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Keanu Reeves e Alex Winter homenageiam a amizade em 3º filme de 'Bill e Ted'

'Bill e Ted: Encare a Música' será lançado em 28/8 nos cinemas e streaming dos EUA

Os atores Keanu Reeves e Alex Winter, de 'Bill & Ted'

Os atores Keanu Reeves e Alex Winter, de 'Bill & Ted' Magdalena Wosinska/The New York Times

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Nova York

Nas crônicas da cultura pop do final do século 20, você encontrará poucos amigos tão excelentes quanto Bill Preston e Theodore "Ted" Logan. Os garotos atrapalhados do sul da Califórnia sempre se apoiaram lealmente, quer ao viajar pelo tempo por acidente em "Bill e Ted – Uma Aventura Fantástica" (1989), quer escapando do outro mundo em "Bill e Ted – Dois Loucos no Tempo".

Os dois filmes ajudaram na incorporação de muitas gírias ao léxico americano, e deram impulso inicial às carreiras dos dois protagonistas, Alex Winter (Bill) e Keanu Reeves (Ted). Três décadas mais tarde, os dois atores, ambos com 55 anos, continuam bons amigos.

Reeves agora é astro de séries de filmes de sucesso como “Matrix” e “John Wick”, e Winter se tornou diretor de documentários como “Showbiz Kids” e “Zappa”, que está para ser lançado. Mas eles estarão para sempre ligados a Bill e Ted, e ao fato de que gostam genuinamente um do outro, como explicaram em uma conversa via Zoom.

“Você convive com as pessoas em uma filmagem, e acha que faz parte de uma família, mas aí chega a hora da despedida e você nunca mais as vê”, afirma Winter. No caso de Reeves, diz Winter, “eu o vejo como irmão”.

"Gostamos da companhia um do outro, de como pensamos e de das opiniões que temos sobre o mundo. Quando nos encontramos, a gente sempre encontra alguma coisa de engraçado para compartilhar, encontra coisas estranhas naquilo que nos cerca", afirma Reeves.

Agora eles se reuniram para um terceiro filme, "Bill e Ted: Encare a Música", que depois de um período longo e muitas vezes complicado de desenvolvimento será lançado nos cinemas e serviços de vídeo pago em 28 de agosto.

O novo filme, escrito por Chris Matteson e Ed Solomon, os criadores de Bill e Ted, e dirigido por Dean Parisot (“Heróis Fora de Órbita”), encontra os personagens encarando a meia-idade, ainda buscando realizar seus sonhos não concretizados de unir o mundo pela música –dessa vez com a ajuda de suas filhas, Thea Preston (Samara Weaving) e Billie Logan (Brigette Lundy-Paine).

Reeves e Winter falaram sobre sua conexão duradoura, suas experiências formativas nos filmes originais da série e sobre a rodagem de “Encare a Música”. Abaixo, trechos editados da conversa.

*

Vocês dois começaram a atuar muito novos. Tinham se encontrado antes de rodar "Bill e Ted – Uma Aventura Fantástica"?
Reeves -
Não!
Winter - Nós nos conhecemos durante os testes. Keanu tinha vindo de Toronto para Hollywood. Eu tinha vindo de Nova York.
Reeves - Comecei a trabalhar com o que, 15 ou 16 anos? Já você recebeu seu primeiro cachê quando, aos cinco anos?
Winter - Oito. [Riso.]
Reeves - Nós dois crescemos no “show business”.
Winter - A gente se deu bem desde o começo, nas audições. Tínhamos treinamento semelhante e interessantes similares, sobre atuação e drama, e quanto às peças de que gostávamos.
Reeves - E o cinema!
Winter - Quando nos disseram que nós dois tínhamos sido escalados, ficamos muito contentes por termos conseguido juntos. É como começar em uma nova escola, você fica contente porque vai ter um amigo em sua classe. Era esse o clima.

Qual era o espírito, quando o filme entrou em produção?
Winter - Todos os envolvidos eram superjovens. [O diretor] Stephen Herek tinha menos de 30 anos. Chris e Ed eram poucos anos mais velhos do que Keanu e eu. Ninguém sabia o que estava fazendo.
Reeves - Mas Stephen Herek tinha uma visão bem clara, e todo mundo embarcou nela. Todo mundo se encaixou no tom que ele procurava, ninguém destoou. Queríamos fazer uma coisa real, mas era uma hiper-realidade. Bill e Ted foram personagens criados por Chris e Ed, mas eles nos deixaram ter voz própria.

