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Em Portugal, Luana Piovani chora e se diz feminista: 'No Brasil somos mais barraqueiras'

Atriz participou de roda de conversa com mulheres e falou sobre experiências pessoais, deu dicas e conselhos: 'É muito humilhante apanhar, mas é mais vergonha bater! Não se calem'

Luana Piovani em pé no palco, de casaco bege
Luana Piovani em conversa com muheres, em Portugal - Andrea Fiamenghi
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Paloma Guedes
Sesimbra (Portugal)

Quem esperava a "Luana Piovani polêmica" de muitas entrevistas que circulam pela internet, se decepcionou. Ou melhor, se surpreendeu. A Luana que conversou com um grupo de mulheres na estreia do projeto Oráculo, no município de Sesimbra, a 40 km de Lisboa, estava diferente daquela que aparece na web falando sem freio sobre assuntos variados.

A tarde deste sábado, seguinte ao Dia Internacional da Mulher (no qual muitas flores são dadas e poucas mudanças são feitas), estava fria e chuvosa. Mas a sala do charmoso Cine Teatro João Mota, que comporta aproximadamente 200 pessoas, estava cheia de mulheres de todas as idades e sotaques.

Sem glamour, roupas luxuosas ou maquiagem elaborada, ela, que agora assume de forma mais confortável os títulos de ativista e feminista, foi uma espécie de amiga e conselheira da mulherada ali presente. Claro que seu senso de humor ácido, por vezes sarcástico, esteve presente. Mas poucas vezes foi usado porque, durante mais de duas horas, dores foram colocadas para fora.

Por vezes em uma poltrona, outras em pé e em alguns momentos sentada à beira do palco junto às pessoas, Piovani tinha dois assuntos pré-estabelecidos para a conversa: "Despertar e empreender".

A necessidade da independência financeira e a percepção da violência vivida no dia a dia (não apenas a física) foram amplamente falados, desabafados. "Eu sei da vergonha, é muito humilhante apanhar, mas é mais vergonha bater! Não se calem! Pelos filhos, pelas vizinhas, pelas primas, pelas amigas, pelas mal conhecidas, não se calem. Denunciem", disse Luana.

Ela, que normalmente se apresenta com a voz empostada e poderosa, desta vez surgiu com um tom embargado. Seus olhos marejaram em alguns momentos. "Eu quis que vocês me vissem chorando. Mas eu não chorei de atriz. Eu chorei de gente que eu sou. E eu gosto porque eu quero que vocês me vejam como ser humano, porque eu sou exatamente o que vocês são: mulheres violentadas". Ela disse ainda que despertar é dizer não: "não quero, não permito, não posso, não deixarei".

A produtora cultural e jornalista Magda Burity, e a advogada Mariana Simões, se juntaram a Luana no palco para trazer um pouco de suas experiências. Magda falou sobre representatividade e a importância de que as mulheres enxerguem todas as mulheres, independente de classe social e cor da pele: "Vivemos em uma sociedade extremamente violenta ancorada nas redes sociais. As mulheres que estão aqui em cima são todas muito diferentes mas tem historias muito semelhantes, e isso pode ser uma prevenção da violência".

Já Mariana, que atualmente faz mestrado em família e infância, conversou com o F5 sobre a necessidade de mudanças em Portugal: "além de termos que educar e reeducar, é preciso mudar a lei desde cima. Porque se uma mulher sentir que não está segura, vai fazer uma queixa e se existir uma impunidade por aquele ato, ela não vai denunciar".

Muito se falou sobre diferenças entre a forma da Justiça dos dois países em lidar com casos de violência contra as mulheres, assim como a postura delas em cada contexto sobre o quais estão inseridas. Em Portugal, segundo Mariana, movimentações da sociedade civil como abaixo-assinados, protestos e greves não fazem diferença para que mudanças reais aconteçam nas leis que tendem a não proteger as mulheres.

Nisso, Luana discordou: "Eu acho que em Portugal não muda muito porque vocês não fazem. No Brasil a gente é mais unida e mais barraqueira. A gente 'bota fogo em Roma'. A gente pega a pá e vai pra rua. A gente dá na cara das pessoas. Aqui vocês são muito finas, são muito chiques", arrancando risadas, um pouco nervosas, de praticamente todas ali.

Nem o frio e a chuva torrencial desestimulou as amigas portuguesas Mafalda Alves e Bárbara Teixeira, ambas de 18 anos, a participarem do Oráculo. "Acompanho a Luana desde 2020 e acho que o que ela faz nas redes sociais é muito importante", disse Mafalda. "Como ela é mais velha, é uma inspiração, principalmente com o trabalho com as mulheres", concordou Bárbara.

Já Silvia, 57 anos, Isabel, 61 e Manuela, de 67, todas integrantes da família Dias, naturais da região, souberam do evento que aconteceria no Teatro da cidade e decidiram comparecer, mesmo conhecendo Piovani apenas pelo seu trabalho nas telenovelas portuguesas. "Viemos porque há ainda muita coisa a fazer pelas mulheres", afirmou Isabel.

Perguntada pelo F5 se sentia confortável ao ser classificada como feminista, Luana respondeu: "Se a mulher diz que não é feminista ela não devia nem votar, porque ela só vota graças às feministas. Feministas somos todas nós, queiram vocês ou não. Se vocês lutam pela liberdade, pelo direito à vida e o respeito, somos todas feministas".

A reportagem também questionou como as críticas sobre a falta de sororidade para com as mulheres famosas de quem discorda "batem"nela: "Não batem! Sabe o que 'me bate'? A violência! Eu choro sozinha, eu falo 'meu deus, como é que eu posso ajudar?’. Isso me dói de chorar".

Após escutar o depoimento de uma mãe sobre a dificuldade de lidar com seus filhos, Luana contou como é sua experiência de maternidade: "Eu sou mãe de dois homens; é uma luta muito injusta. O habitat que eles vivem só ajuda a essa imagem e a essa cartilha machista. Eu luto uma todo dia porque tudo faz com que os meus filhos tenham a tendência a ser machistas. A sociedade portuguesa, a sociedade brasileira, o pai dos meus filhos, os amigos do pai dos meus filhos e as escolhas dos meu filhos e do pai dos meus filhos".

Sobre o ex-marido, Pedro Scooby, com quem brigou judicialmente em Portugal por conta da pensão e guarda dos três filhos, e sobre o ex-namorado que a agrediu fisicamente, Dado Dolabella, pouco falou de forma direta e em nenhum momento usou seus nomes.

Mas compartilhou que após a violência sofrida, apesar de ser apaixonada pelo agressor, ela se protegeu do jeito que pode: "Para mim ele morreu. E aí eu vivi meu luto, minhas coisas. A gente tem que despertar mesmo que doa", disse calmamente para sua atenta audiência, como uma dica para quem, infelizmente, venha a passar pelo mesmo.

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