'Sharp Objects' seduz com mulher desajustada em trama de mistério, horror, tentação e álcool
Trama da HBO é baseada em livro da mesma autora de 'Garota Exemplar'
Um dos raros casos em que a obra audiovisual supera a literária que a inspirou, a série "Sharp Objects" ("Objetos Cortantes", em português), disponível no site de vídeos sob demanda HBO Go, prende o público do início ao fim ao combinar uma série de acertos.
O primeiro deles é ter um roteiro que fragmenta o mistério com requintes de crueldade ao ir e voltar no tempo; a trilha sonora, conduzida por quatro canções-chave da banda britânica Led Zeppelin; a atuação afiadíssima da atriz Amy Adams como garota-problema; e, por fim, a direção soturna, que faz o telespectador sofrer com a protagonista -e querer continuar sofrendo pelos próximos episódios.
Por isso, e não pela falta de qualidade do livro que a inspirou –“Objetos Cortantes” (R$ 39,90, 256 págs., Intrínseca), da autora americana Gillian Flynn-, a série do diretor Jean-Marc Vallée mexe mais com o público.
Na história, Amy Adams vive a jornalista alcoólatra Camille Parker. Ela logo é apresentada como uma mulher na casa dos 30 anos, recém-saída de uma clínica psiquiátrica, que recebe a missão de retornar à sua sombria cidade natal para investigar o assassinato de uma garotinha.
O que seu editor na realidade deseja é que ela reencontre com os demônios do passado e os execute. Mas, para isso, Camille terá de exorcizar lembranças traumáticas da infância, como a morte da irmã mais nova.
Nessa cidadezinha, em que todos parecem esconder algo de suas vidas tediosas, quem manda é a mãe de Camille, Adora (Patricia Clarkson), que vive com o padrasto (ambos podres de ricos) e a meia-irmã da mocinha (bem longe de ser a princesa da história).
Conforme avança nas investigações do crime, a jornalista expõe suas maiores vulnerabilidades, como o gosto por cortar o próprio corpo. E seu modo de fazer isso é algo determinante para a identidade da série.
Muito embora não existam planos para a segunda temporada, o desfecho do livro deixa pontas a serem exploradas em possível continuação. O problema é que Amy Adams não estaria disposta a mergulhar na mente obscura da personagem novamente. Não vamos culpá-la.
CLÁSSICOS DA TRILHA SONORA SÃO FUNDAMENTAIS
Mais do que um complemento, a trilha sonora é o fio condutor da série "Sharp Objects" e está presente nos momentos em que a protagonista, Camille Parker (Amy Adams), usa o recurso da música para tentar decifrar as sombras que rondam sua história e sua mente.
Na trama, a jornalista, que confessa não gostar de música, contudo, é apresentada à épica “Thank You”, da banda britânica Led Zeppelin, pela colega de quarto na clínica psiquiátrica –uma jovem de 16 anos– como uma válvula de escape para enfrentar suas próprias emoções.
E é do celular da garota, que Camille guarda para si, que saem também “In the Evening”, “I Can‘t Quit You Baby” e “Whole Lotta Love”, cujos direitos foram cedidos pelo lendário grupo de rock ao diretor da atração.
Se Camille descobre a amiga pelas canções, o público conhece mais da personagem ao acompanhar a trilha avassaladora, composta também por Bob Dylan, Johnny Cash e Bee Gees. Com “In the Evening”, por exemplo, os mais atentos notam dicas de um dos principais mistérios do enredo, no refrão “Oh, I need your love” (preciso do seu amor).
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