'Espíritos Obscuros': Keri Russell diz que aceitou fazer terror 'para brincar'
Atriz das séries 'Felicity' e 'The Americans' admite ser 'medrosa'
Atriz das séries 'Felicity' e 'The Americans' admite ser 'medrosa'
Keri Russel admite que é "muito medrosa" na hora de assistir a filmes de terror, mas não conseguiu resistir à oportunidade de contracenar com Jesse Plemons em "Espíritos Obscuros", thriller de horror muito aguardado do diretor Scott Cooper, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28).
Ela diz que ficou intrigada por Cooper, que dirigiu histórias muito diferentes na sua carreira de diretor --que inclui o romance "Coração Louco", seu filme de estreia, a trama de gângster "Aliança do Crime" e o western "Hostis"--, ter aceitado o comando de um thriller sobrenatural baseado no mito do Wendigo.
"Sou muito medrosa. Qualquer coisa me assusta. Minha sensação é a de que memorizo as imagens e elas não desaparecem, e por isso sou seletiva ao escolher filmes de terror", disse a atriz, rindo, em entrevista cedida com exclusividade ao F5 pelos estúdios Disney. "Consumo um número bem limitado deles".
Quando chegou o convite para "Espíritos Obscuros", no entanto, Russell diz que aceitou "para brincar". "E foi mais ou menos isso que aconteceu. O gênero é novidade para Scott [Cooper], e em alguma medida também para mim. Fiz um filme independente do mesmo tipo dois anos atrás, e curti bastante o processo".
Segundo Russell, a "brincadeira" ficou completa com Guillermo del Toro. O cineasta premiado com o Oscar, é um dos produtores do filme e trabalhou em estreito contato com Cooper para desenhar a "criatura" –o Wendigo– cuja presença aterroriza o filme.
Na trama, Russel interpreta Julia Meadows, professora em uma escola de uma cidadezinha mineradora decadente do Oregon. Seu irmão, Paul (Plemons) é o xerife local. A família Meadows tem uma história sombria, que marcou os dois irmãos.
Julia começa a se preocupar cada vez mais com o bem-estar de um de seus alunos, Lucas (Jeremy T. Thomas), um garoto solitário e introvertido que sofre bullying na escola. Lucas oculta um segredo terrível ligado ao desaparecimento de seu pai e de seu irmão mais jovem.
Quando Julia e o irmão começam a investigar, eles ingressam em um mundo tenebroso no qual o mito indígena americano do Wendigo, um espírito homicida invocado pela natureza para buscar vingança contra os homens, está à espreita.
"Sim. O mundo de nossa história é sombrio. É engraçado porque, até começarmos a filmar as cenas com o Wendigo, estávamos fazendo um drama íntimo. Há momentos aterrorizantes, mas mais no modo pelo qual seres humanos podem ser aterrorizantes uns com os outros".
"Bem, é fácil me assustar, e eu entro logo no clima do momento", continua ela. "Mas gosto da atmosfera de medo, gosto de pensar que existe alguma coisa lá no meio da noite –o monstro apavorante pode estar lá à espreita".
Russell nasceu na Califórnia e conquistou um Globo de Ouro de melhor atriz em série dramática como a protagonista de "Felicity" (1998-2002). Também foi indicada duas vezes ao Globo de Ouro por sua interpretação de Elizabeth Jennings, em "The Americans", que acabou em 2018 depois de seis temporadas.
Depois de concluir a filmagem de "Espíritos Obscuros", ela se integrou ao elenco de "Star Wars: Episódio 9", dirigido por J.J. Abrams. Veja abaixo trechos da entrevista concedida pela atriz.
Você é fã dos filmes de terror?
Sou, mas também sou muito medrosa. Qualquer coisa me assusta. Minha sensação é a de que memorizo as imagens e elas não desaparecem, e por isso sou seletiva ao escolher filmes de terror (risos). Tomo cuidado quanto ao número deles que consumo!
Você ficou curiosa por Scott Cooper estar dirigindo um filme de terror?
Fiquei certamente intrigada por Scott estar no comando desse projeto. Amei "Coração Louco" e acho que Scott fez um trabalho lindo naquele filme. Amei a história, o lado dolorido dela, e por isso, quando Scott entrou em contato, eu aceitei o convite para brincar. E foi mais ou menos isso que aconteceu. O gênero é novidade para ele, e em alguma medida também para mim.
