'Aruanas' volta para segunda temporada com CPI e ativista infiltrada
Produção da série ficou quase um ano paralisada por causa da pandemia
Produção da série ficou quase um ano paralisada por causa da pandemia
"Quero só expor que eu morro de medo de não ter a mínima continuidade nessa série", brinca Leandra Leal, 39, durante bate-papo com a imprensa sobre a segunda temporada de "Aruanas", na qual ela interpreta a ativista ambiental Luiza. "Vou pedir para vocês serem extremamente generosos comigo."
"Eu entro em uma porta antes do fim do mundo e saio agora", explica, referindo-se ao período em que a produção precisou ser paralisada por causa da pandemia. No começo de 2020, a série estava sendo gravada havia cerca de 10 dias quando a produção precisou ser interrompida por causa do coronavírus. A estreia dos novos episódios finalmente poderá ocorrer nesta quinta-feira (25), no Globoplay.
"Meu cabelo muda muito, mas além disso tem uma nova densidade emocional [que veio com a pandemia]", avalia a atriz. "Foi ótimo para vários dramas que a gente está passando na série, a gente foi para um outro lugar. Eu fico com medo, mas o Lipe [o diretor André Felipe Binder] falou que ia resolver tudo, então está tudo certo [risos]."
O fato de terem passado quase um ano parados não foi de todo ruim também para os autores, Estela Renner e Marcos Nisti. Eles contam que isso acabou proporcionando novas possibilidades. "A gente conseguiu revisitar o roteiro", conta ela. "Por um lado foi bom a gente ter esse tempo a mais com o texto."
Ela exemplifica. "Teve uma questão da CPI, que, quando escrevemos, a gente tinha um pouco de receio de o público não entender o processo", diz. "De repente, uma CPI estava acontecendo durante a pandemia, então a gente pediu permissão para pisar mais, tensionar mais e trazer mais drama ainda. A gente conseguiu casar mais com essa realidade."
Renner afirma que a sensação para o público pode ser de que a CPI da ficção foi inspirada na realidade, mas garante que ela estava lá desde antes. "A vida imita a arte e a arte imita a vida", afirma. Já Camila Pitanga, que interpreta a vilã Olga, diz que haverá pelo menos uma grande diferença: "A CPI dentro de 'Aruanas' é um pouco mais polida do que a gente viu na realidade".
Essas coincidências, que os autores classificam como "cósmicas", fazem parte do histórico da série. A primeira temporada, escrita em 2012, falava sobre o desmatamento da Amazônia, mas acabou chegando para o público no momento em que esse assunto cada vez mais presente no noticiário.
"A gente acertou muito na primeira temporada", comemora Nisti, citando o crescente interesse do público pelo tema. "Apesar de achar que não melhoraram em nada as políticas públicas em relação à Amazônia, pelo contrário."
Na segunda temporada, o pano de fundo será a poluição do ar e a emissão de gases na atmosfera. O tema foi um dos que mais geraram discussões na COP26, a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu de 31 de outubro a 12 de novembro.
Na trama, as ativistas da ONG Aruanas vão investigar um incidente na cidade fictícia de Arapós, comandada pelo prefeito Enzo (Lázaro Ramos), com altas taxas de aprovação. Aos poucos, vão descobrindo que nem tudo é tão tranquilo quanto parece.
Porém, os dramas pessoais das protagonistas também continuam dando a tônica dos episódios. Principalmente o rompimento entre Natalie (Débora Falabella) e Verônica (Taís Araújo) após a primeira descobrir que a segunda tinha um caso com o marido dela na primeira temporada. Enquanto isso, Luiza fica tentando fazer o meio de campo.
"'Aruanas' fala também sobre amizade, e a amizade dessas três também é muito importante na trama", avalia Falabella. "São três mulheres que se juntaram quando eram crianças com o mesmo sonho, o mesmo ideal. É muito forte."
As duas personagens devem, de alguma forma, se resolver. "Eu acredito na redenção dessas personagens, no perdão", conta a atriz. "Mesmo que o caminho seja longo e complicado, acho que o público vai torcer pela reconciliação das duas, não só por causa da Aruanas, mas porque são duas grandes amigas, quase irmãs, e têm uma relação muito bonita. Acho que a Natalie está mais arrasada com o rompimento com a Verônica do que com o marido."
Taís Araújo concorda e revela que as próprias intérpretes ficaram curiosas para saber como as personagens superariam algo tão grave. "A gente pensou muito no que aconteceria com essas duas, a gente perturbava os autores [risos]", confessa. "Eu fiquei arrasada na temporada passada, e esperando o que ia acontecer, e quando ia acontecer. Mas demora [a elas se entenderem], só posso te dizer isso."
