'Ligações Perigosas': Passado de Valmont e marquesa de Merteuil é explorado em série
'Não vale à pena se comparar à Glenn Close e ao John Malkovich', diz atriz da nova versão
Escrito no final do século 18, "Ligações Perigosas" ganha novas adaptações para as telas de tempos em tempos. Da versão premiada de Stephen Frears, lançada em 1988, à minissérie da Globo, com Selton Mello e Patricia Pillar, em 2016, passando pelo pop "Segundas Intenções" (1999), a trama de vingança e sedução continua atual cerca de 230 anos depois.
Tanto que seus personagens mais icônicos, o visconde de Valmont e a marquesa de Merteuil, terão seus passados explorados em uma série homônima, que estreia neste domingo (6) no serviço de streaming Lionsgate+. Um novo episódio será adicionado à plataforma a cada semana.
O recorte pouco usual adotado pela produção foi pensado pela roteirista Harriet Warner, ao ler a carta de número 81 do romance epistolar. "É um manifesto da marquesa de Merteuil falando sobre como ela se construiu, sobre como ela sublimou cada desejo e sentimento para se esconder por trás de toda a aparente virtuosidade", avalia.
"Isso funciona para ela como uma fachada que permite que ela sobreviva nesse universo da nobreza", continua. "Eu pensei: 'Caramba, essa mulher não é deste mundo'. Ela precisava de todas essas ferramentas só para manter a posição dela. Mas, então, comecei a pensar em quem ela era antes de se tornar aquilo. E essa foi a chave para a série."
Warner havia sido convidada pelo produtor executivo Colin Callender (ex-executivo da HBO, sob cuja gestão a companhia ganhou mais de 130 prêmios Emmy) para apresentar uma ideia para a adaptação. "Tem um motivo para títulos como 'Ligações Perigosas' sempre fazerem parte da conversa e atravessarem gerações", diz ele. "A temática é perene, então eu quis revisitar a história. Sabia que ela ainda tinha muito apelo, e estava particularmente interessado em fazer uma história sobre a marquesa, mas não sabia o quê."
Apesar de não ser uma adaptação direta da trama escrita por Pierre Choderlos de Laclos, a roteirista diz que os fãs do livro vão reconhecer muitos elementos. "A história da primeira temporada tem muitos fios narrativos que a ligam à obra original", conta. "Talvez a série subverta algumas expectativas, mas quem gosta do livro vai achar não apenas esses dois personagens extraordinários, mas a trama principal do romance e também algumas joias escondidas aqui e ali."
Os dois garantem que, quanto mais longe a série for, mais próxima ela vai chegar à história do livro, no qual os dois personagens são uma dupla cínica e manipuladora, que não tem pudores de usar os outros a seu bel-prazer, só por diversão. "Temos planos até a quinta temporada, só falta nos darem ok para fazermos", diz Callender. Uma segunda leva de episódios já foi confirmada pela Lionsgate+.
Para os papéis de protagonistas, após muitos testes, foram escolhidos os jovens Alice Englert e Nicholas Denton. "Não vale nem a pena se comparar à Glenn Close e ao John Malkovich, eles são incríveis", brinca Englert, lembrando os intérpretes dos personagens no filme de Frears. "Mas não me entenda mal, nós também somos bons (risos)."
"O que me conforta é que são papéis muito bons, que podem ser interpretados de diversas maneiras", afirma. "Também estamos fazendo eles em um momento anterior ao do livro, então podemos imaginar quem são essas pessoas e fazê-las do jeito que quisermos. Isso nos dá incontáveis opções. Nesse sentido, é um trabalho dos sonhos."
A atriz, que já conhecia a história original antes de se envolver no projeto, diz acreditar que a história segue atual por falar de vulnerabilidade e de uma tentativa desesperada de se blindar do mundo. Ela também avalia que o encontro entre os dois personagens é o que detona todos os sentimentos ruins que virão a seguir.
"O fato de eles se cruzarem é a melhor e a pior coisa que aconteceu um com o outro —e com toda a sociedade em volta", conta. "Às vezes penso neles como encarnações demoníacas que refletem toda a feiura da sociedade em que vivem, eles só absorvem e devolvem para o mundo."
Nicholas Denton lembra que a interação entre os dois tem muito de algo que hoje é falado mais abertamente. "Muitas das nossas conversas hoje em dia sobre relacionamentos são sobre toxicidade", diz. "É uma relação tóxica? Como são essas idas e vindas entre você e a pessoa com quem você se relaciona? Certamente, ali tem um elemento horroroso do tipo que aparece em toda dinâmica tóxica."
Para o ator, certamente Valmont e Merteuil são o combustível um do outro. "É como se um abastecesse o outro dessa energia inconsequente e sem remorsos que os faz seguir adiante e conseguir o que eles querem", avalia. "Eles precisam um do outro, há uma batalha bonita de se ver, que os ajuda a se projetarem."
Ele diz ainda que precisou procurar o charme do personagem, que gosta de seduzir a todos que cruzam o seu caminho, dentro de si. "Tem partes do Valmont que eu invejo e outras com as quais estou muito feliz de não ter nenhuma semelhança, mas acho que o que o torna tão magnético é sua franqueza e obstinação, ele é muito seguro de si."
"Eu não acho que sou o cara mais sexy do mundo", afirma. "Mas você meio que vira um símbolo sexual se muita gente acha que você parece sexy. Só digo que é preciso muito esforço. Até porque você não quer tentar ser sexy, porque aí você só vai parecer estúpido."
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