Tony Goes

Miss Universo: a vitória da deusa angolana

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Entrei no Credicard Hall pronto para achar tudo aquilo uma cafonice sem tamanho. Nunca havia assistido a um concurso desses ao vivo, mas, pelo que já conhecia da TV, esperava uma overdose de laquê e frases feitas.

Saí duas horas depois totalmente entregue a Leila Lopes, Miss Angola e recém-coroada Miss Universo. Uma deusa, uma princesa. De fato, a mulher mais bonita do mundo.
As misses têm mesmo esse poder. Reinaram absolutas nos anos 50 e 60, depois caíram no ostracismo. Os avanços feministas tornaram-nas obsoletas. Julgar uma moça pelas polegadas no quadril virou quase pecado.

E de repente elas ressurgiram com força total. O culto ao corpo, o avanço da cirurgia plástica, o bom e velho desejo masculino: tudo contribuiu para que elas recuperassem a relevância. Junte-se a isto um batalhão de produtos e serviços dispostos a patrociná-las, de cosméticos a joalherias, e eis um mega-evento em escala global.

Crédito: Paulo Whitaker/Reuters Leila Lopes, a Miss Angola, recebe a coroa de Miss Universo
Leila Lopes, a Miss Angola, recebe a coroa de Miss Universo

E põe global nisso - das 89 candidatas que vieram a São Paulo, parecia que umas 60 eram de ilhotas das quais a gente nunca ouviu falar. Em termos puramente físicos, um grupo até heterogêneo. Descontado o cabelão obrigatório, elas tinham tamanhos e formatos diferentes. Uma boa amostra da beleza feminina.

Depois de três semanas excruciantes, a finalíssima de ontem foi ágil e enxuta. Só vimos flashes do desfile em trajes típicos, sempre meu momento favorito. Miss Simpatia, Miss Fotogenia e outros prêmios de consolação também já haviam sido entregues.

Os números musicais servem de moldura para mais uma entrada das garotas no palco. Talvez por isto mesmo, nenhum grande astro internacional tenha topado participar. Cláudia Leitte cantou em inglês uma estranhíssima "Locomotion Batucada", e lembrava no visual a Susana Vieira de uns 90 anos atrás. Bebel Gilberto, chamada de "lendária" pelo locutor da NBC, sambou com desenvoltura.

Mas o que interessava eram mesmo as misses. Logo no primeiro bloco, a turma original foi ceifada para apenas dezesseis. Mais adiante, para dez. Caiu a Venezuela: o país deve entrar em convulsão, e Chávez finalmente será derrubado.

Só cinco chegaram ao fim do programa. Entre elas, Priscila Machado, nossa linda representante. Dessa vez, nada de vaias. Em vários momentos, ela chegou a ser aplaudida de pé.
Mas ontem Deus foi angolano. Leila Lopes conquistou a plateia ainda na metade do show, e gritos de "Angola!" ecoaram por todo o auditório. E isto vindo de torcidas organizadas que vieram armadas até com vuvuzelas, mas obedeceram ao pedido da produção para não usá-las.

Muitas misses foram injustiçadas, mas o resultado final é incontestável. Miss Angola trouxe majestade e elegância para o título. Que faça um bom reinado.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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