Como Paolla Oliveira e Yasmin Brunet, mulheres estão fartas de terem seus corpos criticados o tempo todo
Por que homens feios se sentem no direito de exigir perfeição da mulherada?
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Certa vez, cruzei com uma famosa atriz da TV num aeroporto. Ela estava impecável, como se fosse para uma festa: penteada, maquiada e usando um collant que revelava um corpo esguio demais para uma mulher de sua idade. Fiquei imaginando os sacrifícios que ela fazia para continuar sendo uma sílfide depois de ter tido filhos e completado 40 anos.
Uma amiga publicitária fez um comercial com uma outra estrela de novelas. Ao longo das muitas horas de filmagem, a moça não quis comer absolutamente nada – e olha que naquela época ainda nem se falava em jejum intermitente.
Com as modelos de passarela, a pressão é ainda pior. São comuns as histórias de garotas que só ingerem alface antes de um desfile. Também são muitas as que desenvolvem distúrbios alimentares graves, como bulimia e anorexia.
Nada disso é novidade. Desde o século 19, quando a magreza entrou na moda, as mulheres são cobradas diariamente a se manter dentro de um padrão rígido. Quem fraquejar e exibir estrias ou gordurinhas localizadas será acusada de grave falha moral.
A novidade é que, de uns tempos para cá, a mulherada vem reagindo. O movimento "body positive" ganhou força, reforçando que corpos de todos os formatos têm sua beleza. Surgiram termos como "gordofobia", e até aliados entre os homens. Como o cantor Leo Jaime, dono ele mesmo de um físico roliço e autor de uma frase deliciosa: "celulite quer dizer ‘eu sou gostosa’ em braille".
Agora o movimento "body positive" tem uma porta-voz informal no Brasil: a atriz Paolla Oliveira, que deu entrevista ao Fantástico deste domingo (14) explicando que abraçou a causa depois de ser massacrada no Instagram.
Paolla é totalmente "padrão". Seu corpo e rosto se encaixam em praticamente tudo o que boa parte da sociedade entende como beleza. Talvez até por isto mesmo, não foi poupada por, aparentemente, ter "dado uma engordada".
Yasmin Brunet é outro alvo, com o agravante de ser filha de Luiza Brunet, um símbolo sexual até hoje. Ou seja: a filha tem a obrigação de ser tão deslumbrante quanto a mãe, 24 horas por dia, não importa a situação.
Acontece que agora Yasmin participa do BBB24, uma situação em que é impossível ser uma deusa o tempo todo. E claro que os comentários negativos sobre seu corpo já começaram.
Ela confessou ao cantor Rodriguinho que está preocupada com sua compulsão alimentar dentro da casa, pois passou a comer demais. Ele, ao invés de demonstrar solidariedade, foi jocoso: "você vai sair rolando daqui". Desconsolada, Yasmin cobrou o rosto com as mãos, e foi novamente espezinhada.
Antes disso, ele e outros participantes disseram que Yasmin "já foi mais bonita, hoje está velha" (a modelo e empresária tem 35 anos).
O mais engraçado é que Rodriguinho tem o aspecto de um ogro de história infantil. É um homem horrendo que, no entanto, se sente no direito de exigir perfeição física das mulheres. Não vou nem citar que ele já foi acusado de violência doméstica por sua ex-esposa...
Nossa cultura machista normalizou o fato de que as mulheres podem ter seus corpos avaliados de todas as maneiras. Os antigos concursos de miss mediam bustos, quadris e pernas, como se fossem açougues. A brasileira Martha Rocha perdeu o concurso de Miss Universo, em 1954, por ter duas polegadas "a mais" nos quadris.
O curioso é que os homens rejeitam com veemência qualquer mensuração de seus atributos físicos. Basta começar uma discussão sobre o tamanho ideal do pênis para alguém logo vir dizendo que "o que importa é o desempenho".
Os tempos estão mudando, e tomara que para melhor. Muitas mulheres decidiram que não vão mais aguentar tanta cobrança caladas. Os homens que fiquem espertos, pois uma eliminação do BBB por falas machistas e preconceituosas é só um aperitivo do que pode vir por aí.