SBT completa 40 anos em um mau momento, mas com boas perspectivas
Emissora de Silvio Santos tem marca consolidada e personalidade própria
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A volta de Silvio Santos aos estúdios de gravação parecia um ótimo presságio. Depois de um ano e meio recolhido em casa, o “patrão” estava novamente em frente às câmeras, produzindo conteúdo inédito e interagindo com suas colegas de trabalho, bem a tempo para uma data-chave: o 40º aniversário do SBT, comemorado nesta quinta (19).
No entanto, mesmo seguindo todos os protocolos sanitários e já tendo tomado as duas doses da vacina, Silvio contraiu Covid-19. Foi internado para exames na sexta passada (13) e liberado em menos de 24 horas. Passa bem, mas permanecerá as próximas semanas na moita, até se recuperar totalmente.
A doença de Silvio é mais um percalço na fase difícil que o SBT atravessa. De todas as grandes redes comerciais da nossa TV aberta, foi a mais atingida pela pandemia, com grandes desfalques na programação, perda de anunciantes, queda na audiência e a ausência prolongada de sua maior estrela. Ainda houve a saída abrupta de Maisa Silva, jovem estrela surgida na casa e uma aposta segura para o futuro. O clima lá dentro não está mesmo para festa.
Muito do caos atual pode ser atribuído a erros crassos do próprio Silvio Santos, cuja cabeça jamais deixou totalmente a década de 1960 para trás. Muito se fala de seu tino para os negócios e de sua capacidade de farejar de longe o sucesso, mas Silvio comeu inúmeras bolas ao longo desses anos todos.
Sim, ele percebeu logo o potencial de produtos como Chaves, “Carrossel” e Big Brother (que “adaptou”, na maior cara de pau, para Casa dos Artistas). Mas deixou ir embora muitos talentos que despontaram sob suas asas. Alguns anos atrás, também abriu mão da oportunidade de contratar Fábio Porchat, que estava sem vínculos à época. Silvio simplesmente não achou graça naquele que é hoje apontado como um dos maiores humoristas do Brasil.
Mas o mais grave talvez tenha sido insistir no modelo da TV aberta, ignorando quase todos os avanços da tecnologia e as mudanças de hábito dos telespectadores. O SBT perdeu o bonde da TV paga e, ao contrário de Globo, Band e Record, não tem nenhum canal do gênero. Também está perdendo o bonde do streaming: cadê o SBT Play?
No entanto, as perspectivas a médio prazo são boas. Apesar de seu estilo errático de administrar, com mudanças súbitas na grade, contratações por impulso e deficiências de avaliação, Silvio Santos conseguiu construir uma marca sólida, que tem um significado claro para milhões de brasileiros. Ouvimos “SBT” e imagens nítidas vêm à cabeça: programas de auditório, linguagem popular, um pouquinho de apelação, alegria generalizada. Não é pouco.
A força dessa marca se confunde com a própria personalidade da emissora. SBT e Globo são as únicas redes que dispõem dessa commodity tão rarefeita: um estilo próprio de fazer TV, que se espalha por todos os horários da grade e é consistente há muitos e muitos anos. Nenhuma de suas concorrentes chega perto neste quesito.
Também há um enorme desafio no horizonte: como será o SBT sem Silvio Santos, que completa 91 anos em dezembro? Nenhum outro empresário do ramo se miscigenou tão completamente com sua empresa. Silvio Santos é o dono, o diretor de programação, a maior atração e o maior anunciante de sua emissora. Mal comparando, é como se, na Globo das antigas, Roberto Marinho, Boni, Xuxa e, digamos, a Coca-Cola ou a Volkswagen, fossem todos a mesma pessoa.
Acredito, porém, que Silvio ergueu uma estrutura que pode muito bem sobreviver sem ele. Há espaço no Brasil para um canal de TV escancaradamente popular, e nenhum outro cumpre essa função tão bem quanto o SBT, nem está tão solidificado no imaginário do público.
Portanto, parabéns, SBT. Que venham mais 40 anos, e mais 40, e mais 40.