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Robin de Jésus Michael Tran/AFP

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Laura Zornosa
The New York Times

A camiseta diz tudo: "Este corpo foi construído com ‘arroz con gandules’". "Arroz con gandules", arroz com gandu, é um prato clássico de Porto Rico, e Robin de Jesús, 37, usa a camiseta com orgulho sob uma jaqueta ocre. Quando nossa entrada chega acompanhada por pilhas de "maduros" (bananas da terra fritas), os pratos vêm encimados por pequenas bandeiras de Porto Rico. Jesús aprova.

A família do ator vem da região rural de Porto Rico e ele cresceu em uma comunidade operária em Norwalk, Connecticut. Conhecido por papéis dramáticos como o de um adolescente gay que experimenta ser drag queen no filme "Camp", um espevitado empregado doméstico na remontagem de "A Gaiola das Loucas" na Broadway e um decorador de interiores frenético nas versões teatral e cinematográfica de "The Boys in the Band", ele queria diversificar seu trabalho.

E aí apareceu "Tick, Tick… Boom!". Jesús trabalhou com muita concentração em sua audição para o papel de Michael, um ator transformado em publicitário no filme dirigido por Lin-Manuel Miranda. "O que continuava a me ocorrer sempre era que eu queria um desempenho silencioso, um desempenho quieto, sutil e nuançado", disse Jesús no almoço. "E eu sabia que se conseguisse mostrar isso, estaria exibindo maturidade".

O filme (em cartaz nos cinemas e na Netflix) é uma adaptação de um musical sobre escrever um musical. O "Tick, Tick… Boom!" original foi criado por Jonathan Larson —que mais tarde criaria o musical rock "Rent"– e apresentado pela primeira vez em 1990.

O filme conta a história de um aspirante a compositor (também chamado Jonathan), interpretado por Andrew Garfield, que está trabalhando com a máxima dedicação em outro musical, "Superbia". Tudo se passa no começo da década de 1990 diante do pano de fundo sombrio da epidemia da Aids.

Com a aproximação de seu 30º aniversário, a ansiedade de Jonathan se manifesta na forma de um "tic" que ele ouve constantemente. Ele se preocupa demais com a aproximação da montagem de "Superbia" em uma oficina teatral, da qual aparentemente toda a sua vida depende –e também sobre se conseguirá encontrar sucesso nas artes cênicas de alguma maneira.

Michael, antigo colega de apartamento e melhor amigo de Jonathan desde a infância, desistiu da existência precária dos artistas e optou em lugar disso por uma carreira confortável em publicidade e um apartamento em um edifício alto e cintilante. Ele se cansou de esperar horas por uma audição e termina cortado depois de cantar seis compassos de uma canção e de ser chamado pelo nome errado —"Juan, Pedro, Carlos, lo que sea".

Isso não quer dizer que Michael tenha se transformado em uma pessoa oca. Continua bem-humorado e apoia os sonhos de Jonathan. Nós o encontramos pela primeira vez quando visita o amigo no Moondance Diner, onde ele trabalha como garçom, para deixar as cópias que fez do roteiro de "Superbia".

"Boo-boo, você precisa se perguntar se, no atual momento, está se deixando conduzir pelo amor ou pelo medo", diz Michael a Jonathan.

Jesús disse que "eu sabia que Michael não precisava ser um almofadinha e um sujeito formal. Ele é capaz de navegar entre os artistas, entre os criadores, alguém antenado, bacana e cool que trabalha com publicidade". "Ele não precisava ser unidimensional", acrescentou o ator.

Jesús já trabalhou em muitos filmes importantes, mas presumiu que um astro conhecido fosse abocanhar o papel de Michael. Por isso, decidiu correr um risco na audição e impressionou Miranda.

"Assisti a muitas produções de 'Tick, Tick… Boom!' e muitas vezes o cara escalado para o papel de Michael é alguém que parece muito confortável sendo o homem de negócios –muito bem arrumado, um cara liso", disse Miranda por telefone. O divertido em Robin como escolha é que você acredita 100% em que ele é um artista que prosperou naquele outro mundo. Um artista de terno".

Miranda e Jesús têm um histórico longo. (O que inclui Jesús ter cantado no casamento de Miranda.) Em 2005, Jesús fez sua estreia na Broadway em "Rent" como membro do coro e como substituto do intérprete de Angel, a jovem drag queen. No mesmo ano, ele fez parte do elenco original de "In the Heights", o primeiro musical de Miranda com história de Quiara Alegría Hudes.

"Quiara e eu percebemos que, sempre que a bola estava com ele, Robin colocava um efeito maluco nela e a rebatia para fora do estádio", disse Miranda sobre Jesús. "Estou misturando metáforas de tênis e beisebol, mas Robin faria o mesmo".

Jesús foi indicado ao Tony por sua interpretação de Sonny em "In the Heights". Recebeu novas indicações por "Gaiola das Loucas", em 2010, e por "The Boys in the Band", em 2019. Este ano, ele foi um dos apresentadores do Tony Awards com Andrew Garfield.

Mas muitos de seus papéis até agora foram de personagens exagerados, ou de jovens ruidosos. E Jesús estava pronto para uma mudança.

"Meus demais personagens eram como garrafas de refrigerante de dois litros que você chacoalha e abre", ele disse. "Michael você pode chacoalhar, mas não abre a tampa. Não é algo que eu possa interpretar com frequência. Mas sempre soube que era capaz disso".

Ele estava só esperando que alguém lhe oferecesse uma oportunidade –como acontece com muitos artistas não brancos, disse Jesús.

"O fato é que estou em Nova York desde 2002 e que ouvi no primeiro mês em que cheguei à cidade que aquele era um bom momento para ser uma pessoa não branca no teatro", ele disse. "E aqui estamos, 20 anos mais tarde".

Mas ainda assim, ser negro ou latino no setor nova-iorquino de arte e entretenimento tem suas belezas, disse Jesús, "na maneira pela qual criamos nossas culturas e pela qual promovemos e apoiamos uns aos outros".

O melhor amigo de Jesús e seu "parceiro não sexual pelo resto da vida", Dominic Colón também é parte desse grupo de artistas. Os dois são gays e latinos queer que vivem no Bronx, tão perto um do outro que podem ver o apartamento do amigo pela janela (intencionalmente). Depois de "Tick, Tick… Boom!", a expectativa de Jesús é trabalhar em "The War I Know", peça de Colón sobre a classe trabalhadora de Porto Rico que espelha a história dos dois.

"Em minha opinião, ele é um professor", disse Colón. "Creio que ele seja uma lição valiosa para artistas de qualquer idade no sentido de que é preciso confiar na jornada. Pode ser que as coisas não venham a ter a cara que você imaginava aos 18 anos, mas funcionam, e continuarão a funcionar, da maneira que precisam".

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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