Medicamento para leishmaniose visceral em cachorros divide os especialistas pelo alto custo
Tratamento envolve um coquetel de medicamentos, como antibióticos, suplementos e vitaminas
O que você faria se descobrisse que o seu cachorro está com leishmaniose visceral? Até o final de 2016, não havia escolha: determinação do Ministério da Saúde obrigava o dono a sacrificar o animal. Desde aquele ano, porém, o governo autorizou o uso do remédio Miltefosina contra a doença. Embora seja
um alento, o tratamento é polêmico.
O principal problema, segundo especialistas, é que ele não elimina 100% do parasita causador da enfermidade. Apesar de não ser transmissor da leishmaniose visceral (o vetor é o mosquito-palha), o animal é reservatório da doença.
Além disso, o remédio tem custo elevado, entre R$ 700 e R$ 1.800. O tratamento envolve um coquetel de outros medicamentos, como antibióticos, suplementos e vitaminas, além do uso de repelentes. Ainda que o animal reaja bem ao tratamento, exames periódicos são necessários para monitorá-lo.
O infectologista Luiz Carneiro, coordenador de um estudo da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) sobre a expansão da doença em humanos no estado de São Paulo, vê com preocupação o uso do Miltefosina para animais.
"Não existem grandes estudos sobre a sua eficácia. Em outros países, esse medicamento é usado em humanos. E, se tivermos de utilizá-lo aqui também, poderemos diminuir o seu efeito aplicando nos
animais agora”, afirma.
Isso porque o parasita pode ficar resistente ao remédio com o passar do tempo. A leishmaniose tem avançado em municípios do estado e pode chegar em breve à capital. Nos seres humanos, o tratamento para leishmaniose é gratuito e oferecido pelo SUS, mas não elimina 100% o parasita. Se não for realiza
do, pode matar em 90% dos casos.
O veterinário Márcio Moreira, que estuda a leishmaniose desde 2002, afirma que a política da eutanásia dos animais não se mostrou eficaz, já que a doença vem se expandindo. A veterinária Carolina Montemurro, que resgatou no Rio o cachorro Joca, portador da leishmaniose, concorda. “E a minha experiência de tratamento com o Joca vem sendo ótima.”
Ela acredita que ainda há muita falta de informação sobre o assunto e, por isso, mantém a página “Diário de um Cão com Leishmaniose” no Facebook. Em regiões em que a doença já é endêmica, os especialistas indicam que o melhor caminho é a prevenção. A recomendação para o animal é combinar
diferentes métodos, como a vacina e o uso de coleiras inseticidas, já que nenhuma delas têm 100% de eficácia.
O veterinário Moreira lembra ainda que, se a pessoa não tem condições de pagar o tratamento, deve optar pelo sacrifício do animal. “Nós brigamos para que os donos tivessem o direito de tratar seus bichos, mas, se não há possibilidade, a eutanásia deve ser feita. Além do risco a que expõe o humano, o cachorro definha com a doença.”
Mesmo em dificuldades financeiras, a nutricionista Mariana Parussolo, 26, não teve dúvidas sobre o que fazer quando recebeu o diagnóstico de que sua cachorrinha, Cacau, estava com leishmaniose visceral.
“As veterinárias explicaram que era um tratamento caro e que a Cacau precisaria ser monitorada pelo resto da vida. Mas, para nós, ela é como uma filha. Se fosse alguém da família, eu iria matar? Se existe uma chance, vamos tentar”, contou. Ela diz que a cachorra está melhor desde que iniciou o tratamento.
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