Simone Ashley, de 'Bridgerton', recorda cenas preferidas e desconfortáveis

Simone Ashley, 27, que interpreta a ferozmente independente Kate Sharma na segunda temporada de "Bridgerton", encontrou muito com que se relacionar em sua personagem –uma jovem que não tem tempo para o amor e enfrenta problemas quando se vê diante dele.

"Continuo na mesma jornada, aprendendo sobre o equilíbrio entre ser séria, corajosa, teimosa e leal, mas também dividindo espaços e me relacionando com as pessoas, permitindo que elas se aproximem", disse Ashley.

A nova temporada, que estreou na Netflix no final de março, está centrada em Kate e em sua irmã mais nova, Edwina (Charithra Chandran), que viajam com sua mãe da Índia para a Inglaterra a fim de encontrar um marido para a irmã mais jovem. Mas Kate termina desenvolvendo sentimentos por Anthony Bridgerton (Jonathan Bailey), o visconde que estava cortejando Edwina, e tenta ao máximo negar essas emoções.

Se bem que a nova temporada contenha um número de cenas quentes notavelmente inferior ao da primeira, os episódios ainda assim oferecem muitas fofocas suculentas, estilo extravagante e versões instrumentais de clássicos pop, além de diversos acenos na direção da cultura do sul da Ásia.

Ashley, que cresceu na Inglaterra, chegou ao sucesso com "Sex Education", comédia da Netflix que acompanha as vidas de alunos de uma escola de segundo grau, mas "Bridgerton" é a primeira ocasião em que ela interpreta um dos personagens principais em uma grande produção. Em uma entrevista por vídeo no começo de abril, Ashley falou sobre estabelecer uma química com seu principal colega de elenco e a importância da representação nas telas. A conversa abaixo foi condensada e editada.

Quais foram as suas cenas favoritas nesta temporada de "Bridgerton"?
Amo a cena em que Kate e Anthony dançam pela primeira vez. E a cena da picada de abelha –acho que ela marca uma grande virada na história. O que está em jogo se torna realmente sério, eles percebem que têm sentimentos um pelo outro, e que agora existe esse obstáculo que os impede de atingir tudo aquilo pelo que trabalharam até ali. E eu amo todas as cenas de equitação.

Qual foi a cena mais embaraçosa de filmar?
Não houve momentos embaraçosos. Desconfortáveis, talvez. Na cena da lama, passamos o dia inteiro cobertos de lama, mas pela altura da segunda tomada já estávamos todos acostumados. Tentei levar o trabalho em frente e encontrar o lado positivo, ver aquilo como um desafio e me divertir com a gravação, para que eu pudesse sair de lá sabendo que fiz meu melhor.

Como espectadora, a química entre Kate e Anthony era palpável para mim. O que aconteceu quando você foi apresentada a Jonathan Bailey?
Nós nos encontramos para ler uma cena juntos, um teste de química, e foi muito bizarro. Sentamo-nos em um sofá e lemos três cenas. Acho que fizemos a cena do passeio a cavalo, em que Kate e Anthony se conhecem, a cena da biblioteca e, meu Deus, não me lembro da outra. E nós simplesmente nos entendemos.

Como foi trabalhar com os coordenadores de intimidade?
Trabalhamos com Lizzy Talbot, que é uma coordenadora de intimidade maravilhosa. Ela realmente nos encorajou a retratar o que é se sentir empoderada, para uma mulher, comunicar aquela sensação de que ela sabe o que quer. E isso era algo que eu amava em Kate –ela é sempre uma mulher que está no controle, o que eu acho incrivelmente sexy. Ela tem um espírito que fascina Anthony, e há um espaço seguro em que ela pode compartilhar esse espírito com ele, e se divertir, e receber prazer.
Para mim, é uma sensação que me fortalece demais, especialmente como mulher e mulher não branca. Tenho muito orgulho do meu corpo, amo meu corpo. Sou grata por ele ser saudável e por ter força suficiente para me tirar da cama todo dia e permitir que eu faça tudo aquilo que preciso fazer.

