'Adoraria andar por São Paulo rasgando coisas', diz ilustrador de jogos GTA que participará da Brasil Game Show
O inglês Stephen Bliss queria muito andar por São Paulo arrancando pedaços de cartazes velhos colados em muros da cidade --como já fez em Nova York (EUA), onde mora atualmente. Lá, ele usou o material coletado em uma exposição chamada "I, Frankenstein", exibida em galerias americanas. Aqui, ele não sabe se terá tempo para fazer o mesmo.
Trazendo no currículo os 15 anos em que trabalhou, entre 2001 e 2016, como artista-sênior na Rockstar Games --empresa responsável por jogos como "Bully", "Red Dead Redemption", "L.A. Noire" e todos os títulos da série "GTA" ("Grand Theft Auto")--, o artista e ilustrador é uma das atrações que falará ao público na BGS (Brasil Game Show), evento dedicado ao entretenimento eletrônico que ocorre entre os dias 11 e 15 de outubro, no Expo Center Norte.
Na feira, Bliss compartilhará um pouco de sua experiência na empresa e também em outras atividades que exerceu ao longo de sua carreira de "35 anos no mercado". "Sou muitíssimo grato à Rockstar e às oportunidades que me deram. Ali estão alguns dos melhores artistas de games do mundo", diz sobre a empresa fundada em 1998 e na qual ele foi um dos responsáveis por desenhar e pintar capas de jogos, pôsteres e outros materiais.
Segundo o próprio, tudo começou por causa do trabalho que ele fez para na capa do álbum "No Protection", da banda de trip hop Massive Attack. "Eles [a gigante dos games] viram que eu conseguia pintar coisas realistas e cenas de ação. E viram meu design de lifestyle para a marca de camisetas que eu tinha na época, chamada Steroid", lembra.
O primeiro trabalho de Bliss para a Rockstar Games foi na capa de "GTA 3". "A versão que seria usada na Europa era como uma cena de um filme do James Bond, com coisas explodindo e pessoas com armas", conta. "Aí veio o 11 de Setembro [de 2001, quando atacaram as Torres Gêmeas, em NY, mesmo ano em que o game foi lançado] e tivemos que mudar. Fizemos outra, com os quadrinhos e rostos, sem violência."
Bliss diz que não tinha "a menor ideia" que a franquia se tornaria algo tão grande quanto é hoje. "São jogos que têm um impacto enorme na cultura contemporânea. Foi um processo maravilhoso fazer parte, de dentro, de toda a evolução de algo que se tornou tão incrível. Foi algo como estar nos Beatles ou na cabeça do Elvis [Presley]. Uma experiência fenomenal."
Para ele, games podem ser considerados arte. "Muito do que é feito atualmente deveria estar em museus e galerias." Mas Bliss não vem ao Brasil só para palestrar sobre seus tempos de GTA. A bem da verdade, ele quer falar mais sobre sua carreira para além da empresa. "Tenho muito mais histórias que não só as da época na Rockstar", diz".
[Na BGS] Quero entreter as pessoas, fazer com que elas se sintam inspiradas a serem elas mesmas e também falar sobre o que tenho feito atualmente." Ele se refere ao seu trabalho de ilustração comercial para marcas e sua produção artística --em 2015, por exemplo, Bliss pintou uma imagem da roqueira americana Debbie Harry, da banda Blondie, em um muro de Miami na feira de arte Art Basel.
"Saí [da Rockstar] porque queria enfrentar medos e novos desafios. Queria ter novas aventuras e nunca mais usar a palavra chefe", explica o inglês, que começou a desenhar fazendo pôsteres para sua banda de punck-rock Militia. “Minha habilidade com a guitarra não era tão boa, então comecei a rabiscar", brinca Bliss sobre sua adolescência no fim dos anos 1970, quando era leitor voraz de quadrinhos da Marvel e da DC --duas de suas maiores influências no trabalho até hoje.
"Era para eu ter me alistado na Marinha --minha família toda serviu na Marinha", conta o ilustrador, que, no entanto, cursou arte na universidade. Depois de formado, mudou-se para o Japão, onde viveu por quatro anos e trabalhou em uma marca de moda chamada Hysteric Glamour. "Foi uma época muito divertida. Tenho muitas histórias desse tempo, mas que só posso contar ao meu terapeuta. [Risos]"
A vinda à feira de games será sua primeira visita ao Brasil. "Tenho amigos que dizem que São Paulo é uma selva de pedras. É verdade?" Depois da BGS, ele vai à Inglaterra para estrear uma nova exposição, ainda em desenvolvimento.
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