O mundo é das mulheres, e os VMAs também são
Uma das fantasias recorrentes da psiquê masculina é o medo de um mundo dominado pelas mulheres. Baseado no mito grego das amazonas, neste universo paralelo os homens seriam meros coadjuvantes, relegados à condição de reprodutores e olhe lá.
A cerimônia de entrega dos Video Music Awards, da MTV americana, deu uma palhinha do que seria este mundo. O mulherio comandou a festa do começo ao fim, e dividiu entre si quase todos os prêmios importantes.
Como costuma acontecer nas premiações que envolvem música, a noite foi aberta por Lady Gaga. As bizarrices da cantora são a garantia de que a audiência será fisgada desde o começo. E ela não decepcionou: apareceu caracterizada como Joe Calderone, seu alter ego masculino.
Depois de se apresentar ao lado do lendário guitarrista do Queen, Brian May - cuja cabeleira branca e cacheada lembrou Erasmo Carlos - Gaga permaneceu no personagem a noite inteira, uma raridade para quem costuma trocar de roupa de cinco em cinco minutos. Nem tudo o que Joe falava fazia sentido, e lá pelas tantas a piada já havia cansado. Mas vista no contexto da noite, a mensagem era clara: "nós, mulheres, não precisamos de mais ninguém. Somos nossos próprios homens".
E nesse mundo onde elas dão as cartas, a rivalidade feminina desaparece como por encanto. A noite inteira as moças trocaram gentilezas: Joe/Gaga se derreteu por Britney Spears, depois as duas cobriram Beyoncé de elogios, e esta ainda fez questão de terminar seu número exibindo a barriguinha de grávida.
Claro que muitos homens desfilaram pelo palco, mas eles pareciam domesticados. Kanye West teve que engolir uma piada de Katy Perry quando esta ganhou um prêmio pelo clipe que fizeram juntos: uma cutucada por ele ter interrompido o discurso de agradcimento de Taylor Swift nos VMAs de 2009. Já outro bad boy parece ter sido absolvido: Chris Brown, que encheu Rihanna de sopapos há alguns anos, reapareceu num número frenético e cheio de acrobacias aéreas, digno do Cirque du Soleil.
Mas a noite era delas. Katy ainda levou o troféu de melhor vídeo do ano por "Fireworks", o que desafia um pouco a lógica - afinal, Gaga faturou o de melhor performance feminina por "Born This Way", e a favorita Adele, com "Rolling in the Deep", ganhou todos os prêmios técnicos (direção, cinematografia, direção de arte e edição). Parece que a intenção era mesmo premiar o maior número de mulheres possível: até a ultra-machista categoria de hip-hop conseguiu destacar uma mina, Nicki Minaj - que apareceu vestida com o que pareciam antigos vestidos de Lady Gaga jogados no lixo.
Até mesmo uma morta marcou presença. O inevitável tributo a Amy Winehouse foi bem defendido por dois homens, Tony Bennett e Bruno Mars, o que foi uma escolha elegante - nenhuma das muitas cantoras presentes precisou ser comparada à recém-falecida.
Sem apresentador e sem grandes piadas, os VMAs 2011 tiveram vários números espetaculares e nenhum grande escândalo. São estes os que fazem a fama do show, como os beijos entre Madonna, Britney e Christina Aguilera em 2003. Mas a cerimônia do último domingo talvez entre para a história como um marco: na música pop de hoje, quem apita mesmo é a mulherada.
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