Murilo Benício estreia como diretor ao adaptar peça de Nelson Rodrigues para o cinema
'O Beijo no Asfalto' conta com leitura de Fernanda Montenegro
Assim que colocou os olhos no texto da peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues (1912-1980), Murilo Benício decidiu como seria sua estreia na direção. “Lembro que li o livro e me veio o filme inteiro na cabeça."
Mas não foi fácil produzir a obra, que entra em cartaz na próxima quinta (6) nos cinemas. Para começar, Benício mostra outra visão da história sobre um homem que testemunha um acidente e beija o atropelado, enquanto este está prestes a morrer. Seu longa-metragem é uma mistura de documentário, teatro e filme de ficção (tudo isso em preto e branco).
Benício filma todo o processo: dos bastidores à atuação. Nas cenas, é possível ver a atriz Fernanda Montenegro e o diretor teatral Amir Haddad discutindo os diálogos em uma mesa de leitura, ao lado de outros do elenco. Ou as atrizes Débora Falabella (como Selminha) e Luiza Tiso (Dália) interpretarem irmãs enquanto se arrumam nos camarins.
Nascida nos idos de 2000, a ideia demorou a virar realidade, pois o ator e diretor teve problemas de financiamento. "É difícil fazer Nelson. Só pensam em comediona”, afirma. “Nada contra. Inclusive, acabei de fazer uma, ‘Divórcio’ [de 2017]. Mas é importante manter um cara como Nelson vivo.”
Finalizado com recursos próprios e do Fundo Setorial do Audiovisual e da RioFilme, além de coprodução do Canal Brasil, o projeto tem nomes como Lázaro Ramos (no papel do protagonista Arandir), Stênio Garcia (Aprígio, pai das moças) e Otávio Müller, o jornalista antiético Amado Ribeiro.
As gravações ocorreram em 2015, durante 12 dias. “Vamos mandar ao ‘Guiness Book’ [o livro dos recordes]”, brinca Benício. Ele conta que começavam a filmar às 18h e terminavam às 5h da manhã seguinte. Para Débora, trabalhar nesse horário era uma maravilha. “Não passa carro nem tem gente te ligando, mandando mensagem.”
Escrita por Nelson Rodrigues em 1960, sob encomenda de Fernanda Montenegro, “O Beijo no Asfalto” mostra como a vida de Arandir muda após ele ser alvo de notícias falsas. Na história, por ele beijar um homem, todos o veem como homossexual.
Benício diz se assustar com a atualidade da trama. “Moramos num país preconceituoso. Nelson sacou isso lá atrás."
Essa é a segunda produção cinematográfica feita a partir da peça de teatro homônima de Nelson Rodrigues. A primeira foi em 1980, dirigida por Bruno Barreto e com Tarcísio Meira, Lídia Brondi, Daniel Filho e Ney Latorraca no elenco.
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