Fiz um filme independente do mesmo tipo dois anos atrás, e curti bastante o processo. O nome era "Os Escolhidos", e o diretor [Scott Stewart] era realmente bom e ele conduziu a história como um drama de família, uma história sobre a dissolução de uma família. Por isso, quando Scott [Cooper] me falou sobre "Espíritos Obscuros", eu logo concluí que não tinha feito coisa alguma de parecido, e ele tampouco, e já que Guillermo [del Toro] também estava envolvido, imaginei que seria um mundo divertido e interessante em que brincar por algum tempo.
Julia Meadows é uma personagem complicada. Ela tem um passado sombrio, problemático, e se envolve na ação...
Sim, há muita coisa a fazer, o que é parte da diversão. Temos um grande ator jovem (Jeremy T. Thomas), ele interpreta o garoto, Lucas. Creio que os melhores filmes do gênero são os que mostram alguma forma de conexão humana, e minha personagem, Julia, se sente muito apegada àquele menino, e curiosa a respeito dele, e quer garantir que ele vá ficar bem, de alguma maneira.
Julia é professora dele e desconfia que Lucas tenha problemas em casa. Certo?
Sim. O mundo de nossa história é sombrio. É engraçado porque, até começarmos a filmar as cenas com o Wendigo, estávamos fazendo um drama íntimo. Há momentos aterrorizantes, mas mais no modo pelo qual seres humanos podem ser aterrorizantes uns com os outros. Há muita coisa sobre como a vida pode alquebrar uma pessoa.
Acabo de rodar uma cena em que acordo gritando de um pesadelo, e Julia está começando a lembrar de alguma coisa. Ela voltou para a cidade em que nasceu, para viver na casa em que cresceu, e que tinha deixado muito tempo atrás. Ela volta para viver com seu irmão, e estar de novo naquela casa faz com que lembranças ressurjam.
Como é trabalhar com Jeremy T. Thomas? Ele interpreta Lucas, um papel crucial no filme.
Ele é o filme. Tem uma sensibilidade muito real, e uma placidez que é muito agradável e não é comum em crianças pequenas. E é um menino fisicamente tão interessante –a estrutura de seu rosto. Ele é o filme, o ponto central.
Fale-nos de trabalhar com Jesse.
Amo Jesse. Ele é um grande talento, mas infelizmente me faz rir demais. Deveríamos estar chorando, mas nos fazemos rir com imitações horríveis de pessoas famosas, e rimos histericamente. Nos divertimos demais. Amo isso nos filmes de Scott. Acho que ele forma elencos muito bem e às vezes isso é meio caminho andado. O gosto dele me agrada. Por exemplo, amo o trabalho de Jesse. Sou fã dele há muito tempo, e o admiro demais. Ele é uma pessoa muito real.
Você já viu a criatura?
Não, ainda não vi, mas sei que está por lá (risos). Vou vê-la por três dias consecutivos, quando rodarmos algumas cenas, e achei que seria mais bacana e assustador se deixasse para vê-la só nessa hora. Assim fica mais divertido. Mas pelo pouco que vi, é impressionante e completamente assustadora (risos).
Como atriz, ter uma criatura real com a qual contracenar é muito melhor do que trabalhar diante de uma tela verde?
Depende muito. Mas, para começar, a criatura parece muito imponente, do ponto de vista físico. Ouvi dizer que era alta demais para os tetos, no começo, e tiveram de elevar o teto. Vai ser ótimo trabalhar com algo tão grande e grotesco (risos).
Você pesquisou sobre o mito do Wendigo?
Li um pouco sobre o mito do Wendigo. Não li demais, porque minha personagem precisa ser surpreendida por ele. Creio que o que intrigou mais foi o drama pessoal, o drama familiar, e o foco nesse lado da história vem primeiro, com a transformação em um filme de monstro, que acho que será muito, muito assustadora, ficando para mais tarde.
Você disse que se assusta quando assiste a filmes de terror. O que acontece quando trabalha neles?
Bem, é fácil me assustar, e eu entro logo no clima do momento –mas não posso contar sobre o que penso nessas horas, porque é um segredo meu (risos). E é esse o trabalho, é isso que eu faço. Mas gosto da atmosfera de medo, gosto de pensar que existe alguma coisa lá no meio da noite –o monstro apavorante pode estar lá à espreita. Sinto que, em muitos desses momentos, ainda que eles possam ser altamente emocionais, existe um lado físico intenso, uma atuação física, e esse filme não tem muito diálogo. Gosto disso. Minha formação foi em dança, e imagino que isso é algo que conhece e que dá forma ao meu desempenho físico.
Você curte mais as cenas de ação em que sua personagem sai atrás da criatura?
