Reincidente na homofobia, Patrícia Abravanel encarna a decadência do SBT
Emissora insiste em posturas arcaicas e programação embolorada
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Ela fez de novo. No primeiro dia do mês do orgulho LGBTQIA+, a apresentadora Patríca Abravanel, 43, soltou declarações homofóbicas mais uma vez.
Durante o programa Vem Pra Cá (SBT) desta terça-feira (1º), a filha número quatro de Silvio Santos disse que os gays precisam “compreender” quem não os respeita e que é difícil falar sobre diversidade com os filhos. Como se fosse pouco, ainda debochou da sigla LGBTQIA+, que ela pronunciou como LGBTYH.
Se o SBT fosse uma emissora séria, dessas que respeitam a audiência, Patrícia seria, no mínimo, advertida, e já teria pedido desculpas no ar. Ainda mais se os patrocinadores fossem empresas que promovem a inclusão, e não a Jequiti ou as lojas Havan.
Mas por que Patrícia Abravanel seria advertida? Afinal, ela é filha do dono do canal —e nunca é demais lembrar que Silvio Santos, ao longo de toda a carreira, soltou barbaridades muito piores, de teor machista, racista, homofóbico e gordofóbico.
Patrícia também é filha de Íris Abravanel, autora titular de quase todas as novelas infantojuvenis produzidas pela casa. Tampouco é demais lembrar que, no capítulo 61 de “As Aventuras de Poliana”, exibido em agosto de 2018, a coordenadora Helô, vivida pela atriz negra Elina de Souza, dizia a uma aluna igualmente negra que a culpa pelo racismo era dos próprios negros, que se colocariam como “diferentes” do resto da sociedade.
Patrícia Abravanel é casada com Fábio Faria (PSD-RN), ministro das Comunicações. Será que ela também não acha difícil explicar para as crianças que o governo Jair Bolsonaro ignorou ou recusou 11 ofertas para adquirir as vacinas da Pfizer?
Por fim, a apresentadora é tia de Tiago Abravanel, filho de sua irmã Cíntia. O ator e cantor é gay assumido, e casado com o produtor Fernando Poli. Se Patrícia acha difícil falar de homossexualidade com os filhos, nem precisa: basta deixá-los conviver com Tiago. Não há maneira melhor de ensinar respeito e amor do que a convivência natural. Digo isto por experiência própria.
Tiago, visivelmente magoado, rebateu as declarações de Patrícia em um vídeo postado em seu perfil no Instagram. “(Vou) tentar falar para você, tia, o como eu me senti assistindo, tá? Eu acho que em primeiro lugar, orientação sexual não é uma questão de opinião. É uma questão de respeito”, diz.
“Opinar, você opina se uma roupa é bonita ou feia para você. Se você quer café ou chá ou se você gosta de doce ou salgado. A orientação sexual não é da opinião de ninguém. A não ser da pessoa que escolheu ser aquilo que ela é. Escolheu não. Ela nasceu assim, então, não é uma questão de opinião. Ponto. Quando se opina em relação a isso... Esse é um ato homofóbico”.
Talvez, agora, Patrícia se posicione, depois de ter ferido alguém da própria família. Mas eu, para falar a verdade, duvido. Apesar de ser indiscutivelmente talentosa e despontar como possível herdeira do pai em frente às câmeras, Patrícia Abravanel também demonstra, com sua fala homofóbica, que tem a cabeça tão velha quanto uma reprise de “Chaves”.
Ela se insere no processo de decadência generalizada do SBT, uma emissora que já ocupou um confortável segundo lugar na audiência e hoje luta para se manter relevante.
Foram muitos os bondes da história que Silvio Santos perdeu. Ele não investiu em TV paga, não investiu no streaming, nunca incentivou a inovação. Seus programas “novos” são, na verdade, quase todos vindos de outros canais, ou adaptações de formatos estrangeiros. Pouquíssimos foram criados dentro do SBT.
Além de tudo, a emissora não se deu conta de que o mundo mudou, e insiste numa programação que empacou na década de 1960. Faltam negros em suas produções. Falta diversidade. Sobra apoio a este desgoverno anacrônico.
O resultado está aí: Ibope baixo e atrações que só repercutem quando alguém manifesta preconceito.
ATUALIZAÇÃO: A assessoria de imprensa do SBT me chamou a atenção para o fato de que, no próprio Vem Pra Cá, o fotógrafo Gabriel Cardoso explicou para Patrícia o significado da sigla LGBTQIA+. Isto mostra que ela está disposta a aprender. Para isto ficar ainda mais claro, sugiro que ela volte ao assunto na TV, em seu programa.