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Nomes fortes para Palma de Cannes decepcionam na competição

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O japonês "Soshite Chichi Ni Naru" ("Tal Pai, Tal filho"), de Hirokazu Koreeda ("Depois da Vida") foi exibido na noite desta sexta-feira (17) como um possível forte candidato à Palma de Ouro. O que circulava em Cannes era que a história tocante de pais e filhos sensibilizaria o júri liderado por Steven Spielberg, que costuma gostar de longas com temáticas mais juvenis -"ET", "O Império do Sol", "Parque dos Dinossauros", para citar alguns.

Mas o que se viu na tela da sala Debussy, no Palais des Festivals, foi apenas desapontamento. Koreeda, aos 51 anos, produziu um filme ultrapassado, repleto de estereótipos. Há um japonês clássico, arquiteto bem-sucedido e workaholic (Masaharu Fukuyama), que trata a mulher (Machiko Ono) como empregada e o filho de seis anos (Keita Ninomiya) como um soldado.

O mundo do rígido trabalhador muda quando descobre que o menino não é seu filho biológico, trocado por outro bebê na maternidade. O filho de ligação sanguínea agora está em uma família do interior, humilde, mas feliz.

O cineasta japonês poderia tecer mil teses sobre o assunto, da questão educacional à genética, mas preferiu povoar o filme com lições de moral ("passe mais tempo com seu filho") e ideias adocicadas sobre a diferença entre as famílias. Quando esses dois lados se encontram é tudo tão "fofinho" que o filme passa a sensação ser um grande vídeo de YouTube (bem fotografado, claro) por com filhotes de gatinhos brincando.

A plateia, que lotou o cinema, aplaudiu educadamente o longa, mas o ar de decepção estava estampado na maioria dos presentes.


Terapia intensiva

Outro favorito, "Jimmy P.", também decepcionou na manhã deste sábado (18) em Cannes. Dirigido pelo francês Arnaud Desplechin ("Um Conto de Natal"), selecionado cinco vezes para a competição em Cannes, e com uma dupla de atores de primeiro escalão (Benicio Del Toro e Mathieu Amalric), o filme é uma sonolenta terapia intensiva.

Del Toro interpreta Jimmy Picard, um índio americano da tribo Blackfoot que sofre terríveis ataques de pânico, cegueira momentânea e dores de cabeça, após ser ferido na Segunda Guerra Mundial. Amalric assume o papel de Georges Devereux, um antropologista húngaro especialista em nativos do novo continente, que é chamado para tratar Jimmy.

Situado em 1948, quando pouco se sabia e muito se especulava não apenas sobre doenças mentais, mas sobre a natureza dos indígenas, os dois homens se encontram e formam uma amizade terapêutica que procura entender as razões do indígena como a de qualquer outro ser humano. "É uma história de amizade que poderia ter acontecido sob outras circunstâncias", acredita Desplechin. "Um vem de Montana (estado americano) e o outro da Hungria, mas os dois são estrangeiros nos Estados Unidos e, no fim, começam a ser americanos. Tanto que Jimmy nunca mais voltou para a reserva após o tratamento. Foi para Seattle viver como cidadão."

Del Toro acredita que boa parte da originalidade do roteiro está na origem do personagem. "O roteiro era tão bom que brilhava no escuro. Eu não precisava pesquisar tanto, mas foi fundamental entender de onde Jimmy veio, a história dos nativos americanos, que não está bem resolvida até hoje", explica o ator.

"Jimmy P.", assim como o longa japonês de Koreeda, poderia ter rendido um filme mais interessante. Talvez por causa do orçamento apertado e pelas filmagens nos Estados Unidos, onde ficam mais caras, Desplechin tenha preferido focar nas sessões de conversa entre paciente e "médico", transformando o longa em uma tediosa sessão de terapia intensiva.

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