Casais inter-raciais vêm se tornando mais comuns na TV e no cinema
Apesar dos avanços, ainda faltam papéis para atores não-brancos
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Exibida pela Globo entre 1984 e 1985, a novela “Corpo a Corpo”, de Gilberto Braga e Leonor Bassères, tinha entre suas tramas o caso de amor entre uma mulher negra e um homem branco. Sônia Rangel, papel de Zezé Motta, e Cláudio Fraga Dantas, interpretado por Marcos Paulo, se apaixonavam.
Mas o pai dele, Alfredo, um racista declarado vivido por Hugo Carvana, fazia de tudo para separar os pombinhos. Até que Alfredo sofreu um grave acidente e precisou de uma transfusão de sangue.
Quem compartilhava de seu raro tipo sanguíneo? Sônia, é claro. Foi só depois de ter o sangue de uma negra correndo em suas veias que o vilão se redimiu.
“Corpo a Corpo” não foi a primeira novela brasileira a ter um casal inter-racial, mas foi uma das pioneiras a explorar um tema que na época ainda era tabu: o racismo entranhado na nossa sociedade.
De lá para cá, esse tipo de conflito voltou a ser explorado inúmeras vezes. Especialmente nos folhetins de Walcyr Carrasco, cujos personagens negros parecem não ter outro problema na vida a não ser enfrentar o racismo.
Mas, de uns tempos para cá, essa situação vem mudando. Depois de ser muito criticada por escalar elencos quase todos formados por atores brancos para novelas ambientadas na Bahia (“Segundo Sol”) ou com protagonistas de origem oriental (“Sol Nascente”), a Globo vem se esforçando em dar maior diversidade para suas produções.
Títulos como “Bom Sucesso” ou “Amor de Mãe” não só trouxeram vários atores negros em papéis importantes, como ainda se inscreveram em uma tendência internacional: têm muitos casais inter-raciais, mas a questão das etnias diferentes não costuma ser abordada.
Em produções estrangeiras, os casais inter-raciais parecem até ser obrigatórios, tão frequentes que estão se tornando. Séries recentes como “The Handmaid’s Tale”, “Soulmates” e “Lupin” são só alguns exemplos.
Aqui no Brasil, muito devagarinho, também começam a ser escalados atores negros para personagens que, no papel, não eram especificamente negros. É o caso da comédia “Monique e a TPM”, que acaba de ser rodada em São Paulo.
Produzido pela Moonshot Pictures e escrito por Jaqueline Vargas (“Sessão de Terapia”), o filme tem Paloma Bernardi no papel-título: uma enfermeira que muda de personalidade nos dias em que passa pela tensão pré-menstrual.
O par romântico de Paloma no longa é Rafael Zulu, que faz o ginecologista Julio. O roteiro não pedia explicitamente por um ator negro, mas Zulu se destacou nos testes. “Quando percebemos a química que ele tem com a Paloma, não tivemos a menor dúvida”, conta a diretora Eliana. “Ficamos todas apaixonadas por ele”, conclui ela, rindo.
“Monique e a TPM” é mais um pequeno avanço no esforço de trazer mais diversidade para as nossas telas, mas é claro que ainda há um longo caminho pela frente. Faltam protagonistas negros nas nossas novelas; também faltam vilões, um tipo de papel que costuma permitir ao ator brilhar.
Sem falar que estamos a anos-luz do “color-blind casting”, que vem se tornando habitual nas produções britânicas: a escalação de um ator apenas por seu talento, não importa qual seja o tom de sua pele.
O exemplo mais vistoso dos últimos tempos é a série “Bridgerton”, da Netflix, que povoou a Inglaterra do começo do século 19 com gente de todas as cores. O casal protagonista da primeira temporada, encarnado por Phoebe Dynevor e Regé-Jean Page, é inter-racial.
“Bridgerton” ainda explica, em um de seus diálogos, a razão para tamanha diversidade. O filme “A História Pessoal de David Copperfield”, disponível para aluguel nas plataformas de streaming, nem se dá ao trabalho.
O protagonista coube a um ator de origem indiana, Dev Patel, apesar dos atores que fazem seus parentes serem todos caucasianos. Também há uma família inusitada: pai oriental, mãe negra, filho branco. E dane-se quem achar ruim.