Kurt Russell e Goldie Hawn voltam a contracenar após 30 anos em filme natalino da Netflix
Casados há quase quatro décadas, eles falam sobre filhos e netos terem virado atores
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Da última vez que Kurt Russell e Goldie Hawn estrelaram um filme juntos, o Muro de Berlim ainda estava em pé e o resgate de Jessica McClure, um bebê caído em um poço, dominava as manchetes. Mais de 30 anos se passariam depois daquela colaboração, “Um Salto para a Felicidade” (1987), antes que eles voltassem a se reunir diante das câmeras: primeiro na forma de uma participação especial de Hawn em “Crônicas de Natal”, filme natalino estrelado por Russell em 2018, e agora dividindo os papéis principais em “Crônicas de Natal: Parte Dois”, dirigido por Chris Columbus, que estreou nesta quinta (25), na Netflix.
Desta vez, a Mamãe Noel interpretada por Hawn é personagem central, contracenando com Russell, que nas palavras dela “faz um Papai Noel atualizado, e meio sexy”; o casal ajuda duas crianças a derrotar as tramoias de um encrenqueiro no Polo Norte. Retratar a realeza natalina é um bom encaixe para a dupla, cujo relacionamento na vida real começou há 37 anos.
Depois de se conhecerem na rodagem de um filme em 1966, eles começaram a namorar em 1983, durante a filmagem de “Armas e Amores”. Eles não se casaram; o casal criou os atores Kate e Oliver Hudson –filhos do casamento de Hawn com Bill Hudson. Os dois se referem carinhosamente a Russell como “Pa”. Hawn e Russel têm um filho, o ator Wyatt Russell. (O ator tem mais um filho, Boston Russell, de um casamento anterior.)
Nas últimas semanas, Hawn, 75, e Russell, 69, vem enfrentando a pandemia do novo coronavírus juntos, caminhando mascarados por Los Angeles e gravando vídeos enérgicos para o Instagram em sua casa –os destaques incluem Russell fazendo cócegas em Hawn durante um “desafio do riso” e Hawn dançando na cozinha ao som de “Hey Ya”, do Outkast. “Gosto de dançar com Goldie de vez em quando, mas não tenho nem como explicar o quanto não ligo para a mídia social”, disse Russell.
Para nossa conversa em vídeo, em outubro, os dois estavam acomodados no pátio de sua casa em Pacific Palisades. As lentes dos óculos de Russell foram se escurecendo ao longo da conversa, acompanhando o sol da tarde. Hawn fazia pausas ocasionais para mandar beijos para um de seus cachorros que passava por perto, ou esfregar as costas de Russell a fim de sinalizar que era hora de mudar de assunto. Eles podiam ser o casal de avós da casa ao lado, se os avós da casa ao lado tivessem estrelas na calçada da fama de Hollywood.
O casal falou sobre “Crônicas de Natal: Parte Dois”, sobre a situação atual de Hollywood, e sobre os motivos para que considerem que celebridades nem sempre devem expressar suas opiniões. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
Esta é a primeira vez que vocês dividem os créditos de um filme desde “Um Salto para a Felicidade”. Por que demorou tanto?
Hawn - Falta de material! De verdade, é o material que decide, e nada apareceu.
Russell - Eu achava que trabalharíamos juntos bem antes disso, mas Goldie e eu somos bem seletivos. E em geral os filmes de Goldie Hawn e os filmes em que Kurt Russell trabalha são coisas bem diferentes.
Hawn - Verdade.
Russell - Não é obrigatório que, só porque você vive com alguém, ama alguém, e vocês gostam de trabalhar juntos, vocês terminem fazendo 10 ou 15 filmes como casal.
Chris Columbus disse que ele queria que Kurt fosse “uma espécie de Papai Noel super-herói”. Goldie, ele lhe disse alguma coisa sobre como você deveria interpretar a Mamãe Noel?
Hawn - Para ser honesta, eu não sabia bem. Meu instinto era o de que ela devia ser benevolente, muito amável, mas Chris a tornou um pouco mais séria. Ela não era tão brincalhona quando eu talvez tenha imaginado.
Russell - No primeiro filme, Mamãe Noel é como a mulher do [detetive] Columbo. O divertido sobre ela é que seja um personagem misterioso. Não só é uma velhinha fofinha que faz cookies.
