À la Anitta, bronze com fita isolante conquista público masculino, mas especialista faz alerta
Para dermatologistas, procedimento pode causar alergias e até câncer
A marca de biquíni feita com fita isolante já era sucesso nas comunidades cariocas, mas desde que a cantora Anitta, 25, lançou o clipe “Vai Malandra”, em 2018, a tendência se espalhou asfalto afora. No verão deste ano, até o público masculino entrou na onda.
De um lado, personal bronzers dizem tomar todos os cuidados necessários com a saúde da clientela. De outro, especialistas alertam para riscos de alergias e câncer de pele.
“Aqui, os clientes chegam e imediatamente aplicamos o protetor. Se eles ficarem queimados ou descascados, não vão voltar. Ensinei muitas pessoas a se bronzearem. Se não passar protetor, a pele vai ser agredida”, afirma a esteticista Érika Bronze. Ela foi a responsável pelo biquíni de Anitta e diz que o clipe impulsionou seu negócio.
Érika explica que faz o bronzeamento em homens e mulheres em horários alternados. O bronzeamento feminino custa R$ 70 e dura entre 40 e 60 minutos, a depender da cor da pele da pessoa e da intensidade do sol. Já o masculino custa R$ 50. Em ambos, ela usa seu próprio acelerador de bronzeamento, certificado pela Anvisa.
A personal bronzer, que toca seu negócio na região do Realengo, zona oeste do Rio, afirma que começa a preparar os primeiros clientes por volta das 6h30 e encerra as atividades por volta de 10h30.
O fotógrafo Douglas Jacó, 33, é um dos clientes de Érika e diz, ao contrário do que acontece quando toma sol na praia, quando faz o bronzeamento com ela não descasca.
“Eu sou praieiro. Gosto muito do mar e do bronze. Sempre que vou a praia, mesmo usando o protetor, logo em seguida eu descasco. Na Érika tem todo o cuidado com protetor solar e com o produto dela. O tempo de exposição é menor, o bronzeamento é perfeito e eu não descasco depois. A fita isolante deixa a marca do bronze certinha.”
A personal bronzer Priscilla Bronze atende os clientes entre 8h e 11h, em Coelho Neto, zona norte do Rio, e cada sessão custa entre R$ 60 e R$ 70.
Questionada sobre a recomendação geral dos dermatologistas, de evitar tomar banho de sol entre 10h e 17h, Priscilla afirma que não tem como seguir à risca. “Senão a gente não trabalha, até porque o sol chega no meu espaço umas 9h.”
Ela acrescenta: “A gente tem o máximo de cuidado possível [com os clientes]. Passamos protetor solar, servimos bastante água e molhamos o pessoal o todo tempo [...] Passo parafina, óleo e fixador, todos liberados pela Anvisa como produtos próprios para bronzeamento natural. Eles contêm protetor solar e bronzeador.”
Há cerca de um mês, a imagem de uma cliente que foi bronzeada no espaço de Priscilla viralizou na internet e provocou comentários como “novidade de bronzeamento no forno a lenha” e “torraram a mulher”. A personal bronzer, no entanto, afirmou que a imagem “está com realce”.
“Essa cliente está comigo desde que comecei. A foto dela teve mais de 8 milhões de compartilhamentos. Tiveram muitos comentários negativos, mas também teve um público que me apoiou. Tem gente que está na internet para isso, esperando alguém dar mole. Eu levei de boa o que aconteceu. Meu trabalho é todo legalizado. A pessoas não entendem o processo de bronzeamento. No fim, isso me divulgou muito”.
A dona de casa Elisangela Oliveira, 37, afirma que o bronzeamento fez com que ela ganhasse autoestima. “Eu não queria ir por ser ‘fofinha’, mas esse tabu foi quebrado. Sou depressiva e tenho síndrome do pânico, tomava remédios todos os dias. Depois que passei a frequentar o espaço tudo mudou. Hoje em dia tenho marquinha e minha autoestima melhorou muito.”
ESPECIALISTAS
Especialistas consultados pela Folha contra indicam a prática e afirmam que a fita isolante pode causar alergias na pele. Eles também alertam para os riscos da exposição excessiva ao sol.
“A parafina [utilizada nos produtos para acelerar o bronzeamento] pode causar queimaduras e irritação na pele. A fita isolante pode causar irritação, alergia, e ao ser removida pode causar lesão na pele”, diz a dermatologista Karla Assed, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da AAD (Academia Americana de Dermatologia).
Ela afirma que, apesar de existir uma conscientização geral da população sobre o uso de filtro solar, costuma receber bastante gente em seu consultório com problemas de pele ocasionados por exposição excessiva e/ou desprotegida ao sol.
Para quem deseja o bronzeado perfeito, Assed dá quatro dicas: Comer alimentos ricos em betacaroteno --como damasco e cenoura, por exemplo--, bronzear-se gradativamente evitando horários entre 10h e 17h, usar filtro solar e aplicar muito hidratante para manter o bronzeado da pele.
Para o dermatologista Murilo Drummond, professor titular do Instituto de Pós-Graduação Carlos Chagas, membro efetivo da SBD, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia, o ideal é que, neste verão, as pessoas restrinjam ao máximo seu contato com o sol, visto que uma breve saída de casa para entrar no carro ou no ônibus já oferece boas quantidades de vitamina D para a pele.
“Às 8h o sol já está fortíssimo. Hoje, minha recomendação é que a exposição ao sol seja rápida, entre 8h e 9h, se possível com roupas UV.”
Segundo ele, basta a radiação deste verão para que, em dez anos, aumente o número de casos de câncer de pele. “Acho que saiu um pouco de moda [bronzear-se no sol para ficar com marca de biquíni]. Hoje é até meio esquisito. É um sinal de desconhecimento [...] O protetor solar não evita o câncer de pele.”