A solidão materna não acaba; ela se renova
Vivemos este sentimento logo após o nascimento de um filho; engana-se quem pensa que ele se vai
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Escrevo este texto em plena madrugada, sozinha. Não sei exatamente a hora. Sei apenas que logo mais o dia começará a amanhecer. Estar sozinha em um horário em que todos dormem faz parte do meu cotidiano desde que me tornei mãe.
Escrevo com pouca luz, no silêncio. Para não acordar minhas filhas, meu companheiro ou nossas gatas. A solidão materna é um dos temas menos abordados entre quem tem filhos, mas é um dos sentimentos mais vividos pelas mães de recém-nascidos. E ela, na verdade, começa na gravidez.
Embora cercada de gente que paparique a barriga e o bebê que virá, a grávida estará só com ela mesma em diversos momentos, principalmente ao parir, mesmo que tenha uma boa equipe médica e o pai de seu filho ao lado.
Isso ocorre porque há muitas coisas que ninguém pode fazer por nós na maternidade, mas carregar, parir e amamentar são as três principais. Tomar decisões que podem mudar o futuro do filho é algo que, muitas vezes, a mãe faz sozinha.
E ficar consigo, lambendo suas feridas do novo corpo e da nova vida que se descortina também.
Esse movimento de escrever de madrugada, quando todos dormem, é o que mais me lembra os dias iniciais do pós-parto, quando estávamos nos adaptando à falta de horário do bebê, que mama de madrugada.
Mesmo com um companheiro presente e participativo, serão muitas madrugadas em que a mãe amamentará seu filho sozinha.
Os filhos crescem e a solidão aumenta. Se está no mundo corporativo, em áreas onde há poucas mães (este é o meu caso), haverá poucas mãos estendidas e poucos abraços. Em outras áreas, mesmo com muitas mães, muitas vezes, a forma de agir é com falta de companheirismo.
Quem opta por deixar o mercado de trabalho para se dedicar com maior exclusividade aos filhos também fica sozinha em uma casa, mesmo que esteja cercada de crianças correndo e gritando. E as que escolhem o home office experimentam a mesma sensação.
Eu sou uma pessoa que adora gente. Além disso, sou muito combativa, e nunca me “entrego sem lutar”, mas confesso que, no caso da solidão que toma conta das mães, decidi aceitar, acolher e, em muitos momentos, aprender com ela.
Abro um livro, às vezes um vinho, noutras tomo um café. Aprecio o entorno (mesmo quando ele esteja completamente bagunçado), reorganizo meus pensamentos, choro, reflito sobre o caminho que me trouxe até aqui, celebro minhas mudanças. Há tempos não tenho conseguido fazer nem mesmo com que as mães sejam companheiras.
Aceito. E a literatura me abraça. Como escreveu Maria Ribeiro, o seu livro “Tudo o Que Eu Sempre Quis Dizer, Mas Só Consegui Escrevendo” nem tudo na vida é dois Vs. Às vezes, é só você mesma.