BBB 21: Lumena se olhou no 'black mirror', e não gostou do que viu
Pressão avassaladora dentro da casa faz aflorar o pior de cada participante
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Participar de um BBB deveria ser uma experiência obrigatória. Não pela chance de concorrer ao prêmio de R$ 1,5 milhão e muito menos para se tornar famoso. Participar do BBB é bom pelo que tem de ruim: o reality faz aflorar o que existe de pior dentro de cada um de seus jogadores.
É um autêntico "black mirror", que reflete com cores macabras a personalidade dos participantes. Não são poucos os que saem dizendo que a pressão lá dentro é avassaladora, e que não se reconhecem nas atitudes que tomaram.
Este discurso agora está na boca de Lumena Aleluia, que foi eliminada nesta terça-feira (2). A DJ e psicóloga baiana saiu com 61,31% dos votos, mostrando que sua disputa com Projota (37,07%) não era tão acirrada como previam as enquetes online (Artur, que levou apenas 1,62% dos votos, era tão coadjuvante neste paredão que Tiago Leifert deu um spoiler, avisando com antecedência que o crossfiteiro capixaba havia sido poupado pelos espectadores).
Lumena garantiu nas seletivas que era uma mulher arretada, resolvida com sua homossexualidade, louca para dançar, brincar e aprontar mil confusões lá dentro. Aprontou mesmo, mas no mau sentido.
Sua militância equivocada aflorou logo na primeira semana, ao reagir do jeito errado ao desfile de alguns homens da casa, que se maquiaram como mulheres. A baiana leu a brincadeira como uma agressão violenta a transexuais e travestis, e foi tomar satisfações. Não entendeu que, quando um hétero "se monta", está tirando sarro apenas dele mesmo.
Uma vez abertas, as portas da militância não se fecharam mais. Lumena virou a juíza moral do BBB 21, literalmente apontando o dedo para quem quer que não se encaixasse nos seus rígidos padrões de comportamento. Contaminada por sua amizade com a tóxica Karol Conká, não tardou a mascarar pinimbas pessoais com o manto sagrado das questões identitárias.
O tiro saiu pela culatra e explodiu na cara de Lumena. Ela virou meme, virou sinônimo de quem usa palavras rebuscadas, virou piada nacional. Também virou motivo de preocupação. Há quem tema que a luta antirracista tenha sido prejudicada pelas argumentações agressivas e abstratas da baiana, que encarnou à perfeição o clichê da ativista intolerante forjado pela extrema direita.
É verdade que a armadura da moça foi se flexibilizando nas últimas semanas. O primeiro golpe foi a saída de Nego Di, que desestabilizou o chamado "Gabinete do Ódio". A eliminação de Karol Conká na semana seguinte fez com que Lumena finalmente percebesse que estava na mira do público, e ela até que tentou maneirar. Mas sua persona "militonta" voltou com tudo no Jogo da Discórdia desta segunda (1º), como se não houvesse amanhã.
Não houve. Lumena passa agora pela via-crúcis de todo eliminado, que é dar entrevistas e mais entrevistas sobre os motivos que a fizeram ser expulsa do programa. Assim como Karol Conká, ela parece ter plena consciência de seus próprios erros, e está chocada com a versão de si mesma que apresentou ao Brasil.
Isto é ótimo. Depois de experimentarem uma terrível rejeição, as duas ex-jogadoras estão fazendo a proverbial limonada dos limões que lhes foram atirados. Ambas se viram no "black mirror" e assumiram suas culpas, além de manifestarem a saudável disposição de mudar. Nem todos agem assim. Nego Di, por exemplo, até agora joga nos outros a responsabilidade por tudo que lhe aconteceu, e parece encolher a cada dia que passa.
Eis aí uma função do BBB que ninguém previu, nem mesmo Boninho ou a Endemol, empresa criadora do reality. O programa serve –para alguns– como uma gigantesca terapia em grupo. Um psicodrama transmitido em rede nacional, que proporciona mais autoconhecimento para quem tiver a coragem de se encarar.