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Cinema e Séries
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'Guardiões da Galáxia - Vol. 3': James Gunn se diz aliviado por encerrar trilogia

'Eu fui muito, muito cuidadoso em todos os filmes', afirma

O roteirista, ator e diretor James Gunn - Alana Paterson/The New York Times
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Kyle Buchanan
The New York Times

Quando um filme é anunciado como a última parte de uma trilogia, os fãs não podem deixar de especular: Quem vai morrer? Uma franquia de grande sucesso de bilheteria raramente termina sem algumas baixas significativas, e cada nobre sacrifício ressalta o fim definitivo que está por vir.

Mas no caso de "Guardiões da Galáxia Vol. 3", o diretor e roteirista James Gunn queria terminar a trilogia em seus próprios termos, mesmo que isso significasse contornar as expectativas dos fãs. (Spoilers importantes à frente.)

A coisa mais surpreendente sobre a conclusão dessa longa série da Marvel é que todos os personagens principais sobrevivem e até prosperam. Peter Quill (Chris Pratt) retorna à Terra, o planeta natal que ele evitava visitar desde a infância, e transfere a liderança dos Guardiões para Rocket Raccoon (dublado por Bradley Cooper), que forma uma nova equipe com Groot (dublado por Vin Diesel) e seu antagonista regenerado Adam Warlock (Will Poulter). Nebula (Karen Gillan) e Drax (Dave Bautista) ficam para trás para ajudar os cidadãos e colonos que se mudaram para a movimentada base espacial de Knowhere, enquanto Mantis (Pom Klementieff) parte em uma jornada solitária para entender melhor a si mesma.

E Gamora (Zoe Saldaña)? Bem, sua trajetória no universo Marvel tem sido complicada: a Gamora que conhecemos originalmente foi assassinada por seu pai, Thanos, em "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e, em seguida, substituída por uma variante que viaja no tempo e não tem um histórico com os Guardiões. Essa nova versão é obrigada a ajudar os Guardiões em "Guardiões da Galáxia Vol. 3" e, apesar de entender o que a outra Gamora talvez sentisse por Quill, que continua apaixonado, ela não consegue chegar lá e se despede do grupo com um adeus agridoce.

Todos os finais oferecem a sensação de novos começos, e isso é um reflexo da profunda afeição que Gunn sente por seu grupo: ele quer o melhor para esses personagens, especialmente Rocket, com quem admite ter uma "estranha conexão". Ele já tinha muitos desses desfechos em mente desde que escreveu o primeiro "Guardiões da Galáxia" (2014), embora tenha havido um momento em que se perguntou se conseguiria levá-los a cabo: quando a pré-produção de "Guardiões da Galáxia Vol. 3" estava começando, ele foi demitido do projeto, por um breve período, devido a uma polêmica envolvendo tuítes antigos.

Embora a Disney tenha decidido recontratar Gunn, a produção do filme teve que esperar. Ele havia assinado com a Warner Bros. e DC Comics para dirigir "Esquadrão Suicida", e o relacionamento que estabeleceu com o novo estúdio se provou tão frutífero que Gunn agora supervisionará uma reformulação total da lista de filmes da DC, que começará por uma nova versão do Super-Homem, dirigida por ele. Isso significa que "Guardiões da Galáxia Vol. 3" não é apenas o fim de uma trilogia, mas o ápice da década de trabalho de Gunn para a Marvel.

Como ele se sente agora que tudo isso chegou ao fim? "Triste e orgulhoso", disse o diretor por telefone, enquanto se preparava para discutir o final de "Guardiões da Galáxia Vol. 3" em profundidade. "Mas sinto que fizemos o que nos propusemos a fazer, e acho que não poderíamos ter feito melhor".

Todos os Guardiões da Galáxia sobrevivem ao filme e seguem novos caminhos. Você já se sentiu tentado a levar algum desses personagens a um fim mais definitivo?

Gamora morreria, originalmente, em "Guardiões da Galáxia Vol. 2" [2017], e depois conversamos sobre isso acontecer em "Vingadores: Guerra Infinita", o que funcionou melhor para a história. Mas, com relação aos demais, eu sempre soube para onde eles estavam indo. Eu sabia que toda a trilogia trata de como Rocket, sobre quem costumamos pensar como personagem coadjuvante, se torna o capitão dos Guardiões.

A história de Peter Quill, de certa forma, pode ser encarada como a de muitas pessoas que sofreram traumas na infância. Ele estava à cabeceira da cama de sua mãe quando ela morreu, e depois fugiu e foi para o espaço sideral -o que, no caso de outras pessoas, poderia ser entendido como 'se desligou do mundo'- e ficou lá por muito tempo até que, já adulto, percebeu que precisava voltar para a Terra. Para mim, essa sempre foi sua jornada.

