Ex-ator mirim, Cole Sprouse fala sobre equilíbrio saudável em Hollywood
Famoso por 'Zack & Code', ator quis deixar a carreira antes de 'Riverdale'
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"Espero que você não se incomode, mas vou comer esse sanduíche de frango enquanto a gente conversa", me informou Cole Sprouse polidamente, sentado na cozinha e vestindo um suéter azul bebê. O sanduíche já estava a meio caminho de sua boca. "Mutitasking" é algo a que ele está acostumado.
Ele e seu irmão gêmeo, Dylan, começaram suas carreiras como atores profissionais quando crianças, e trabalharam constantemente durante toda a infância, dividindo papéis importantes em "Grace Under Fire e "O Paizão", com Adam Sandler.
Cole interpretou o papel do filho de Ross em "Friends" antes de voltar a dividir a tela com o irmão em "Zack e Cody: Gêmeos em Ação", uma série de humor do Disney Channel. (Cole era o cerebral Cody.) O sucesso da série, quando eles eram pré-adolescentes, levou a séries derivadas, um filme feito para a TV, e ao estrelato adolescente para os dois irmãos. Aos 18 anos, os dois já estavam saturados.
Mas depois de se formar na Universidade de Nova York, em arqueologia, Cole Sprouse cumpriu a promessa que tinha feito ao seu empresário e deu mais uma oportunidade à televisão, antes de deixar de vez o ramo. Ele conquistou o papel de Jughead Jones, um sujeito taciturno e excluído, em "Riverdale", drama da rede CW, e voltou ao trabalho.
"Comecei a atuar quando era tão pequeno que, como adulto, nem tinha tentado pensar sobre se eu realmente gostava do trabalho", disse Sprouse de Vancouver, no Canadá, onde ele está filmando a sétima temporada de "Riverdale". Ele prosseguiu: "Quando voltei, tive de me fazer lembrar de que amo muito a arte da atuação. Mas ainda tenho um relacionamento complicado com a cultura das celebridades".
Ele aprendeu a proteger sua vida privada. Os raros comentários que faz sobre seus relacionamentos passados (por exemplo com Lili Reinhart, sua colega de elenco em "Riverdale") e atuais (com a modelo Ari Fournier) são esquadrinhados pelos fãs e divulgados incansavelmente pelos veículos de mídia. Ele criou uma conta secundária no Instagram onde posta fotos de desconhecidos que tentam fotografá-lo sem que ele perceba. "Era uma tentativa de mostrar que eu também podia ter parte ativa naquela situação", ele explicou. "Foi algo que me ajudou bastante".
O papel mais recente dele é em "Nossos Sonhos de Marte" ["Moonshot"], do serviço de streaming HBO Max –favor não confundir com "Cavaleiro da Lua" [Moon Knight"] (2022) e com "Moonfall", que ainda está em produção. A história se passa no futuro próximo, quando robôs trabalham em cafés e Marte está sendo colonizado, e Sprouse interpreta Walt, um universitário folgado que pega carona em um foguete para Marte em companhia de Sophie (Lana Condor), para tentar encontrar uma garota que vive em Marte e que ele acredita que pode ser a mulher certa para ele.
Fumando intermitentemente um cigarro eletrônico, depois de terminar o sanduíche, Sprouse falou sobre bilionários, os efeitos de ser famoso na infância, e sobre chegar aos 30 anos. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
"Nossos Sonhos de Marte" é uma interpretação futurista de uma comédia romântica convencional. Você é fã de comédias românticas?
Tenho minhas favoritas, e elas variam muito em estilo. Sou grande fã de "Ressaca de Amor", por exemplo. E embora haja um elemento romântico pesado no filme, a maioria das pessoas o chamariam de comédia e só –mas, se considerarmos os limites do gênero, é uma comédia romântica.
Acho que comédias românticas foram menosprezadas por tempo demais como "filmes para meninas", histórias chochas que só interessariam às garotas. Histórias centradas em personagens homens, como "Ressaca de Amor", fizeram algumas pessoas repensar esse conceito.
A tendência geral da arte começa sempre com uma grande base de fãs feminina que se apaixona por algo. Em muitos casos, vemos essa audiência feminina desbravando o território primeiro, e depois todo mundo a segue. Em "Nossos Sonhos de Marte", o que tentamos foi fazer um filme que não se levasse a sério demais, que permitisse muita diversão leve, e conseguimos criar uma dinâmica de casal casado há muito tempo entre Lana e eu.
O filme também critica fortemente a corrida espacial dos bilionários: o personagem de Zach Braff, inspirado por Elon Musk, admite que poderia ter usado sua fortuna para resolver o problema da fome mundial em dezenas de ocasiões, mas em lugar isso preferiu ir a Marte. Como você se sente sobre as empreitadas atuais de caubóis do espaço como Musk e Jeff Bezos?
