Tony Goes

"Fina Estampa" estreia com pinta de novela das sete

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Aguinaldo Silva nunca foi de ficar calado. Mas nas últimas semanas parecia possuído pelo divino Espírito Santo: pôs-se a falar sem parar, disparando contra tudo e contra todos. Principalmente contra "Insensato Coração".

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Talvez enciumado pelo sucesso da novela do ex-parceiro Gilberto Braga, Aguinaldo resolveu desancá-la no Twitter e em entrevistas. Também dava a entender que sua "Fina Estampa" seria uma obra-prima, que não recorreria a truques baixos como o "quem matou?" nem embarcaria na polêmica artificial do beijo gay.

Tanto esforço de autopromoção gerou muita curiosidade em torno da estreia de ontem, mas o que se viu no ar não foi exatamente "Guerra e Paz". Foi uma novelinha idêntica a milhares de outras. Do horário das sete.

Crédito: João Miguel Júnior/Divulgação/TV Globo Cena de "Fina Estampa", que ainda parece novela das sete
Cena de "Fina Estampa", que ainda parece novela das sete

A leveza de "Fina Estampa" poderia até ser bem-vinda depois da hecatombe que foi sua antecessora. Ao contrário de autores que gostam de deslanchar suas tramas com cenas pirotécnicas, Aguinaldo não saiu do trivial variado. Mas as cenas supostamente engraçadas seriam recusadas no "Zorra Total", e o drama da mãe humilde rejeitada pelo filho esnobe é mais do que manjado: também está no ar em "Morde e Assopra".

E fala sério: de novo um quiosque na praia? OK, a praia agora é outra. "Fina Estampa" é a primeira novela a se passar na Barra da Tijuca, praticamente uma outra cidade para alguns cariocas mais empedernidos. Também não falta o boteco pitoresco, nem o galã importado de Portugal. Talvez sejam exigência dos novos "Princípios" da emissora.

A própria abertura, com uma modelo se admirando num espelho, parece uma versão piorada dos créditos de "Brilhante", de 30 anos atrás. E a linda canção da peruana Chabuca Granda que empresta o título à obra, conhecida no Brasil pela interpretação de Caetano Veloso, só aparece como citação no chocho tema instrumental.

Pelo menos uma coisa é absolutamente original: Paulo Siqueira, o personagem vivido por Dan Stulbach, jamais existiu em toda a história da humanidade. Desconhece-se o homem hétero que seria capaz de não apenas rejeitar as insinuações de uma linda modelo, como também de prontamente denunciá-la à esposa.

Pode-se alegar que muitos atores ainda não deram o ar de sua graça e que esse tom inicial de galhofa logo será substituído pelo choro e ranger de dentes habituais do horário. Mas o que se viu na estreia de ontem quase que poderia se passar pela nova temporada de "Malhação". Aguinaldo Silva vai ter que malhar muito se quiser subjugar o público, e não só a seus desafetos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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