'No Mundo da Luna': Marina Moschen conversa com as cartas e brinca com o horóscopo diário
Com trama leve e fantasiosa, adaptação de livro de Carina Rissi chega à HBO Max
Tem quem odeie, mas muita gente não passa sem. O horóscopo diário, aquele que costuma ocupar um espacinho em jornais ou tem destaque em sites especializados, costuma despertar a curiosidade dos leitores. Afinal, como é feito?
A série "No Mundo da Luna", que estreia neste domingo (13) na HBO Max, responde em parte a essa dúvida. Na trama, a jornalista recém-formada Luna (Marina Moschen) quer escrever reportagens sérias, mas só consegue ser contratada para prever o futuro do público.
Conta a seu favor a origem cigana, embora ela até então não ligasse muito para as tradições de seu povo. Sem saber por onde começar, ela rouba as cartas de tarô da avó, que —em uma abordagem algo mais fantasiosa que no dia a dia das redações— passam a falar diretamente com ela, ditando o que deve ser escrito.
"Eu comecei a me interessar por esse mundo da astrologia, das cartas e do esoterismo depois da série mesmo", confessa ao F5 a atriz (libriana, com lua e ascendente em escorpião) que vive a protagonista. "Sempre leio meu horóscopo, vejo o do meu signo solar, do meu ascendente, da minha lua e vou vendo o que se encaixa e o que não vale para o meu momento de vida."
"Mas comecei a me interessar mais durante o processo de construção da personagem, durante o qual eu conheci alguns tarólogos", explica. "Só aí que eu comecei a entender de fato essa conexão de quem realmente acredita, que quando tem alguma dúvida sobre que caminho seguir, ouve o que as cartas têm a dizer."
A personagem aparece dividida entre dois amores. Um deles é Vini, que ela conhece desde a infância e que é seu "primo", como as pessoas de ascendência cigana costumam se tratar. Ele é interpretado por Romaní (antes conhecido como Enzo Romani), ator que também é filho de mãe cigana.
"Eu falo e repito quantas vezes forem necessárias que o Roberto [d'Avila, diretor] e toda a equipe da Moonshot [produtora do conteúdo], junto com a Carina [Rissi, autora do livro que inspirou a série], tiveram um cuidado muito grande com a cultura cigana, de tentar representar ao máximo dentro de um clima leve", avalia.
"O nosso povo tem muita história de sofrimento, de dificuldade", lembra. "A série não chega a entrar nesse ponto especificamente e também não fala muito de questões necessariamente políticas, mas só o fato de ter a representatividade já é uma coisa política muito importante para nós, sabe? Então, já falei para todos os meus primo e tios verem, e estão todos muito animados."
O outro vértice do triângulo é o editor Dante (Leonardo Bittencourt), que trata de assuntos mais sérios dentro da mesma empresa. O ator diz que não chegou a fazer laboratório em redações, mas que é bastante próximo desse meio.
"Tenho muitos amigos jornalistas, eu fiz curso de publicidade e dividia algumas matérias com jornalismo, então acabei conhecendo muita gente do meio e sei, pelo convívio, das histórias e das dificuldades", conta. Ele lembra que uma das questões por que os profissionais da área passam é a migração dos meios impressos para o digital.
"O Dante vem de uma escola mais tradicional de jornalismo e é um pouco mais fechado para essas novidades", afirma. "Eu acho legal que isso está dentro do conflito da série. Ele de alguma maneira acaba abrindo a cabeça e tentando se convencer a conhecer outros mundos. Principalmente um mundo completamente diferente do dele, que é esse universo dos ciganos e do misticismo em geral."
Roberto d'Avila conta que um dos desafios da direção foi que a forma bem-humorada com que os temas foram tratados funcionasse na tela. "O humor quando dá certo parece fácil e muito natural, mas é o gênero que eu considero mais difícil", comenta.
"Humor é ritmo, e isso parte de um texto muito preciso e trabalhado", prossegue, acrescentando que os ensaios também foram importantes para entender como essas palavras iam sair da boca dos atores. "A série tem um tom muito particular, diferente de outras coisas de comédia que foram feitas no Brasil, mas acho que conseguimos chegar num lugar de conforto e de leveza, sem abrir mão, quando necessário, dos dramas dos personagens."
A atmosfera leve é uma das características do livro homônimo, sucesso no segmento "jovens adultos", que deu origem à série. Porém, a adaptação não foi tão literal e procurou fazer as mudanças que a equipe achou necessárias para que a obra, lançada em 2015, funcionasse no audiovisual.
"Nós mantivemos os fundamentos, as características dos personagens, os dramas, as relações que a empresa onde eles trabalham propunham, mas é um livro escrito há alguns anos, então tem algumas adaptações que são naturais", avalia. "O que era uma revista impressa, por exemplo, virou um portal de internet."
"Tudo vem de encontro a fazer uma obra contemporânea, que fala com as pessoas de hoje", defende. "Nós mantivemos a essência que é uma jovem adulta procurando o seu primeiro emprego, procurando o seu lugar no mundo, com toda a sua ideologia. E também mantivemos o triângulo amoroso que é o fio condutor da trama."
Mesmo assim, alguns dos leitores mais fanáticos poderão perceber diferenças em alguns personagens. Bruna Inocencio e Priscila Lima, que fazem respectivamente Sabrina e Bia, duas amigas de Luna, contam que as personagens lembram pouco as versões que apareciam na obra literária.
"Eu conhecia a Carina [Rissi] por 'Perdida', que eu li há muitos anos, e comecei a ler 'No Mundo da Luna para série", diz Inocencio. "Mas parei porque eu vi que a Sabrina da série e Sabrina do livro eram completamente diferentes."
Lima diz que sua reação foi parecida. "Eu nunca tinha lido o livro, sabia que era um grande sucesso, mas não é meu estilo de leitura", conta. "A gente conversou sobre isso e foi meio que uma decisão geral de focar na série para a gente não fazer uma confusão louca."
Já Marina Moschen diz que procurou confiar em sua própria visão de Luna, sem temer que ela não coincidisse com a dos leitores. "Eu acho muito bonito ver a interpretação que cada um tem sobre a personagem", afirma. "Eu fiz a Luna da forma que eu a vi, mas cada pessoa que leu tem o seu entendimento. É um livro muito importante para muitas pessoas, então, mais do que um medinho de que talvez a interpretação do público seja diferente da minha, eu sinto uma honra de estar fazendo a Luna."
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