Oh, acho que são tremendamente masturbatórias. É uma coisa ridícula. Quando estudei arqueologia, nós costumávamos conversar sobre a ressurreição dos mamutes. A conversa sempre terminava dividindo os participantes em dois campos: aqueles que só queriam ver os mamutes de volta ao planeta. E aqueles que diziam "ei, há espécies que estão sendo extinguidas agora. Se usarmos os recursos que vocês estão falando em aplicar à recriação dos mamutes e mudarmos o foco para o presente, poderíamos fazer um bem muito maior". Sinto que essa conversa sobre caubóis do espaço é muito parecida. Eu sou parte do campo que prefere concentrar nossas atenções no presente. Temos um espaço ativo no qual vivemos e ele está decaindo, agora mesmo. Precisamos transferir o foco e os recursos para o agora.
Ou seja, não há muita probabilidade de que você reserve passagem num voo comercial para a Lua, por enquanto.
Não, já sou esquisito e muito paranoico quando o assunto é viajar de avião. Não consigo imaginar o que essa minha natureza de maníaco por controle faria quando chegasse a hora do lançamento. Eu ficaria destruído.
As pessoas gostam de falar sobre antigos astros infantis nos termos de dicotomia em que eles ou perdem completamente o controle ou, de alguma forma, "conseguem passar por aquilo bem". Você acha que é possível que alguém passe por uma experiência desse tipo incólume?
Meu irmão e eu costumávamos ouvir com frequência que "vocês sobreviveram bem, vocês não saíram feridos". Não é verdade. As garotas jovens no canal para o qual trabalhávamos (Disney Channel) eram pesadamente sexualizadas, quando eram ainda mais novas do que meu irmão e eu, e não há maneira de comparar nossas experiências às delas. E todas as pessoas que passaram por aquele trauma tiveram experiências únicas.
Quando falam de astros infantis que enlouquecem, o que não está sendo discutido, na verdade, é o fato de que a fama é um trauma. Por isso sou violentamente defensivo contra pessoas que zombam de algumas das jovens que trabalhavam naquele canal quando eu era mais moço, porque acho que as pessoas não compreendem adequadamente o lado humano daquela experiência, e a dificuldade da recuperação. E, para ser bem honesto, acabo de passar por uma segunda rodada do mesmo tipo de fama, como adulto, e percebi os mesmos efeitos psicológicos causados pela fama sobre um grupo de jovens adultos, exatamente como aconteceu quando eu era criança. Só acho que as pessoas têm muito mais facilidade de esconder esses efeitos quando são mais velhas.
Depois que surgiu o anúncio de que "Riverdale" havia sido renovada para uma sétima temporada, apareceram muitos memes imaginando sua reação ao ser informado disso. O consenso geral da internet era o de que você ficaria arrasado por ter de fazer uma nova temporada. Isso procede?
(Risos.) Não procede completamente. Para começar, porque sempre presumi que cumpriríamos na íntegra nossos contratos, que eram por sete temporadas. Segundo, acho que a internet supõe –por conta de o quanto a série é insana– que provavelmente estamos nos saindo um pouco pior em nossas vidas reais do que de fato estamos. É fácil esquecer que as pessoas amam a série. E acho que ela será muito mais apreciada dentro de 10 anos do que é agora. Seria pomposo de minha parte dizer que mais uma temporada de estabilidade financeira é algo que não me atrai. Mas não vou mentir. Os memes me fazem rir.
Você criou uma carreira paralela como fotógrafo profissional, principalmente de moda. O que, na fotografia, o levou a se dedicar a essa mídia?
Quando eu estava na universidade, viajava muito para trabalhos arqueológicos, e por isso sempre carregava minha câmera e tirava fotos quase antropológicas das pessoas que encontrava, dos lugares em que estava. E mais tarde, porque moro em Nova York, me envolvi em trabalhos de moda e criei um portfólio. Era minha principal fonte de renda até a temporada dois de "Riverdale".
Você vai chegar aos 30 anos em agosto. Será que a nova década de sua vida vai representar o começo de um novo capítulo?
Com certeza. Acho que as coisas estão mais alinhadas para mim do que em qualquer momento do passado. Também veremos o fim da série à qual dediquei a maior parte dos meus 20 anos, e por isso há um mundo de possibilidades diante de mim no final dessa produção, o que acho embriagador e incrivelmente atraente. E, odeio decepcionar as pessoas, mas não sou o único cara de 30 anos que interpreta um adolescente na TV.
Você entra na universidade, em "Nossos Sonhos de Marte". Seus personagens estão começando a envelhecer.
Aos pouquinhos, devagar e sempre. Em um mundo ideal, quando "Riverdale" acabar, eu adoraria fazer um ou dois filmes por ano e trabalhar com fotografia o resto do tempo. E a interseção lógica dessas duas coisas seria me tornar diretor, um dia.
Estamos vivendo um momento de extrema nostalgia pelas décadas de 1990 e 2000. Você vê alguma chance de completar o círculo e fazer uma versão repaginada de "Zack & Cody: Gêmeos em Ação"?
Não acho que eu um dia volte a fazer isso. Não que eu tenha problemas com outras pessoas que fazem versões repaginadas. Mas acredito muito em que, se algo foi bonito no passado, devemos deixar que continue sendo bonito. Tentar conduzir essa coisa ao futuro é como requentar uma refeição realmente ótima no micro-ondas. Seria difícil, depois dos 30 anos, dizer (e ele resmunga em tom grave): "Zack e Cody estão de volta, cara!"
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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