Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Elenco de 'A Vida Sexual das Universitária". Da esq. para a dir.: Reneé Rapp, Pauline Chalamet, Alyah Chanelle Scott e Amrit Kaur Rozette Rago/The New York Times

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

O título de "The Sex Lives of College Girls" —"A Vida Sexual das Universitárias", em português—, uma nova série de humor que estreou nesta quinta-feira (18) na HBO Max, tem alguma coisa de enganoso.

Sim, a série fala sobre universitárias, e elas têm vidas sexuais. Mas quem quer que esteja esperando uma versão roteirizada de "Girls Gone Wild" ou de "Women of the Ivy League", série do grupo Playboy, terá de procurar em outro lugar. A série trata a intimidade entre os universitários com o amistoso ceticismo que o assunto merece. Há embaraço, confusão, desejo desajeitado e, às vezes, em meio a rodadas de "beer pong", momentos de descoberta pessoal.

Criada por Mindy Kaling e Justin Noble, a série é estrelada por Alyah Chanelle Scott como Whitney, atleta e filha de um senador; Renée Rapp como Leighton, princesinha mimada de uma família rica de Park Avenue; Amrit Kaur como Bela, que quer ser humorista e vem de uma família conservadora; e Pauline Chalamet (sim, irmã de Timothy), como Kimberly, uma nerd prototípica que só conseguiu vaga na universidade por conta de uma bolsa de estudos.

Elas dividem um apartamento no alojamento de uma universidade prestigiosa, quase, quase parte da Ivy League, e confundem amor com sexo, sexo com diversão e rebelião com amadurecimento. Para os espectadores das gerações baby-boom, X e milênio que talvez presumam que os confiantes representes da Geração Z sabem exatamente o que querem, "The Sex Lives of College Girls" sugere o contrário, vigorosamente.

"Todas as quatro estão amadurecendo, e por isso precisam descobrir como conviver com tudo que acompanha esse processo", disse Scott. "Em termos hormonais, sexuais, tudo". As quatro estrelas da série conversaram comigo por vídeo em uma tarde recente, falando de sexo e de autoconhecimento. Abaixo, trechos editados da conversa.

As jovens mulheres que vocês interpretam se sentem confortáveis consigo mesmas?
Scott: Tão confortáveis quanto se pode ser aos 18 anos. Você acha que sabe mais sobre você mesma do que realmente sabe. Afinal, aprendemos coisas por experiência, e elas ainda não tiveram todas as experiências de que precisariam para aprender todas as lições.

Rapp: Na verdade, quem é que sabe exatamente o que ele mesmo é? Minha sensação é a de que elas estão aprendendo mais e mais, sobre si mesmas e sobre as demais colegas.

Kaur: Os medos universais de uma pessoa de 18 anos são os mesmos, na verdade; mas as experiências de cada um são únicas. No caso de Bela, ela achava que seria livre por ter enfim saído de casa, mas a realidade não funciona assim.

Chalamet: Nenhuma delas se conhece de verdade. Naquela idade, você começa a aprender sobre você mesmo por meio dos espelhos que outras pessoas erguem ao seu redor, e pelas reações dos outros à maneira pela qual você age.

Por que nossa cultura é tão obcecada com a vida sexual das mulheres jovens?
Chalamet: Em lugar de mulheres mais velhas, que tiveram anos de prática e aprenderam a perceber o que desejam? Na verdade, era isso que eu preferiria saber. Falar com mulheres de 50, 60, 70 e 80 anos que continuam a fazer sexo. Mas a resposta é bem sombria. Existe um fetiche –o fetiche de Lolita, mas na verdade não gosto do termo, porque o livro é diferente do filme. O que é realmente importante são séries como esta. Não estamos acompanhando garotas que fazem sexo louco e maravilhoso o tempo todo. É desajeitado, esquisito, mas em certas situações fica interessante. A vida sexual das universitárias é assim.

Scott: Eu cresci em um ambiente na qual as mulheres brancas se centravam na ideia do que é sexy, o que é bonito, e mulheres negras se centravam na ideia de que tudo que é excitante é escandaloso, voluptuoso e sexualizado em excesso. E tudo isso vem do olhar masculino. Por isso, não cresci vendo mulheres negras tendo momentos sexuais normais, momentos desajeitados. Nossa série é bacana no sentido de que posso ser uma garota negra que vive momentos sexuais desajeitados, complicados.

Kaur: As mulheres negras são sexualizadas em excesso; as mulheres indianas têm a experiência oposta. Não somo sexualizadas de jeito algum. Por isso, ter agora uma personagem que faz sexo e tem um monte de ideias sobre sexo é muito importante. Ela se envolve em muitas situações perigosas como resultado, mas também aprende muito.