Esse será um daqueles momentos em que a audiência vai gritar para ela não ir. Eu estava fazendo uma cena em que entro em uma mina, e havia uma máquina de chuva ligada a todo vapor, e eu carregando uma pequena lanterna. Jesse e eu brincamos que eu chegaria na entrada da mina e diria, "bom, aquele garoto é legal, mas não é tudo isso. Ele é bonitinho e tudo, mas a gente pode comprar um cachorro".
Você conheceu Guillermo?
Sim, conheci. Ele esteve no estúdio, e vai voltar a nos visitar. Mas o envolvimento dele é mais com Scott. Para mim, parte da atração foi saber que a experiência de Guillermo na criação dessas criaturas fantásticas faria parte do projeto. E a combinação de Scott e Guillermo é intrigante. Logo pensei: "Por que não"?
Scott disse que os filmes de terror muitas vezes trazem comentários sociais escondidos, e que em "Espíritos Obscuros" existe um subtexto sobre os danos ambientais que estão sendo causados agora e sobre a destruição que as drogas causam. Você falou sobre isso com Scott?
R. Sim, inicialmente fiquei intrigada porque conversamos muito sobre cidades abaladas por graves problemas como esse; eu li muito, e havia muitas notícias sobre a crise dos opioides. A cidade do filme certamente foi atingida por isso –falamos especificamente de metanfetaminas, mas sinto que todas essas coisas se assemelham. E para mim, o monstro verdadeiramente assustador é esse –que as drogas tenham destruído todas aquelas famílias, pais ausentes, filhos abandonados. Isso assusta. É parte do que o garoto do filme está passando. E por isso acho que existem paralelos reais com os quais trabalhar. Não é só um monstro assustador.
Ou seja, é possível entreter e divertir as pessoas mas também fazê-las pensar?
Sim, e esse é o monstro que me apavora –as coisas que destroem famílias e infâncias. E os danos ambientais, também.
Você vem trabalhando muito desde o final de "The Americans". Fez "Espíritos Obscuros" e, é claro, "Star Wars Episódio 9", com J.J. Abrams. O que orienta suas escolhas?
Uma das coisas bacanas de ser atriz é que você nunca sabe o que fará a seguir e, se estiver preparada para largar as rédeas um pouco, a cavalgada é sempre divertida. Depois de "The Americans", eu nem imaginava o que faria a seguir. Queria fazer uma pausa, e fiz, e tive algumas grandes aventuras, mas quando J.J. ligou e me convidou para fazer aquele pequeno filme independente, não pude dizer não, porque esse tipo de trabalho é uma grande diversão.
Em seguida, Scott me procurou para este filme, mas eu não sabia se conseguiria encaixar as filmagens em minha agenda; os produtores deram um jeito de fazer funcionar. Era uma oportunidade inédita para mim, e me parecia empolgante e criativa. Por que não aceitar o risco? Uma das melhores coisas nessa experiência, para mim, é que Florian (Hoffmeister), nosso diretor de fotografia, está fazendo coisas tão bonitas e suntuosas. Foi uma das surpresas mais agradáveis que tive.
Scott pediu que você assistisse a algum outro filme para se preparar?
Não, não pediu. Ele me mandou algumas referências visuais que estavam influenciando seus planos, como base para o visual do filme.
É interessante que as duas cenas que vimos você rodar hoje tenham abordagens contrastantes –a primeira, em que você encontra seu irmão, Paul (Plemons), ferido, e parece muito real, e em seguida a cena em que você acorda gritando do pesadelo, e parece muito maneirista.
R. Muito diferentes, e existe um elemento intensificado, especialmente nos filmes de gênero, que acompanha o visual, e é divertido. Estou curtindo esse lado. Sinto como se eu estivesse mergulhando em um mundo inteiramente novo. Acabo de sair de "The Americans", que também era um outro mundo, mas mais natural, e é divertido fazer essas cenas visualmente intensas. E o que mais agrada é a arte de tudo isso –o que Florian e Scott estão criando é tão bonito e tão assombroso. Realmente apreciei poder fazer parte disso.
Guillermo tuitou certa vez sobre como ele amava "The Americans".
Quando conversamos no telefone, ele falou disso, tinha visto todos os episódios, e estava informado sobre todos os detalhes. Fiquei muito surpresa, e perguntei por que ele assistia a "The Americans" (risos). Ele conhecia a série bem demais. Ele é um daquelas caras que sabem tudo –assiste a tanta coisa, é uma loucura. Mas acho que não dorme muito. Como todos os grandes diretores, ele é um grande fã de cinema e TV. É algo que ele ama, e por isso ele assiste a tudo que pode. Ele com certeza assistia a "The Americans" –e gostava da série.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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