"Acho que o mais legal dessas personagens todas é a humanidade", avalia a atriz. "Os autores procuram colocar uma coisa errada, o erro humano, em cada personagem. Isso é muito bom dramaturgicamente, é muito rico."
Que o diga Camila Pitanga, cuja personagem tenta a todo custo atrapalhar os planos das ativistas. Na segunda temporada, a personagem deve ganhar novas nuances. "A Olga tem a subjetividade dela, as contradições, o mundo interior dela", conta.
"Na primeira temporada, ela é quase uma esfinge: aparece pontualmente fazendo um contraponto em momentos de mudança de chave da história", compara. "Agora, a gente tem a oportunidade de entender a mulher, a pessoa, suas fragilidades. Ela é uma mulher segura, articulada, calculista, fria, mas por trás tem uma mulher muito fragilizada, com fissuras como todos os seres humanos."
Já a estagiária Clara, vivida por Thainá Duarte, vai viver novas aventuras. A intérprete conta que o relacionamento abusivo que ela viveu na primeira temporada ficou para trás. "Acho que pode ser muito interessante mostrar para as mulheres que viveram relacionamentos abusivos e que não vivem mais o que pode acontecer depois, quais as possibilidades, e que a vida pode caminhar e seguir", avalia.
A personagem ficará infiltrada em Arapós para tentar descobrir informações relevantes sobre o que está ocorrendo por lá. Ela e Pontocom (Ravel Andrade) se farão passar pelo casal Vivi e Jailson. "A gente brincou de dois personagens em um", celebra.
"Também foi uma pesquisa muito interessante de como esses ativistas ficam infiltrados em campo por anos, meses, longe da família, sem ter contato com ninguém", diz. "A gente teve contato com um ativista do Greenpeace que estava infiltrado. Não pudemos saber o nome dele, mas ele fez o favor de ligar para a gente e conversar um pouco, contou sobre experiências que ele passou na Amazônia, onde conseguiu provas para denunciar um esquema de garimpo ilegal."
As protagonistas dizem ter orgulho de participar de um projeto que leva entretenimento com uma mensagem. E dizem não temer serem atingidas por tratarem de um tema que costuma causar polêmica por causa da polarização política que o país vive.
"O desejo que a gente tem é de agregar aos movimentos que já existem, às ONGs, aos ativistas que estão no front", explica Camila Pitanga. "O público geral, que não tem muito entendimento, às vezes tem o ardor de querer defender o meio ambiente, mas não sabe como entrar, não entende a dinâmica de atuação. O desejo é de fazer essa ponte."
"A gente sabe o lado em que estamos", afirma. "[Vamos sofrer] retaliação do quê? Do obscurantismo? Da negação da vida? A gente sabe que está do lado da vida, do mundo, da sobrevivência, acho que isso é papel dos artistas e dos não-artistas."
Débora Falabella vai na mesma linha. "O artista não tem como não estar associado a um ser político", avalia. "Quando a gente consegue no audiovisual juntar as duas coisas, fazer o público pensar através dos nossos personagens, é o que eu quero para mim. E a retaliação vai vir, principalmente no momento que estamos vivendo, com o governo que a gente tem. Estamos aí para rebater da melhor forma."
Por sua vez, Thainá Duarte diz que a série foi quem trouxe isso para a vida dela. "Assim que a gente toma consciência de algumas coisas que estão acontecendo, não tem como você não se mobilizar, não tem como não ter um movimento interno", diz. "Coisas pelas quais antes eu não me posicionaria, hoje me posiciono e fico muito feliz de ver essa transformação."
"Graças a 'Aruanas' entramos em contato com várias ONGs e isso mudou muito a minha forma de pensar o mundo, de entender a arte como algo político", comenta. "'Aruanas' me deu essa possibilidade de entender o tamanho da relevância do que a gente fala para as pessoas e o entendimento do que pode ser a minha voz, a mensagem que eu carrego."
Taís Araújo lembra que essa tomada de consciência leva um tempo para se transformar em algo efetivo. "É um processo mesmo: quais ações que você tem feito para impedir ou diminuir o que está acontecendo?", questiona. "Esse é um outro passo. 'Aruanas' trouxe isso para todos nós. De certa forma, essa série já é o fazer."
"Dá uma sensação que tem uma parcela da população mundial que está anestesiada", afirma. "O audiovisual chega nessa pessoa que talvez não saiba o que estava acontecendo ou acha que é mentira. Ele concretiza isso. Cara, está rolando isso aqui. E não é ficção, é real. E aí, você vai fazer o quê? Essa série é quase um chamamento. Vamos fazer alguma coisa, todo mundo junto, porque tem a ver com a gente, com a nossa continuidade."
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