BBB 20 dá a vitória a Thelma em final chocha e emocionante ao mesmo tempo
Programa teve o elenco melhor escolhido de todos os tempos e captou humor
As regras não importam tanto. O que realmente determina o sucesso de um reality show são apenas três fatores: elenco, elenco e elenco.
O elenco da vigésima edição do Big Brother Brasil foi o melhor da história do programa. Pela primeira vez, não havia ninguém mal escolhido na competição. Uns renderam mais, outros menos, mas nenhum dos 20 participantes ficou encolhido num canto fazendo fotossíntese. Este ano, as samambaias não tiveram vez.
Muita gente discute se a Globo agiu bem em convidar pessoas semifamosas para o jogo, sem que elas precisassem se inscrever ou passar pelo processo de seleção. Houve quem apontasse a flagrante injustiça desses VIPs já chegarem apoiados por estruturas profissionais de produção de conteúdo para suas redes sociais, além de centenas de milhares de seguidores – que logo se organizaram em ferozes torcidas.
Isto pode ter influenciado o resultado, mas não o andamento do reality. O que tornou esse BBB um fenômeno de audiência e repercussão foi o elenco. Palmas para os diretores de casting envolvidos, que não deram uma única bola fora. E palmas para o acaso, que fez com que os selecionados funcionassem tão bem juntos. Não dá para falar em química no sentido romântico da palavra, porque muitos deles se odiaram entre si. Mas essas combustões espontâneas fizeram bem ao programa.
Por isto, até acho que Boninho deveria continuar convidando influenciadores digitais, atores, cantores e afins para o BBB. Artistas já estão acostumados com as câmeras. Sabem se expor e, alguns, sabem se esconder.
Mas é inegável que eles trazem um problema na bagagem: os fandoms. Esses torcedores fanáticos são os responsáveis pelas votações recordistas, de que a Globo tanto se orgulha. Mas até que ponto eles não distorceram os paredões? A vontade do público em geral prevaleceu? Duvido muito.
Este desequilíbrio só poderá ser sanado no dia em que a emissora disponibilizar apenas um voto por espectador, o que é tecnicamente inviável. E aí, só uns milhõezinhos votariam; adeus, bilhão e meio de votos.
Ao longo dos últimos dois dias, achei que os fandoms decidiriam o BBB 20. As enquetes não eram conclusivas, e erraram feio nas últimas semanas. Em outras palavras, desconfiei que o fandom de Rafa daria ela o prêmio final.
Não deu. As campeãs foram mesmo anunciadas em ordem alfabética: Manu em terceiro, Rafa em segundo, Thelma em primeiro. Um resultado que, na minha bolha pessoal, batia com o que meus amigos diziam nas timelines.
Sim, foi um final feliz. Nada contra Rafa, que é luminosa e iluminada. Mas uma mulher negra ganhar o Big Brother, no momento em que alguns tentam pintar o racismo como mera questão de opinião, é muito forte. Uma médica, então, vencer em plena pandemia do coronavírus, é um símbolo poderosíssimo. O BBB 20 conseguiu captar o humor do Brasil nestes primeiros meses de 2020.
A vitória de Paula no BBB 19, foi um retrato instantâneo de um país que estava passando pano para a intolerância e o preconceito. Um ano depois, o público rejeitou o machismo e o racismo (ainda que inconsciente) de alguns brothers, e escolheu a mais sensata de todos. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Este foi o melhor BBB de todos os tempos? O mais emocionante? As lágrimas de Tiago Leifert no encerramento garantem que sim. Não teve público, não teve banda, teve muita embromação. Foi até um pouco chocho. Mas foi lindo!