Nebula se torna uma líder, mas um tipo de líder diferente do que ela era até ali. Mantis decide partir por conta própria e cuidar de si mesma, porque sempre viveu sob as regras alheias. Drax percebe que é pai e que é nisso que ele é realmente bom -ele não é um destruidor. Todas essas coisas, algumas mais claramente do que outras, estavam em minha mente desde o primeiro filme.

Poucas séries da Marvel foram tão afetadas pelos eventos de "Vingadores: Guerra Infinita’" e "Vingadores: Ultimato" quanto "Guardiões da Galáxia". O que você achou de ter muitos pontos importantes da trama acontecendo fora dos filmes de sua própria trilogia?

Muitos? Acho que houve apenas um.

Bem, a morte de Gamora é o maior deles, mas até mesmo o primeiro beijo dela com Quill acontece em "Vingadores: Guerra Infinita", depois que os dois primeiros filmes dos "Guardiões" parecem estar preparando o terreno para isso.

Eu implorei para que eles dessem esse beijo no filme, porque era necessário para realmente consolidar o relacionamento deles. Eu tinha um beijo em 'Guardiões da Galáxia Vol. 2', e o cortei; era uma cena incrível, mas acontecia em um momento estranho. No final de 'Guardiões da Galáxia Vol. 2' fica estabelecido de forma bem clara que eles têm sentimentos um pelo outro, mas em 'Vingadores: Guerra Infinita', precisávamos estabelecer que eles agora são namorados e que aquilo era uma coisa normal para eles. Não se tratava realmente do beijo; tratava-se de mostrar que eles agora eram um casal.

Houve alguma ideia de que Gamora não voltaria de forma alguma em "Guardiões da Galáxia Vol. 3" e Quill teria de lidar com sua ausência?

Essa era uma possibilidade, sim. Ele estaria lidando com a perda dela, mas ela não voltaria e ele teria de encarar essa perspectiva diferente. Brinquei muito com isso quando estava escrevendo o roteiro.

Em outro tipo de filme, a nova Gamora também teria se apaixonado por Quill. Em vez disso, Quill aprende a conhecê-la e acaba percebendo que precisa deixar seu amor de lado.

Isso é algo que fazemos muito em relacionamentos: esperamos que alguém que nos faz lembrar de uma pessoa do passado seja esse alguém do passado. Especialmente com relação às mulheres, Peter Quill define as pessoas ao seu redor de forma a atender suas próprias necessidades, em vez de olhar para elas e ver quem são realmente são como seres humanos. E Gamora simplesmente não é a mesma Gamora. Ela é uma pessoa diferente.

Há alguns momentos em que parece que você está testando a química entre Quill e Nebula, que é intrigantemente espinhosa. Você chegou a pensar em ir além disso com eles?

Nunca pensei em ir muito além, mas acho que Nebula, emocionalmente, é uma espécie de colegial malvada que não demonstra seus sentimentos a ninguém. Karen acha que Nebula tem uma quedinha por Quill que ela não sabe muito bem como resolver, e isso faz sentido porque, quando chegamos a eles em 'Guardiões da Galáxia Vol. 3', percebemos que são os dois líderes dos Guardiões. Acho que é muito normal, em qualquer amizade íntima, ter algum tipo de sentimento romântico ou de paixãozinha ocasional.

Quando você estava elaborando os finais de todos esses de personagens, em que medida precisa levar em conta a vontade do ator de continuar no papel? Por exemplo, Dave Bautista se manifestou diversas vezes para dizer que não voltaria ao papel. Isso afetou a maneira como você encerra a história de Drax, em contraposição à história de Quill, já que Chris Pratt está disposto a continuar?

Sim, um pouco. Tanto Zoe quanto Dave deixaram bem claro que não vão continuar -assim como eu, na verdade. Chris está disposto a fazer mais coisas, embora eu ache que ele precisará ser convencido. Isso muda algumas coisas: Por exemplo, eu não teria mostrado Dave na cena pós-letreiros. Mas não tenho certeza se muita coisa teria mudado além disso.

Em que momento da concepção de tudo isso você soube que queria encerrar a trilogia com uma sequência de dança ao som de "Dog Days Are Over", de Florence + the Machine? É muita responsabilidade ser a última música de uma franquia tão cheia de canções.

Eu já sabia disso há alguns anos. Já sabia muito antes de começar a escrever o roteiro, desde que estava escrevendo 'Guardiões da Galáxia Vol. 2'. Sou fã desse álbum e dessa canção desde que foram lançados, e é muito legal porque acabei de receber um e-mail de Florence Welch, que postou um vídeo no TikTok ontem que a mostrava assistindo ao filme e chorando. Acho que é provavelmente a melhor canção pop do século 21.

Nos filmes anteriores, você mesmo se encarregou de dançar diante das câmeras para captura dos movimento do Groot. Você também fez isso na cena com "Dog Days Are Over"?

Sim, e foi um ponto alto em minha vida, na verdade. Meu irmão Sean faz a dança para capturar os movimentos de Rocket e o momento em que estávamos filmando a cena em plano geral e dançando um para o outro foi surreal, lindo e maravilhoso. Nós brincávamos com os bonecos da Fisher-Price desde que éramos crianças no porão da casa de nossos pais, e naquele dia estávamos no maior set que já vi, com brinquedos Tinker Toy gigantes em vez de pequenos, mas com a mesma pureza de imaginação que tínhamos quando crianças. Todo mundo chorou enquanto aquilo estava acontecendo. Foi um momento realmente forte.

Você dirigiu todos os três filmes dessa trilogia, o que é uma raridade na Marvel. Você sabia desde o início que queria estar no comando para toda a história?

Sim. Todo mundo sabe que fiquei fora por um tempo, mas depois voltei, e o motivo pelo qual voltei -porque, francamente, talvez não tivesse voltado de outra forma- é que eu precisava contar a história de Rocket. Eu não podia guardar aquelas coisas dentro de mim sem expressá-las. Tenho uma estranha conexão com esse personagem e sinto que ele merece tudo.

É a história de um personagem que deixa de ser um pequeno ladrão contrabandista para se tornar o líder da maior equipe que o universo já conheceu. E sua história de origem, a dor de onde ele veio, todas as sementes que lancei no filme original quando Peter Quill vê os ferimentos em suas costas, todas aquelas coisas estavam conduzindo a algo, e me pareceu que cortá-las ali seria atrofiá-las. Parecia que eu tinha preparado tudo aquilo e não terminaria. Era uma pílula difícil de engolir para mim.

A maioria desses personagens começou a trilogia em um lugar mais egoísta, mas poucos deles tiveram mais a avançar do que Rocket.

Eu fui muito, muito cuidadoso em todos os filmes, incluindo os filmes dos 'Vingadores" e "Thor' e tudo mais, para que Rocket nunca fizesse coisa alguma que fosse para alguém que não ele mesmo ou seus amigos. Ele não é um herói como os outros.

Moralmente, ele é muito mais atrofiado do que Nebula no final da série 'Vingadores'. Ele simplesmente se isolou completamente do sentimento pelas pessoas e, no final de 'Guardiões da Galáxia Vol. 3', no momento em que ele se aceita, ao acolher os guaxinins, e começa a olhar em volta das gaiolas, esse é o momento em que ele vê: 'Oh, meu Deus, tudo sou eu. Somos todos parte deste universo, e cada vida tem um propósito, um significado e é digna de respeito'. É nisso que ele se transformou agora: Deixou de ser um cara mau e é estritamente um cara bom.

Então, o que significa para você o fato de Rocket ser o líder da equipe no final do filme, assim como você está se tornando o líder na DC? Você teve de passar por sua própria jornada para chegar a um ponto em que se sentisse confortável com esse tipo de responsabilidade?

Oh, não há dúvida de que minha jornada é semelhante à de Rocket. Quando o assunto é esse, eu costumava afastar as outras pessoas. Aceitar a mim mesmo como sou e aceitar o amor de outras pessoas é algo com que eu venho enfrentando dificuldades ao longo dos anos e que aprendi a aceitar muito mais do que no passado.

Agora que você conseguiu contar essa história, qual é o sentimento predominante? Satisfação? Alívio?

Satisfação, alívio e apenas um tapinha gentil em minhas próprias costas dizendo: 'OK, agora temos a próxima fase a trabalhar e estou confortável para fazer isso'. O que quer que a Marvel faça com esses personagens, mal posso esperar. Espero que eles os usem. Mal posso esperar para ver outro cineasta assumir os Guardiões, e espero que faça isso de uma forma que o torne proprietário desses personagens. Mas me sinto bem, me sinto feliz.

Fazer as amizades que fiz nessa série de filmes e ter pessoas em minha vida que são meus aliados mais próximos -quero dizer, estive em cinco casamentos dos Guardiões. Estive no casamento do Chris. Chris discursou em meu casamento. Pom foi uma das damas de honra de Karen. É um ótimo grupo de pessoas e eu tenho muita, muita sorte.

Tradução de Paulo Migliacci

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