ao momento na tela: a relação sexual em si dura cerca de 10 segundos. Ivan chega ao orgasmo muito rapidamente e Ani sufoca uma risada. A próxima coisa que você sabe, Baker corta para Ivan ligando a TV. Ele está satisfeito; para ela é apenas mais um dia no proverbial escritório. A interação parece uma piada e o público deve rir.

Aqui Baker está estabelecendo as dinâmicas desiguais. Ani é muito mais experiente sexualmente, mas isso não compensa o fato de que a riqueza de Ivan significa que ela está completamente à mercê dele. Ani não está ciente disso inicialmente, mas quando a realidade da situação se torna evidente na segunda metade do filme e Ivan foge ao primeiro sinal de ameaça dos pais, ela percebe o quão pouco controle tem sobre ele.

‘NOSFERATU’: O FINAL

O grande final de "Nosferatu", de Robert Eggers, gerou debate desde que o filme foi lançado: é romanticamente distorcido? Ou brutalmente horrível? Ou algo entre os dois?

À medida que a peste se espalha em sua cidade, Ellen (Lily-Rose Depp) percebe que a única maneira de parar o reinado de terror desencadeado pelo Conde Orlok (Bill Skarsgard) é se sacrificar para ele. Isso significa mantê-lo com ela até o amanhecer. Enquanto seu marido sai em uma busca inútil pensando que está caçando o vampiro, ela veste um vestido de noiva e recebe Orlok em seu quarto. Ela se despe e, enquanto ele afunda os dentes em seu peito, ela parece em estado de êxtase. Quando ele começa a notar o sol, ela levanta a mão para acariciar seu rosto mais uma vez. Enquanto eles jazem mortos nos braços um do outro, flores cercando seu cadáver ressecado sobre o dela ainda jovem, eles parecem menos vilões do que amantes trágicos.

Claro que o fato de Orlok ser um sugador de sangue de séculos e Ellen ser uma jovem levanta questões de consentimento, especialmente considerando como ele possuiu sua mente e corpo. Mas Eggers deixa claro que ela está agindo por vontade própria aqui, e que seu desejo não pode ser facilmente explicado ou definido. Quando ela conheceu Orlok no passado, ela experimentou prazer com ele; o mesmo é verdade em seu abraço final.

‘BABYGIRL’: O ENCONTRO NO HOTEL SÓRDIDO

Quando Romy (Nicole Kidman) e Samuel (Harris Dickinson) se encontram pela primeira vez em um quarto de hotel em "Babygirl" de Halina Reijn, eles não têm ideia do que estão fazendo. Romy, a diretora-executiva de uma empresa de robótica, parece em descrença por ter chegado a esse lugar, toda vestida com uma blusa transparente. Samuel, por sua vez, está igualmente perplexo enquanto tenta desempenhar a dominação que percebeu, corretamente, que Romy deseja. Ambos parecem achar sua situação um pouco engraçada. Quase toda a cena é preliminar até que Reijn foca no rosto de Kidman enquanto ela está deitada no tapete e Samuel alcança sua mão sob a saia dela.

O roteiro de Reijn é específico sobre a natureza confusa de sua interação. Romy está ciente de que poderia ser vista como explorando Samuel. Afinal, ela é mais velha e literalmente sua chefe. Ela tenta manter aquele ar de autoridade, repreendendo-o por sua audácia. A resposta de Samuel, no entanto, é uma provocação: se ele revelar o que está acontecendo, ela poderia perder sua família e seu emprego. Mas Reijn não deixa Romy sem agência. Aquele close de seu rosto enquanto ela atinge o orgasmo prova que, embora goste de ser mandada sexualmente, o próprio ato de receber prazer é empoderador para ela. Há vergonha, mas também triunfo.

‘QUEER’: O PRIMEIRO ENCONTRO

O desespero transborda de cada quadro do primeiro encontro sexual entre Lee (Daniel Craig), um escritor alcoólatra, e Allerton (Drew Starkey), o jovem objeto de sua fascinação, em "Queer" de Luca Guadagnino.

Em 1950, na Cidade do México, o distante Allerton, na casa de Lee pela primeira vez após uma noite de bebedeira, vomita no banheiro e depois se senta na cama. Em sua intoxicação, ele convida a fome de Lee por ele. Lee aproveita a oportunidade para fazer sexo oral em Allerton. Guadagnino filma isso como se Lee estivesse adorando no altar do personagem de Starkey. Lee é ganancioso em seu consumo físico, mas Allerton olha para ele com uma mistura de luxúria, pena e autoridade. Quando Allerton retribui, ele se inclina sobre Lee, deixando claro que o homem mais velho está completamente sob seu controle.

É um olhar que fala do vínculo desconfortável entre esses dois. Allerton mantém Lee à distância e Lee o persegue vorazmente. Esse momento inicial que testemunhamos está cheio de desejo e, embora não seja exatamente unilateral, está cheio de desequilíbrios que nos desorientam. E, simbolicamente, o que significa o vômito? Allerton precisava purgar antes de deixar Lee agir?

‘RIVAIS’: A SESSÃO DE BEIJO A TRÊS

Uma reclamação que ouvi sobre "Rievais" é que, embora o filme tenha sido aclamado como sexy, não há tantas cenas de sexo reais. Na verdade, só uma vez fica claro que ocorre relação sexual: quando Tashi (Zendaya) se encontra com seu ex, Patrick (Josh O’Connor), em seu carro na noite anterior à sua partida contra o marido dela, Art, que por acaso é seu ex-melhor amigo (Mike Faist). Mesmo nesse encontro, os momentos mais explícitos acontecem fora da tela. Eu argumentaria que a falta de cenas de sexo completas é intencional —o diretor, Luca Guadagnino novamente, guardou a energia erótica mais intensa para a quadra de tênis.

Exceto, é claro, na cena muito comentada perto do início do filme, quando Tashi, Patrick e Art, ainda adolescentes, se encontram em um quarto de hotel durante o US Open. Ela convida os rapazes a se sentarem de cada lado dela e começa a beijar cada um. Ela então os convida a beijar seu pescoço ao mesmo tempo, antes de eventualmente empurrar seus rostos juntos e se recostar para assistir, um sorriso malicioso se espalhando por seu rosto. Eles se perdem até que ela quebra o feitiço. Isso é o que o sexo é para ela: um jogo, assim como o esporte no qual ela se destaca.

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