Ed Motta faz show em Berlim para poucos brasileiros... e não atende a pedido por 'Manuel'
No pacato bairro de Charlottenburg, em um clube que é um oásis de jazz na capital da música eletrônica, Ed Motta marcou presença em Berlim (Alemanha) na noite do domingo (26).
Anteriormente o site do clube anunciara uma noite com dois shows. Mas poucos dias antes do evento, o site mostrava somente um horário. Seria por falta de interesse de público local espelhado na magra venda de ingressos?
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Ao ser indagado após o show, o agente de Ed Motta na Europa declarou: "Decidimos por um só show para não quebrar a dinâmica da noite". Por que a "dinâmica da noite" só foi considerada em última hora, ele não explicou.
Em redes sociais, brasileiros residentes na capital alemã se mobilizavam para boicotar o show. E deu certo. Na casa com capacidade para 150 pessoas, que lotou, o número de compatriotas do músico não chegava a dez [incluindo a jornalista].
A maioria do público presente —alheio à polêmica causada pelo cantor ao divulgar a turnê e reclamar dos "brasileiros simplórios"— era formado por frequentadores habituais da casa, que confiam na qualidade da programação do clube. Um outro percentual, bem menor, era formado por apaixonados pela cultura brasileira.
PONTUALIDADE EUROPEIA
O show estava marcado para as 21h. Dez minutos depois, a plateia começou a bater palmas, exigindo o início. A apresentação começou às 21h20: "Good evening!", saudou o cantor carioca ao subir ao palco, usando uma jaqueta sobre a camiseta com uma imagem de Lee Majors, caracterizado como "O Homem de Seis Milhões de Dólares".
Bem mais do que nos shows anteriores na cidade, Ed Motta ratificou ser produto de suas influências midiáticas. Fez longos e detalhados discursos sobre filmes e séries de TV, principalmente dos anos 70. "'Casal 20', como se chama 'Casal 20' aqui na Alemanha?" perguntou se virando para o pianista alemão, Matti Klein. "Hart aber herzlich", retrucou Matti. "Hart, o quê?". O pianista repetiu e teve até ajuda do público, que riu ao ouvir a tentativa do cantor: "Herbstlich", que se refere ao outono e não tem nada a ver com a série estrelada por Robert Wagner e Stefanie Powers.
Com um quinteto composto, salvo o próprio Ed Motta, por músicos europeus, o artista deixa clara a sua escolha estilística. Os músicos parecem entrosados e über felizes de estarem acompanhando o brasileiro.
Musicalmente falando, o show em Berlim foi de grande nível, mas foi também um tanto frio. As conversas sobre séries de TV, tentativas de approach linguístico, a zoação sobre o sotaque imperantes nas diferentes regiões do Brasil, assim como as formas com que seu nome é pronunciado em países como França, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, desviaram o foco da apresentação e da razão principal para ir ao evento: a música.
SEM 'MANUEL'
Foi quando um fã solitário pediu (ou provocou?): "Manuel!". Sorrindo sem jeito, Ed Motta olhou para Matti: "A primeira vez [que foi pedida]", comentou o pianista. "Em Bremen!", corrigiu Motta, lembrando a cidade em que tocou dois dias antes —o público, por sua vez, não entendia nada.
"Eu não vou tocar 'Manuel', mas uma música do mesmo disco, a canção 'Baixo Rio'", respondeu ele ao fã antes de completar: "O pessoal no meu país está zangado comigo".
Nesse momento, assim como com "Colombina", que encerra o show, é que sua raízes ficam claras, sua musicalidade aflora autêntica. Ai sim, junta-se à virtuosidade a urbanidade carioca e a influência pelo jazz, pelo black e por Tim Maia. Só alemão mesmo para ficar parado.
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