O personagem só é chamado de Mamãe Noel, nos dois filmes. Ela tem um nome?
Russell - Ela tem um prenome, mas nós jamais saberemos qual é, por um motivo.
Hawn - E esse motivo está na cabeça do Kurt. [Risos]
Papai e Mamãe Noel se comunicam com os elfos falando em yulish, um idioma de elfos criado especialmente para os filmes. Foi um desafio aprendê-lo?
Russell - Tem um cara que escreve o diálogo todo foneticamente, e nós o lemos. Não temos ideia do que estamos dizendo!
Hawn - Ele diz que é um idioma, mas para mim não passa de uma série de sons.
Russell - Não quero menosprezar. Lembro-me de ter assistido a “A Paixão de Cristo” e pensado que Mel descobriu uma coisa que ninguém tinha sacado em todo esse tempo no qual fazemos cinema. Se você faz um filme histórico, especialmente bíblico, e o faz no idioma original, isso cria uma sensação de autenticidade. Quando eu vi aquilo, e li o roteiro deste filme, pensei que o idioma dos elfos nos daria autenticidade.
Qual é a dinâmica quando vocês trabalham juntos? Vocês decidiram se comportar o tempo todo como Papai e Mamãe Noel, mesmo longe das câmeras?
Hawn - Eu me despedia de Mamãe Noel assim que tirava o figurino. Ela ficava pendurada no cabide, e nós saíamos, tomávamos uma sopa de cogumelos, um drinque, e é isso. [Risos]
Russell - Somos da velha guarda. Fazemos o que fazemos no trabalho, mas quando voltamos para casa aquilo não domina nossa vida.
Hawn - A parte realmente divertida era termos o trailer de maquiagem só para nós dois. Estávamos sempre um ao lado do outro. E o cara da maquiagem sempre oferece doces.
Na residência Hawn-Russell, o Natal parece muito importante também na vida real.
Hawn - Não tenho nem como explicar; é mais que um Natal. Este ano, vamos ficar aqui, mas normalmente passamos o Natal em Aspen. É uma fantasia: a neve, a criançada, as meias penduradas da lareira. E Kurt vestido de Papai Noel.
Russell - Tomo cuidado ao falar disso porque temos netos que podem ler essa entrevista.
Hawn - Verdade. Mas eles não vão ler o The New York Times. [Risos]
Russell - Verdade, verdade. Depois da ceia da véspera de Natal, alguém lê “The Night Before Christmas” em voz alta, e depois acompanhamos o percurso de Papai Noel em um app. Depois precisamos começar a preparar as coisas, porque ele pode chegar a qualquer momento.
Goldie, você foi criada em uma família judia. Ainda mantém as tradições de hannukah?
Hawn- Quando eu era criança, acendíamos velas de hannukah, mas acho que minha mãe deixou de fazê-lo porque eu estava falando no telefone uma vez e acabei esbarrando nas velas de hannukah. Você se lembra daqueles telefones de parede? Eu me emaranhei no fio, e minha roupa pegou fogo. Queimou o roupão e minhas costas. Foi, tipo, baruch atah... Minha mãe me desenroscou, e graças a Deus ficou tudo bem.
Vocês planejam continuar a trabalhar juntos em novos filmes da série Crônicas de Natal?
Russell - Não fazemos ideia do que a Netflix quer fazer agora. Eu nunca gostei muito de continuações, mas isso foi 50, 40 ou 30 anos atrás. Agora as continuações nem são continuações. Só descobrimos um modo cíclico de fazer filmes, como se fosse televisão. Você vai ao cinema e vê TV porque há um aspecto serial nisso.
Hawn - Tipo a Marvel.
Vocês viram o setor passar por muitas mudanças. O que vocês acham sobre a situação de Hollywood em 2020?
Hawn - Estamos todos tentando descobrir o que fazer. Você sabe que [a cadeia de salas de cinema] AMC tem uma tal quantidade de dinheiro para continuar a existir, antes que desapareça. Quando você vê a telona, e as pessoas lá, engajadas, nada se compara. Sinto melancolia ao imaginar que isso pode estar chegando ao fim. Por outro lado, agora existe mais conteúdo que nunca, e não só isso, existe lugar para o conteúdo. Estamos diante de talentos incríveis. Como “Succession”, as atuações são excelentes. Mas uma coisa que não sei se vai existir em tudo isso serão astros de cinema. Aquela coisa do passado, quando havia estrelas de cinema glamorosas e pessoas que você mal conseguia esperar para ver. Não sei se isso voltará a acontecer. O que você acha?