Quais foram os grandes livros e filmes românticos que influenciaram sua maneira de ver o amor?
Cresci assistindo a muitos dos clássicos da Disney, muitos filmes clássicos e muitos musicais. Acho que todos nós amamos ver as pessoas superando o que quer que as impeça de seguir seus corações, em suas vidas.

Que heroínas a inspiraram?
Havia alguma coisa no personagem de Uma Thurman em "Kill Bill" que eu não compreendia completamente, mas que me fascinava. Ela era uma mulher tão intensamente concentrada em seu objetivo, que era o de recuperar seu filho e também se vingar, mas não vamos tratar disso. Eu a via como uma mulher incrivelmente séria, e capaz de superar qualquer coisa, física e mentalmente. E me lembro de assistir àquilo quando era menina e de realmente me sentir inspirada por ela.

Muitas mulheres não brancas comentaram online sobre o quanto é importante para elas ver você, uma mulher de origem indiana e pele escura, estrelando uma série tão assistida da Netflix. O que isso significa para você?
Fico muito grata, e mal consigo acreditar na resposta que recebemos. Tenho muito orgulho de minhas origens, e também sinto orgulho por qualquer efeito que eu possa ter, ao fazer meu trabalho, especialmente se os efeitos forem positivos e permitirem que outras mulheres se sintam elevadas, se sintam vistas.

O diálogo com relação a raça em "Bridgerton" parece ter dois lados. Alguns dizem que a série fez maravilhas pela representação, e outros argumentam que a escalação de um elenco que não faz distinção de cor não basta para que a série defenda um ponto mais sério ou importante. Como você vê a representação em "Bridgerton"?
É uma seleção de elenco que leva 100% em conta a questão da cor, e não uma seleção que não distingue cores. Nós reconhecemos o fato de que as personagens são indianas, e são mulheres não brancas, mas isso é feito de um modo muito bonito, porque, quando as Sharma chegam, elas se encaixam completamente. Que elas sejam da Índia não é algo tratado como uma questão central. Mas o fato é celebrado de muitas maneiras. Nós certamente não fomos trazidas à série como duas mulheres tâmil para que o fato fosse completamente ignorado depois. É algo que é celebrado completamente, em tudo, dos figurinos à maquiagem, passando pela linha narrativa e pelas cenas.

Muitos espectadores do sul da Ásia amam os acenos da série na direção da cultura indiana, incluindo as conversas sobre "chai", os tecidos de que as roupas das irmãs Sharma são feitos e a inclusão de "Kabhi Khushi Kabhie Gham" na trilha sonora. Algum desses momentos foi especialmente importante para você?
Amo a cena em que Kate passa óleo de coco nos cabelos de Edwina. É uma cena que marca uma virada importante na história, e na qual você pode ver a frustração de Edwina e sua determinação de se tornar a viscondessa. É nessa hora que Kate começa a perder o controle e Edwina assume as rédeas do plano. Tudo muda naquele momento, mas ao mesmo tempo isso acontece em uma cena na qual Kate está passando óleo de coco no cabelo da irmã. Tenho certeza de que mulheres de muitas origens diferentes sentiram identificação com essa cena. É um momento de tamanha união entre duas mulheres –duas irmãs–​ e acho que muitas mulheres devem ter se identificado com ele.

Além da atuação, o que a apaixona?
Amo cantar, cozinhar. Sou bem esportiva e gosto de estar ao ar livre. O dia perfeito para mim seria passar algumas horas ao sol, e nadar um pouco.

Como foi participar da Fashion Week?
Amo moda. Amo roupas. É uma parte do meu trabalho que sou muito privilegiada e muito grata por poder aproveitar. Aprendi muito sobre mim mesma e sobre a moda, ao longo do caminho. E amo os poucos momentos de tapete vermelho que tive. É ainda mais empolgante pensar no que vou fazer a seguir, depois de um momento como esse. Pensar sobre o que vou explorar, que tipo de mensagem ou sentimento desejo transmitir.

Há algum diretor com quem você amaria trabalhar?
Alguns. Eu diria Greta Gerwig, Quentin Tarantino, Mimi Cave. Jeremy Harris é brilhante. A lista é longa, mas vou deixá-la por aqui.