'Valeria', série da Netflix, naturaliza relações modernas em um 'Sex and the City imperfeito'
Comédia romântica é aposta da plataforma após sucesso de séries de ação espanholas
Comédia romântica é aposta da plataforma após sucesso de séries de ação espanholas
Madri mais uma vez serve de cenário para uma nova produção da Netflix. Se em "La Casa de Papel" a cidade se viu tomada por máscaras de Salvador Dali e grandes explosões, agora a comédia romântica "Valeria", que estreia nesta sexta (8), retrata um universo distinto, mas conhecido pelos jovens adultos.
Com oito episódios, a produção espanhola acompanha a vida de quatro amigas, com foco na personagem Valeria (Diana Gómez, a Tatiana de "La Casa de Papel"), uma escritora com pouco dinheiro na conta e que enfrenta uma crise conjugal e um bloqueio criativo quando tenta escrever seu mais novo livro.
Entre bares, trabalho e suas próprias casas, o quarteto se reveza em suas rotinas de amor, amizade, ciúme, traições, dúvidas e sonhos, recriadas para que qualquer espectador se reconheça –seja em detalhes como um moletom gasto e uma pizza do dia anterior no micro-ondas, seja em dilemas da vida, no cansaço do casamento ou lidando com a síndrome do impostor (pessoa que tem medo constante de ser descoberta como uma fraude no âmbito intelectual).
"Com todas as situações diferentes que temos, o espectador pode se identificar com uns personagens ou outros, em momentos diferentes da trama", diz Paula Malia em conversa por videoconferência. A atriz interpreta Carmen, uma das amigas de Valeria que tenta engatar um romance com um colega de trabalho, o que a atrapalha até na hora de alugar seu primeiro imóvel.
Por causa de sua narrativa, a série tem sido apontada nas redes sociais como uma versão moderna e espanhola de "Sex and the City" (1998-2004), seriado que se passa em Nova York e é estrelado por Sarah Jessica Parker, que interpreta a protagonista Carrie Bradshaw ao lado de suas três melhores amigas.
"Eu nunca vi ‘Sex and the City’. Obviamente o paralelismo de quatro amigas e uma grande cidade existe, mas ‘Valeria’ é muito genuíno", diz a protagonista, Diana Gómez. "O que acontece com elas [amigas] é universal, acontece com todo mundo –e não só as quatro moças, mas também os quatro rapazes [pares românticos]”.
A série trabalha com um figurino de dar inveja a qualquer blogueira jovem, e Paula Malia diz que este deve ser o ponto de maior reconhecimento da série atual com a de Jessica Parker. “‘Valeria’ poderia ser uma mistura de ‘Sex And The City’ e ‘Girls’, pois é verdade que temos essa coisa mais estética e do vestuário. Mas [em 'Valeria'] as relações não estão idealizadas, as vidas deles tão pouco estão idealizadas. Todas tem problema no trabalho, em suas casas, com seus pares ou seus pais", afirma.
“‘Sex And The City’ foi uma referência para muitos de nós por um tempo, e isso é maravilhoso. Espero que ‘Valeria’ possa ser uma referência para muitas outras pessoas, no que diz respeito a tratar a atualidade de nossa sociedade com naturalidade”, acrescenta Silma Lopez, que interpreta a amiga Lola.
Produzida por Plano a Plano, produtora responsável pelo sucesso internacional de "Toy Boy" na plataforma de streaming, "Valeria" é baseada nos romances de Elísabet Benavent e tem adaptação de María López Castaño. Sua estreia acontece após as bem-sucedidas “La Casa De Papel” e “Vis a Vis”, duas séries também espanholas, mas com foco em crimes e cenas de ação.
“A Elísabet participou do processo criativo da série e, quando houveram dúvidas, tivemos a sorte de ter por perto a 'mãe' dessa obra e desses personagens”, diz Maxi Iglesias, ator que vive o misterioso Víctor na série, que se envolve com a protagonista.
As cenas de sexo são parte importante na narrativa de “Valeria”. Com maridos, amantes, mulheres ou homens, o ato sexual busca ser retratado de forma mais próxima à realidade e é tema de muitas das conversas das protagonistas.
"O sexo é um personagem a mais na série, como é na vida de todos. Ele é muito importante, e me parece absurdo negá-lo”, diz Paula Malia, ao ressaltar as diferenças existentes na vida sexual de cada um. "As produções audiovisuais começaram a mostrar o sexo de uma maneira mais livre e real, sem inventar ou mistificar nada. Como em tudo na vida, às vezes vai bem, às vezes vai mal, e eu acho muito saudável que tenhamos mostrado assim."
“‘Valeria’ desmistifica o sexo ideal, o sexo perfeito, os corpos perfeitos. São quatro mulheres reais, com seus casais e fazendo o que podem, o que fazem melhor e o que fazem pior”, acrescenta Teresa Riott, intérprete da amiga Nerea, que vive um romance homossexual.
Silma Lopez, responsável pela maior parte dessas cenas sob a pele de Lola, diz que as sequências são especiais porque se passam em um contexto muito íntimo. Para ela, são cenas que requerem muita concentração, generosidade e confiança –mas que têm um resultado potente para a série.
Ao contrário da amiga, Valeria carece de sexo e se questiona se está feliz ou não no casamento, ainda mais quando conhece Victor (Maxi Iglesias). Para a intérprete Diana Gómez, essa divergência de cenas de casais que entram em simbiose na série leva os espectadores a pensarem e se questionarem sobre as relações que existem na sociedade. "Elas questionam a sua forma, em que momento de vida estão, o que querem e desejam neste momento."
"Há muitas pessoas que estão se questionando sobre qual modelo seguir na vida. Porque há pessoas que se casam, outras não. Tem gente que tem namorado ou namorada, tem gente que tem poliamor, relações abertas…", completa Ibrahim Al Shami, que interpreta o marido de Valeria na série. “Acho que todo mundo tem medos e inseguranças, mas querem se divertir. E quando virem a série, poderão identificar isso."
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