Russell - Para mim a questão é se haverá uma arena para isso. Sem a arena, os astros de cinema não acontecem. Aquele aspecto cultural não acontece.
Falando de arena, Kurt, você declarou no passado que celebridades não deveriam falar de política. Continua a achar o mesmo?
Russell - Totalmente. Sempre senti que somos como que os bobos da corte. É o que fazemos. Na minha opinião, você deve se abster de dizer qualquer coisa que possa impedir a audiência de vê-lo como qualquer personagem. Não há motivo para que os artistas não aprendam tanto quanto qualquer outra pessoa sobre um determinado assunto, qualquer que seja. Mas a parte triste disso, em minha opinião, é que eles perdem seu status como bobos da corte. E eu sou um bobo da corte. Nasci para isso.
Hawn - Você nem sempre é engraçado.
Russell - Um bobo da corte nem sempre é engraçado. Ele é o único cara que pode entrar no castelo e zombar do rei, desde que não mexa na ferida. Creio que essa é uma parte importante de todas as culturas ao longo da história, e gostaria que ela continuasse a existir na nossa.
Hawn - Mas tivemos um presidente ator, Ronald Reagan.
Russell - Como eu disse, atores podem aprender tanto quanto qualquer outra pessoa.
Hawn - Bem, só quero dizer que Reagan era um ator bem conhecido. Creio que entrar ou não em algo assim deve ser uma escolha pessoal. A única coisa com a qual não concordo é que, só por termos uma plataforma, devemos sempre usá-la. Isso é uma escolha.
O que falta realizar, entre seus sonhos de carreira?
Hawn - Eu não tenho vontade especial de fazer qualquer coisa. Quero ter uma vida feliz, e tenho. Quero poder viajar, mas no momento isso não é possível. Se aparecer um filme, ótimo, pode ser divertido. Fora isso, quero passar meu tempo com meus netos.
Russell - Atuar ainda é divertido. Não sei o motivo. A esta altura, não deveria.
Hawn: Acho que existe uma realidade, aqui, e a realidade já não favorece tanto assim a Kurt ou ao tipo de homem que faz certo tipo de filme. Mas para pessoas que tiveram carreiras como a minha, você precisa ser realista. O tempo que você tem para fazer o que queria fazer é finito.
Russell - Eu honestamente me interesso mais pelas carreiras da garotada do que pelas nossas.
Hawn: Oliver está fazendo o piloto de uma série, e meu neto também. Se der certo, eu disse, “existe o papel de uma mãe que aparece de vez em quando? Alguém quer me contratar como mãe de Oliver e avó de Bodhi?” Eu estou interessada mais na diversão do que na carreira. Sou muito grata por ter tido a carreira que tive.
Russell - Sua carreira foi ótima.
Parece que seus netos também pretendem continuar a tradição de serem atores.
Hawn - Sem dúvida. É maravilhoso como esses genes continuam a ser transmitidos.
Russell - Poucas famílias na história têm tanta gente no nível a que nossa família chegou. Não é algo que a gente promova. Mas se for a escolha deles, se eles quiserem, ótimo, que façam.
Vocês dois falaram sobre não se deixar enredar pela indústria, apesar de seus sucessos. Como essa abordagem direcionou suas vidas?
Hawn - Em termos de família, nós tentamos não trabalhar os dois ao mesmo tempo. Mas às vezes isso acontecia. [Na década de 1990], Kurt passou cinco meses fora fazendo “Cortina de Fogo”, e todo mundo ficou morrendo de saudades. Eu passei quase seis meses fora para fazer “Todos Dizem Eu Te Amo” e “O Clube das Desquitadas”.
Russell - Fizemos o melhor que pudemos, e creio que nossos filhos se beneficiaram das boas decisões e obviamente não se beneficiaram das decisões ruins ou das que não deram certo. A vida é assim.
Hawn - Bem, todo mundo precisa de algum motivo para ir ao psiquiatra. [Risos]
Tradução de Paulo Migliacci
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