Em defesa de Rafinha Bastos
Para começar, nem acredito que estou escrevendo novamente sobre o Rafinha Bastos. Uma piada infeliz proferida pelo cara escalou para uma novela rocambolesca, onde todo dia surge um fato novo: uma carta de demissão, uma ameaça de processo, uma crise na emissora, novos insultados. A única coisa que não surge é um pedido de desculpas.
Tampouco acredito que estou escrevendo para defender o ex-"CQC". Sim, defender: é justamente essa ausência de desculpas, esse não-arrependimento, que me fez ver o caso com outros olhos.
Rafinha está se mostrando corajoso ao não retirar o que disse. Está se expondo e se protegendo ao mesmo tempo: corre o sério risco de perder contratos vultosos, mas por outro lado mantém sua independência e sua "rebeldia", ainda que destrambelhada.
No caso dele, eu já teria voltado atrás há muito tempo. Vivo soltando tiradas que eu julgo engraçadíssimas, mas que volta e meia ofendem alguém. Já precisei me retratar inúmeras vezes, às vezes sem nem ter tido a intenção de machucar. Eu sou assim: quero estar bem com todo mundo, nem que para isto precise engolir minhas próprias palavras.
Pelo jeito Rafinha não quer, e estou começando a admirá-lo por isto. Veja bem, não estou defendendo a não-piada com Wanessa Camargo e seu bebê. Continuo achando-a sem graça e sem propósito. Também acho que não é motivo para uma ação judicial: Rafinha só falou, não agiu nem incitou ninguém a agir.
Ao invés de se redimir, ele tem tirado sarro de si mesmo no Twitter e em vídeos. Também se revelou ainda mais grosseiro do que eu suspeitava ao responder de maneira chula - e por escrito - a uma pergunta de uma repórter da Folha.
Mas acho que preservou sua "arte" (põe aspas nisto) melhor do que Marco Luque, que se apressou a soltar uma nota condenando o colega. Luque deve ter agido assim por pressão de seu empresário: afinal, ele e Ronaldo "Fenômeno" são garotos-propaganda da mesma empresa de telefonia celular.
Agora a produtora Eyeworks, que criou o formato do "CQC" na Argentina, ameaça levar o programa para outro canal. Não sabemos até que ponto é jogo de cena, mas faz sentido: afinal, uma atração que se pretende irreverente e se chama "Custe o que Custar" (no original, "Caiga Quien Caiga", ou "caia quem cair") não pode deixar barato.
A discussão sobre os limites do humor é pertinente e interessante, e a correção política é um fator que está afetando muitos outros aspectos da cultura brasileira - para o bem e para o mal. Rafinha Bastos está no olho do furacão, com muitos interesses conflitantes girando ao seu redor. Talvez não sobreviva, mas por enquanto está rendendo assunto.
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