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Celebridades

Por onde anda Mirella, a repórter mirim de Ribeirão Preto que queria ser Glória Maria

Jornalista foi conhecê-la e se emocionou ao saber que era fonte de inspiração para a menina

Em foto colorida, uma mulher abraça uma adolescente e as duas sorriem para a foto
'Glória Maria era uma referência como mulher, mulher negra e profissional', diz Mirella Archangelo - Reprodução/Instagram/@mirella_archangelojm
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Rio de Janeiro e Ribeirão Preto

A voz é firme, mas um pouco embargada. Mirella Archangelo não queria falar sobre a morte de Glória Maria nesta quinta-feira (2). Ela queria mesmo é contar para a jornalista a mudança em sua vida desde o primeiro e único encontro há seis anos em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Queria contar também que a indecisão entre Letras e Jornalismo acabou ali. "Ela me mostrou que eu poderia ser jornalista e que essa era a função que eu teria nesse mundo para poder me expressar".

Mirella recebeu a notícia da morte de Glória Maria, vítima de câncer, através de sua mãe, que soube pela televisão logo pela manhã. "Fiquei bem triste. Glória era uma referência como mulher, mulher negra e profissional. O legado que ela deixou de como usar o jornalismo para evidenciar os problemas sociais é o que mais me marcou. É isso que eu quero fazer", conta ao F5.

Aos 16 anos, a "Mini Glória Maria" como ficou conhecida ao brincar de ser repórter denunciando as ruas esburacadas do Parque Industrial Avelino Alves Palma, na periferia do município paulista, ganhou uma bolsa integral em um dos colégios mais tradicionais da região e tem asfalto na porta de sua casa.

Mirella diz que seu maior desafio hoje é ter condições financeiras para manter seu ritmo de aprendizado e vencer o vestibular. "Eu estou focada, tenho bolsa de 100% em um colégio particular, mas minha família fica com todo restante do custo, materiais, transporte, alimentação. E como eu não sou filha única, ainda tenho três irmãos para quem minha família tem que garantir os estudos."

A estudante chegou a ser convidada algumas vezes para ser apresentadora de eventos. "Tive a oportunidade de aprimorar, de aprender com diversas pessoas, inclusive ela, [ampliando] meu ponto de vista sobre liberdade de expressão, sobre o que é ser jornalista, de como é uma carreira linda e que pode ajudar tantas pessoas", diz.

Sobre a fama e o espaço que conquistou na mídia, ela acha que é possível melhorar, demonstrando que seu potencial para ser uma ótima jornalista é mesmo real. "As pessoas me procuram muito em novembro, mês da Consciência Negra, e é para falar sobre racismo, porque sou uma menina negra da periferia, mas, apesar de ser um ponto que gosto, que busco estar ativa, não sou só isso. Também gosto de discutir muito sobre outras pautas que não sou reconhecida para ter lugar de fala. Eu adoro ler, por exemplo, gosto de discutir sobre livros, filmes", reconhece.

"Desde aquela reportagem a minha vida mudou em todos os sentidos. Infelizmente, não tive a oportunidade de encontrá-la novamente para contar tudo e também agradecer", observa. "Ela foi e sempre será uma pessoa importante para mim. Pensar que é possível chegar aonde ela chegou é um estímulo."

Mirella revelou ter acompanhado a luta que Glória Maria travou contra a doença, descoberta em 2019. Pensou em mandar uma mensagem pelas redes, mas achou que poderia incomodar e preferiu rezar e torcer por uma recuperação. "Glória era uma mulher reservada e aí fiquei receosa de escrever para ela. É triste pensar que uma pessoa que você tanta admira morreu assim. É como se você perdesse um reflexo, sabe? Quando a conheci, ela me ensinou a como segurar um microfone, me ensinou a ter postura e a saber falar. São ensinamentos que eu nunca vou esquecer. Ela era incrível", finaliza.

Em foto colorida, mulher de blusa preta sorri para foto
Mirella Archangello, hoje, está com 16 anos e pretende cursar a faculdade de Jornalismo - Reprodução/Instagram/@mirella_archangelojm
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