Foi importante para vocês a oportunidade de trabalhar com George Carlin, que interpretava Rufus, o guardião de vocês nas viagens pelo tempo?
Winter - Não sabíamos quem faria o papel de Rufus até que a filmagem, já estava bem adiantada, e foi assustador; havia nomes em discussão –todos eram grandes atores, mas não eram a pessoa certa para o papel. Scott Kroopf [um dos produtores dos filmes “Bil eTed”] tinha trabalhado com Carlin no passado, e foi assim que ele chegou ao projeto. Keanu e eu ficamos chapados por ser George. Ele era uma pessoa muito centrada e sem frescuras, longe das câmeras. E eu diria que foi simpático com a gente ao ponto da caridade. [Risos.] Estávamos bem cientes de que ter um cara como ele dava peso ao projeto.
Reeves - Éramos jovens e éramos atores treinados, mas ajudava bastante ter pessoas por lá que nos elevassem. Nós nos sentíamos privilegiados por contar com isso.

Os atores Keanu Reeves e Alex Winter, de 'Bill & Ted'
Os atores Keanu Reeves e Alex Winter, de 'Bill & Ted' - Magdalena Wosinska/The New York Times

O lançamento do filme teve impacto perceptível sobre suas vidas?
Reeves - Fiquei feliz por ele estar em cartaz.
Winter - A DEG [distribuidora original do filme] faliu, e o filme passou um ano na prateleira. Fomos informados de que ele nunca, mas nunca mesmo, sairia. E assim levamos nossas vidas e nossas carreiras adiante. E então ele foi adquirido por uma empresa chamada Nelson Entertainment, que pagou uma ninharia. Eles realizaram um teste com o filme e o resultado foi ótimo. Estava rodando um vídeo com [a banda] Butthole Surfers, em Austin, no final de semana do lançamento. Meu agente ligou e me disse para olhar a capa da revista Variety. Lá estávamos Keanu e eu, na capa, uma imagem bem cafona, sentados sobre uma pilha de dinheiro. Lembro-me de ter pensado que, bem, pelo menos alguém está ganhando dinheiro com isso. Bom para eles.
Reeves - Não sei onde e quando o filme foi lançado. Mas em pouco tempo já havia gente pela rua que me via e dizia “excelente! Seja excelente!” As pessoas gostavam do filme.
Winter - Fui para a França nas férias de verão, e ouvia os moleques no Champs-Élysées andando de skate e falando como Bill e Ted, com um sotaque francês forte. Ali eu percebi que a coisa tinha tido algum impacto.
Reeves - Nossas vidas pessoais mudaram um pouco. Quando saíamos para jantar, as pessoas nos abordavam, entusiasmadas, e diziam: “Dudes!”. E nós reagíamos meio sem graça. “Firme na festa, ‘dudes’!” E nós, “sim, tudo bem”.
Winter - Lembro de alguém deslizando de joelhos, tocando “air guitar”, atravessando o restaurante todo até as banquetas em que estávamos no balcão. E lembro de ter comentado com Keanu que, não importa o que acontecesse, aquilo sempre aconteceria. [Risos.]

Vocês relutaram um pouco em filmar uma continuação –com medo de ficarem associados para sempre aos personagens, se isso acontecesse?
Winter - Não havia como fechar aquela porta, de qualquer jeito. [Risos.] E podia ser pior. Lembro-me de que um dia eu estava caminhando com Alan Rickman pela rua e um fã nos abordou. Alan disse que “você tem sorte por ser lembrado como o cara que interpretou Bill, e não Hans Gruber, o terrorista. As pessoas me cospem na cara. Já com você, elas querem dizer que te amam”.

A energia era diferente, no set de "Bill e Ted – Dois Loucos no Tempo"?
Reeves - Tinha acabado de passar 88 dias filmando o papel de Johnny Utah (em “Caçadores de Emoções”). E aí voltei a Ted. [Pausa.] Sim, foi meio estranho.
Winter - E “Garotos de Programa”.
Reeves - É mesmo. Assim, fiz “Caçadores de Emoções”, “Garotos de Programa” e aí voltei a ser Ted. Já estou viajando, desculpe.
Winter - Parte de “Bill eTed – Dois Loucos no Tempo” veio do fato de que, no primeiro filme, Keanu e eu, e Chris e Ed, costumávamos improvisar conversas sobre todo tipo de coisa, quando as câmeras não estavam rodando. Eles estavam escrevendo para nós, no segundo filme, o que ajudava bastante. Podíamos fazer coisas mais complicadas, em termos físicos e de diálogo, e de trama também, ir bem mais longe.

