Celebridades

Flávio Migliaccio morreu sem receber indenização de processo que já dura 20 anos

Indenização seria pela destruição dos rolos da série 'Tio Maneco'

Flávio Migliaccio em cena da novela "Passione" - Alex Carvalho/TV Globo
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São Paulo

O ator Flávio Migliaccio, encontrado morto na última segunda-feira (4), aos 85 anos, morreu sem receber a indenização de uma ação que ele movia há mais de 20 anos contra a TVE. Segundo seu advogado, Sylvio Guerra, ele já tinha ganho, mas o valor ainda seria definido por um perito.

Com a morte do ator, a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto), que sucedeu a extinta TVE no processo, entrou com um pedido de suspensão da ação. A informação foi dada pela coluna Fábia Oliveira, do jornal O Dia, e confirmada ao F5 pelo advogado do ator.

Segundo Guerra, o pedido de suspensão foi feito “mesmo antes de Flávio ser sepultado” e solicita a apresentação de um sucessor do ator no processo, que será seu filho, Marcelo Migliaccio. “Enquanto o perito apura o valor da ação, que o Flávio já ganhou, eu habilitarei seu filho único na qualidade de sucessor.”

O processo, que corre na 14ª Vara Cível do Rio de Janeiro, garantiu o direito de Migliaccio ser indenizado pela destruição das fitas de rolo que continham os mais de 400 capítulos da série “Tio Maneco”, interpretado por ele na TVE, segundo a coluna Fábia Oliveira, além de uma indenização por danos morais.

Migliaccio foi encontrado morto em seu sítio em Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro. A morte foi confirmada como suicídio por seu único filho, Marcelo, segundo quem o pai estava em depressão profunda desde o ano passado.

MEMÓRIA

Migliaccio nasceu no bairro do Brás, no centro de São Paulo, numa família de 17 irmãos —uma delas, Dirce Migliaccio, também atriz. Ele contava ter descoberto os palcos aos 14 anos, quando foi expulso do colégio católico que frequentava depois de denunciar o assédio que sofria dos padres —a experiência foi descrita no espetáculo autobiográfico "Confissões de um Senhor de Idade", seu último trabalho no teatro.

Então, caminhava perto da igreja do Tucuruvi, na região norte da cidade, quando ouviu um grupo se apresentando no local. Entrou, se sentou e começou a assistir à peça. Gostou tanto que foi falar com o ator principal, dizendo que era capaz de fazer aquilo. O ator cedeu seu lugar para ele, que passou a desempenhar o papel com destreza. Migliaccio participou da companhia amadora por três anos.

De origem pobre, o ator teve de arrumar outras ocupações além do teatro, trabalhando como balconista e mecânico para sobreviver. A profissionalização só aconteceu em meados dos anos 1950, quando, depois de um curso com o italiano Ruggero Jacobbi, ele foi encaminhado para o Teatro de Arena.

Seu primeiro papel no grupo foi o de um cadáver na peça “Julgue Você”, de 1956. Segundo o ator, havia muitas pulgas no espaço, e o figurino praticamente o impedia de respirar, fazendo com que ele tivesse de realizar um trabalho hercúleo de concentração com a plateia tão perto do elenco.

Foi nos anos 1970, no entanto, que o ator se tornou conhecido do grande público, na série da TV Globo “Shazan, Xerife e Cia”. De 1972 a 1974, ele viveu o Xerife, dupla do Shazan de Paulo José.

Embora alguns atores odeiem ser marcados por um só papel, com Migliaccio isso não acontecia. Segundo ele, queria ser “desmoralizado” e ficar com o personagem Xerife para o resto da vida. O ator sempre gostou do Carlitos de Charles Chaplin e do Mr. Bean de Rowan Atkinson.

Depois, foi eternizado com outro papel, o do personagem-título da série “As Aventuras do Tio Maneco”, exibida pela TVE de 1981 a 1985. Sua origem foi o filme homônimo de 1971, dirigido pelo próprio Migliaccio, que ganhou a sequência "Maneco, o Super Tio", de 1978.

Nas várias novelas que fez na Globo, ele ficou conhecido por sua atuação, entre outras, em “Rainha da Sucata”, “A Próxima Vítima”, “Vila Madalena”, “Senhora do Destino” e “Passione”. Pela última novela de que participou na emissora, "Órfãos da Terra", recebeu o prêmio de ator de TV do ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte, a APCA.

Um de seus trabalhos mais recentes e marcantes foi no seriado “Tapas & Beijos”, que a Globo exibiu de 2011 a 2015, como seu Chalita, dono de um restaurante árabe em Copacabana. Sua última aparição profissional foi, no entanto, no cinema, no longa independente "Jovens Polacas", lançado no ano passado.

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