Em que pontos a série lhes pareceu fiel às experiências das mulheres jovens, e em que pontos ela pareceu exagerar?

Chalamet: Não sei se existem garotas que vão a todas aquelas festas. Eu pensava comigo mesma, cinco festas em uma semana? O que eu estava fazendo na universidade? Estudando, por acaso? Eu não fui assim tão festiva na universidade. Mas acredito que há algo de real na maneira pela qual elas conversam entre si.

Scott: Estudei na Universidade de Michigan, e tive uma experiência bem típica de universidade estadual. Fui a jogos de futebol americano, fui a festas, estudei teatro. A situação toda me parecia bem familiar.

Kaur: Estudei na Universidade York (no Canadá). A escola de teatro me atraía demais porque os alunos todos eram malucos, e eu vinha de um lugar muito conservador. Não frequentei muitas festas. Eu era a única menina que ficava em casa. Por isso, estou vivendo vicariamente por intermédio de Bela. Muito do que ela faz eu não era autorizada a fazer, culturalmente.

Chalamet: Minha experiência na universidade não foi muito boa. Eu consigo entender Kimberly porque ela tem dificuldades para se encaixar em uma universidade privada, na qual as pessoas todas parecem ter tanto dinheiro. Eu trabalhei durante toda a universidade em um restaurante de gastronomia local. A faculdade para mim parecia um purgatório. Dizem-lhe que você é adulto, mas na verdade não é. Você só se torna adulto ao terminar a universidade e ao descobrir o que são impostos.

Vocês se sentiram pressionadas a ter momentos sexy, na universidade?
Chalamet: Eu certamente senti esse tipo de pressão. As pessoas falavam tanto de suas vidas sexuais e sobre quem estava dormindo com quem. Eu tive um relacionamento que durou quase todo o tempo da universidade. E isso foi ótimo, porque a minha sensação era de que estava resolvida, por esse lado.

Kaur: Estudei teatro, na universidade. E eu era a única menina de pele marrom entre, sei lá, 100 alunos. Os professores perguntavam se eu podia fazer cenas de beijo. Porque eles viam na mídia que as pessoas da minha cultura não são sexuais. Ou seja, foram conversas que não tive, de vez.

O que vocês acham que mudou na universidade para as mulheres jovens, agora, ante uma geração atrás?
Chalamet: Em universidades como a retratada na série, que tendem a ser instituições muito liberais, creio que existe mais ênfase em criar espaços seguros. Falar sobre certas coisas se tornou menos tabu. É menos tabu expressar sentimentos e expressar a necessidade de encontrar uma comunidade de pessoas na companhia das quais você se sinta bem e segura.

Scott: Existe muito menos vergonha associada à sexualidade, em geral. Talvez seja a mídia social, talvez seja o acesso a tanta informação. Para nós, as coisas são mais confortáveis.

A maior parte dos roteiristas e diretores da série são mais velhos que vocês, pessoas de outras gerações. Vocês os ajudaram a compreender a cultura jovem?
Scott: Só certos termos e coisas. Eu explicava que certas coisas que eles escreviam eu jamais diria. Talvez as pessoas falassem assim 10 anos atrás, mas agora não falam mais.

Como foi o diálogo no set sobre cenas de nudez? Vocês trabalharam com um coordenador de intimidade para deixar todo mundo confortável?
Chalamet: Kelley (Flynn). Ela é excelente.

Scott: O que nos diziam era que queriam que nos sentíssemos bem, e confortáveis, confiantes. Certas pessoas se sentem muito confiantes nuas. Para mim não funciona; ainda não aceito meu corpo muito bem.

Rapp: Lembro-me de um dia muito específico. Cheguei ao set. Estava muito ansiosa, muito preocupada, com o botão no 10. Conversei com Justin (showrunner e um dos criadores da série) e disse a ele que não me sentia bem sobre aquilo. E Justin disse que "tudo bem, podemos cortar a cena". Isso foi muito importante, porque senti alguma liberdade, e disse que tudo bem, devíamos filmar, mas será que poderia ser de tal maneira, de tal ângulo? Não quero que meus mamilos apareçam, mas a lateral dos seios tudo bem. Eu estava me sentindo bem confortável.

Kaur: Temos a tendência a ver mulheres que julgamos perfeitas, nas telas. E todas nós somos bonitas, mas não bonitas como uma modelo. E temos peles de cores diferentes. E fazemos sexo. O mundo é assim.

Rapp: E acho que parecemos bem bonitas nas cenas.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem