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Bichos
Descrição de chapéu The New York Times

'Catfluencers': Gatos fazem sucesso na internet filmando suas próprias aventuras

Com câmeras usadas por surfistas, bichanos fazem sucesso em novo nicho de vídeos na web

O gato Gonzo, cujos vídeos fazem sucesso na internet - Maria Boonstra/The New York Times
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Amelia Nierenberg
The New York Times

No vídeo, o atleta faz uma pausa, avalia a altitude e salta. Ele tenta uma escalada livre pela lateral de um edifício antes de saltar de volta para o chão. Em outro vídeo, salta de um lado ao outro do telhado, deixando uma sombra que persiste em sua trilha.

Este ginasta, porém, é um gato. Especificamente, ele é o Gonzo de @gonzoisacat. Tem mais de 607 mil seguidores no TikTok e 178 mil no Instagram.

Gonzo é a estrela —e o diretor— dos próprios curtas-metragens. Em vez de seus proprietários filmarem as suas acrobacias, Gonzo pode capturá-las ele próprio com a ajuda de uma pequena câmera presa à sua coleira. O resultado é um documentário ao estilo do cinema de esportes radicais, visto da perspectiva de um gato. E está sendo filmado online.

Na Noruega, um gato equipado com uma câmara GoPro vagueia pelos prados nevados ou no topo dos telhados. Na China, outro bichano grava vídeos com uma câmera posicionada sob o queixo. Um terceiro "catfluencer", chamado Mr. Kitters, tem 1,5 milhões de seguidores no TikTok e quase um milhão no Instagram, onde os espectadores podem vê-lo miando para assustar um pássaro ou perseguir um esquilo.

"O gato vai estar lá fora no mundo, e a pergunta é, tipo 'o que ele está fazendo?’", disse Derek Boonstra, 40, que cuida de Gonzo com a sua mulher, Maria, em Los Angeles.

O casal decidiu começar a filmar Gonzo há cerca de quatro anos. Eles se perguntaram o que estaria acontecendo, já que quase ninguém estava assistindo —e queriam ter certeza do que encontrariam, ao iniciar a exploração no exterior. Depois de experimentar uma câmara artesanal, Boonstra adquiriu uma da marca Insta360 (em troca de mais duas câmaras gratuitas, ele usa "tags" divulgando produtos da empresa em seus vídeos).

No primeiro dia, eles filmaram cerca de "90 minutos do gato dormindo nas plantas", disse Boonstra, um documentarista que tem uma tatuagem de seu gato. Mas depois que Gonzo se deparou com alguns gambás-bebês, "a situação que surgiu foi fascinante de imediato", contou ele.

Os gatos estão entre as mais antigas e mais constantes figuras da Very Online. Jason Eppink, que encomendou uma exposição sobre gatos de Internet para o Museu da Imagem em Movimento, em 2015, dividiu os gatos online em três fases principais.

Quando o YouTube e os fóruns de mensagens eram dominantes, os clipes de gatos se pareciam muito com os vídeos domésticos mais divertidos da América. Eram um pouco granulosos e amadores. "Ainda não existia um complexo industrial dos felinos", disse Eppink, um artista e curador.

Depois, quando o Facebook ganhou porte, os gatos viraram memes (como os que aparecem no blog I Can Has Cheezburger). Alguns gatos de visual estranho acabaram virando celebridades, como Lil Bub e Grumpy Cat, que cresceram junto com o Instagram no começo da era dos influenciadores digitais.

A ascensão das câmeras vestíveis, apesar de mais aproveitada por por surfistas e snowboarders do que por animais de estimação, levou a outro estilo de nicho de conteúdo envolvendo gatos. Tal como os espectadores de vídeos de esportes radicais, os fãs de vídeos de gatos notam regularmente a emoção que sentem quando as suas estrelas felinas saltam ou se afundam.

"Muito dos comentários eram a expressão de uma vontade de ser gato", disse Scott Irwin, o tutor de Mr. Kitters. "É uma forma de escapar, 15 segundos de cada vez."

Mr. Kitters, que vive em Indiana, cria mais conteúdo patrocinado, publicando vídeos sobre um aspirante a treinador de animais de estimação ou aulas de uso da câmera. Ele criou a conta em agosto e obteve alguns produtos gratuitos relacionados a gatos.

O gato, na verdade, é da filha de Irwin, Lucy, 20 (eles também têm outros seis gatos). Eles costumavam enviar um ao outro vídeos de gatos via TikTok, como forma de criar laços mais fortes. Quando ele viu os vídeos de Gonzo, Irwin comprou uma das câmaras anunciadas, para seu uso pessoal. Inicialmente, ele pensou nas filmagens como um "álbum de fotografias", disse.

Mr. Kitters tornou-se uma celebridade praticamente no espaço de uma semana. Irwin começou a usar "tags" do Insta360, o que lhe deu duas câmaras fotográficas gratuitas (ele também ganha uma pequena comissão se alguém comprar uma máquina fotográfica através da sua link).

Os fãs adoram Mr. Kitters pela sua tagarelice e sons alegres, que as pessoas costumam só associar com interações humanas.

Esse pode ser o verdadeiro atrativo destes vídeos: os gatos são enigmas. Nós, humanos, dependemos de um fino código de caudas e miaus para ler as suas emoções. Em parte, isso se deve à história da domesticação, disse Mikel Delgado, especialista em comportamento felino da Feline Minds. Os humanos vivem ao lado dos cães há mais tempo do que dos gatos, disse ela, e muitas vezes projetamos neles maneirismos humanos.

"Os gatos têm menos músculos faciais, pelo que as pessoas têm mais dificuldade em ler os gatos em geral", disse Delgado.

Os gatos de rua também estimulam a curiosidade, disse James A. Serpell, professor emérito de bem-estar animal na Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia. Os vídeos revelam um lado oculto do comportamento dos gatos, um lado não mediado por uma presença humana. "As pessoas podem ter uma emoção vicária ao seguir as aventuras do seu gato", disse Serpell.

No entanto, muitas das filmagens podem ser tediosas, disse Irwin. Afinal, a maioria dos gatos passa a maior parte dos seus dias dormindo ou sentados. Mas "de vez em quando, obtemos aqueles 15 segundos dourados".

Ainda assim, há algo de estranho na maneira pela qual os fãs do Mr. Kitters esperam que ele seja demasiado humano. Alguns dos fãs do Mr. Kitters pedem interações específicas, como vê-lo galgar uma árvore, o que desconcerta Irwin.

"Não posso obrigá-lo a fazer nada disso", riu o dono. "Não faço coisa alguma a não ser publicar os vídeos que cria e realiza."

Tradução de Paulo Migliacci

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