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Celebridades

'Estava querendo descansar', diz filho de Milton Gonçalves sobre morte do pai

Maurício diz que ator não se recuperou do AVC sofrido em 2020

Lázaro Ramos, de branco, se emociona ao abraçar a filha de Milton Gonçalves, Alda, de camisa da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz,no velório do ator no Rio
Lázaro Ramos se emociona ao abraçar a filha de Milton Gonçalves, Alda, no velório do ator no Teatro Municipal no Rio de Janeiro - AgNews
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Rio de Janeiro

As bandeiras do Flamengo, time do coração, e da Mangueira, escola de samba favorita, estavam sobre o caixão, mas era uma mesa com alguns objetos pessoais que chamava a atenção no velório de Milton Gonçalves, que morreu nesta segunda-feira (30), aos 88 anos, em decorrência de um AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico sofrido em 2020.

Quem chegava ao salão principal do Teatro Municipal, no Centro do Rio de Janeiro, nesta terça (31), logo reparava no porta retrato com uma foto do seu último trabalho na televisão —o especial de Natal "Juntos a Magia Acontece", exibido em 2019, na Globo—, dois buquês de rosas brancas e um tradicional quipá, chapéu usado pelos judeus.

"O meu pai era um gói, um não judeu, quase convertido. Tinha uma ligação forte com o judaísmo bem como o catolicismo, o budismo e espiritismo", comenta Alda Gonçalves. Filha do meio do ator, ela lamentou ainda ter esquecido as guias do candomblé. "Ele era um brasileiro. Um homem de diversidades culturais, sociais e religiosas".

Alda disse ao F5 que antes de sofrer o AVC, durante uma feijoada da escola de samba Salgueiro, no Rio, em fevereiro de 2020, Milton tinha projetos encaminhados. "O meu pai tinha milhões de ideias. Uma delas era o desejo de produzir e atuar em "O Rei Lear", que ele começour a esboçar. A outra era documentário que nós, os três filhos, estávamos produzindo e ele participava ativamente", se emociona ao lembrar.

Filho mais velho do ator e também do mesmo ofício, Maurício Gonçalves chorou com a homenagem da Acadêmicos do Santa Cruz, que em abril defendeu o enredo sobre a trajetória do artista pela Série Ouro do Carnaval do Rio. Integrantes da agremiação cantaram o samba enredo no final do velório. "Meu pai alternava momentos de lucidez por conta dos remédios, mas ele assistiu ao desfile. Ficou bem emocionado", relembrou.

Maurício admitiu também que Milton estava sofrendo: "Não vou mentir. O AVC foi muito forte e meu pai não conseguiu se recuperar. Ele nunca mais foi o mesmo e estava querendo descansar".

"Ele estava sofrendo e a gente não gosta de ver as pessoas que a gente ama sofrendo. A cultura perde muito e fica meio órfã sem Milton Gonçalves. Mas, ele cumpriu a missão dele com muita dignidade, muito talento", analisa Zezé Motta, que lembrou ter sido várias vezes o par romântico do ator nas novelas. "Eu fui tantas vezes mulher dele na dramaturgia, que estou me sentindo viúva", brincou lembrando do bom humor do colega. "As pessoas que não tiveram intimidade com ele não têm noção de como era divertido, engraçado. Ele tinha aparência séria, mas debochava de tudo".

Um dos artistas mais emocionados durante o velório, Lázaro Ramos não conseguiu ficar até o final de cerimônia e chorou ao se aproximar do corpo para se despedir do ator. "Ele, pessoalmente pra mim, tem um sentido maior porque foi e é a pessoa que abriu o caminho para eu chegar onde eu cheguei. Se eu sou ator, se eu tenho alguma ativação política é muito pela voz que ele abriu a todos nós", declarou o ator.

Toni Tornado foi outro que também não segurou as lágrimas. Ele confidenciou que escolheu usar roupa branca na despedida do amigo, levando em conta um pedido que havia sido feito pelo próprio Milton há muitos anos. "Eu só vim de branco porque ouvi isso dele: 'no meu enterro eu quero as pessoas de branco'. E eu não esqueci isso jamais, apesar de ser mais velho do que ele".

Amigo de Milton há mais de 60 anos, Antônio Pitanga lembrou da trajetória de ambos e definiu o ator como um "gigante". "Gigante porque mesmo no final, continuou lutando. Ele era de uma nobreza que te banha de riqueza e de referência". Pitanga ressaltou ainda que Milton trabalhou para que os atores negros interpretassem papeis de prestígio e não apenas personagens subalternizados. "Ele sai da vida e entra na história com a missão cumprida. Cabe a nós continuar a luta de Milton Gonçalves", finalizou.

A cerimônia, aberta ao público, começou por volta das 9h30 e terminou às 13h30. O corpo do ator foi levado para o Cemitério da Penitência, no Caju, onde foi cremado em uma cerimônia restrita à família no final da tarde.

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