Quando vocês viram todas as comédias sobre duplas de rapazes que surgiram depois de Bill e Ted, como “Wayne’s World”, ou “Beavis e Butt-Head”, qual foi a sensação?
Winter - Acho que as pessoas não conhecem a cronologia, e isso nos favorece. Não acho que seja um caso de o ovo ou a galinha. O clima daquele período vomitou todas essas coisas ao mesmo tempo. As comparações só surgiram mais tarde.

Você acha que Bill e Ted era único, em sua era, na forma pela qual apresentava uma visão inocente e simpática da amizade masculina?
Winter - Isso é interessante.
Reeves - [Alegremente] Não sei se concordo!

Por favor, sinta-se à vontade para derrubar minha teoria.
Reeves - Não, não, não, estamos falando de algo subjetivo. Você acha que “Bill e Ted” foi o renascimento da amizade no cinema americano?
Winter - Acho que, em termos de filmes para jovens, isso provavelmente é verdade. A doçura de “Bill e Ted – Uma Aventura Fantástica” foi uma das coisas que me chamou a atenção quando li o roteiro pela primeira vez. Por causa da popularidade de John Hughes, era bem mais comum que as comédias jovens fossem sobre sexo e neuroses. Era um jeito de encarar a garotada como adulta. E o nosso filme era sobre dois caras muito amigos. Há uma autenticidade nisso.
Reeves - OK, então concordo que a história era incomum, e não necessariamente que ela era comum, e mais tarde ela caiu em desfavor e retornou.
Winter - Temos uma tese!
Reeves - [Em tom dúbio] Estou sempre procurando catarse. [Risos]

Por que demorou tanto, fazer “Bill e Ted: Encare a Música”?
Reeves - O show business é assim, não é? Muitas luas atrás, os roteiristas tiveram uma ideia. E nós dissemos que sim, era uma boa ideia. Vamos tentar produzi-la. Aí encontramos um produtor, e em seguida encontramos um diretor. E aí veio a parte de negócios.
Winter - [Com um barulho agudo] Isso é o barulho de um disco riscado. [Risos.] Para os fãs, a ideia parece óbvia. Para o mercado, esses filmes nunca pareceram óbvios até que foram lançados.
Reeves - Tivemos muitos desafios, criativos e de negócios, para levar essas histórias às telas.

O filme sempre teve como eixo a ideia de que Bill e Ted amadureceram e são perdedores de meia-idade?
Reeves - Essa era a premissa central, desde o começo –é claro que era isso que aconteceria.
Winter - Esse era o coração, o motor da comédia a que respondemos em primeiro lugar. Quando mais demoramos para conseguir colocar a ideia em produção, mais engraçada ela se tornava.
Reeves - Creio que seja seguro afirmar que futuras versões de Bill e Ted estarão vivendo as consequências de nosso presente fracasso. [Risos] Para mim, sempre houve algo de delicioso em interpretar o lado sombrio, a versão escura. Eu adorei interpretar o Ted malvado, em “Bill e Ted – Dois Loucos no Tempo”. Havia um encanto no papel.

Como foi a experiência de trabalhar com Samara Weaving e Brigette Lundy-Paine, que interpretam suas filhas e passam por uma aventura no filme?
Reeves - O trabalho delas foi maravilhoso. Elas estudaram os filmes antigos para saber como deveriam ser, mas criaram uma dinâmica própria entre elas. O senso de modas delas é único. São mais modernas. Estão conectadas a nós, mas são diferentes.
Winter - Elas têm suas personalidades. Interpretaram as personagens como duas boas amigas que cresceram juntas desde o berço. Inspiraram-se em nós, por serem nossas filhas, mas não tentaram ser como nós. Aproveitaram alguns traços superficiais que ajudariam a conectar qualquer pessoa, e desenvolveram seus personagens de um jeito muito autêntico.

O que os decidiu a voltar a interpretar Bill e Ted?
Reeves - Amo os personagens. Amo esse mundo, e amo trabalhar com Alex. Estou grato por termos tido a oportunidade de fazê-lo de novo.
Winter - É a mesma coisa que sinto. É um parque de diversões que realmente adoro visitar. E as emoções são reais. É difícil avaliar o retrospecto, agora, porque o verdadeiro teste ainda nos aguarda.

Sem querer estragar qualquer coisa, mas as cenas que acompanham os créditos no final de “Bill e Ted: Encare a Música” parecem revelar a extensão de sua devoção, aos papéis e um ao outro.
Reeves - Oh, você percebeu!
Winter - E foi a última coisa que filmamos, a última, e foi ótimo. A maquiagem foi demorada e desconfortável, mas fora isso, foi uma delícia fazer o final. Foi o nosso martíni.

The New York Times

Tradução de Paulo Migliacci.

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