Para quê servem tantos prêmios de música e cinema?
O Canal Brasil transmitiu ao vivo a entrega do 28° Prêmio da Música Brasileira na quarta-feira passada (19). Foi uma cerimônia improvisada, feita meio nas coxas. Pela primeira vez em 28 anos, a premiação criada pelo empresário José Maurício Machline não conseguiu patrocínio.
Mesmo assim, o evento aconteceu. Cantores de primeiro time, como Ivete Sangalo e Chico Buarque, se apresentaram sem cobrar cachê; atores e apresentadores famosos enviaram vídeos caseiros onde anunciavam os indicados das diversas categorias. E ainda houve a venda de ingressos ao público, uma novidade. Tudo isto contribuiu para que o homenageado da noite, Ney Matogrosso, recebesse um tributo à altura de seus 45 anos de carreira.
Mas o próprio Ney, em entrevista à Folha, minimizou a importância do prêmio: “Em termos de mercado, não faz diferença. Nos Estados Unidos, sim, mas aqui não temos essa mentalidade, é muito restrito ao acontecimento, não muda para o público. Em termos práticos, na carreira da pessoa, não muda nada. Talvez para um iniciante dê um impulso.”
Ney tem razão. O Prêmio da Música Brasileira não aumenta as vendas de CDs e ingressos de shows de seus premiados. Aliás, foram tantos este ano --e apresentados de maneira tão atabalhoada-- que, passada menos de uma semana, eu já não lembro mais quem ganhou o quê.
Isto acontece com a maioria das premiações da indústria brasileira de entretenimento. O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, por exemplo --que desde 2001 tenta se firmar como o nosso equivalente ao Oscar-- anunciou só no dia 13 de julho suas indicações relativas ao ano de 2016. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 5 de setembro.
Ou seja: muito tempo depois de todos os filmes indicados terem saído de cartaz. A maioria já passou na TV paga, alguns até na TV aberta, e muitos estão disponíveis nas plataformas de streaming. A (pouca) exposição que o prêmio dará a seus vencedores talvez até gere algumas visualizações, mas não afetará em nada as bilheterias, que já foram encerradas.
É uma mentalidade oposta à de Hollywood, que promove suas maiores premiações --Oscar, Globo de Ouro e os prêmios dos sindicatos-- entre dezembro e fevereiro, quando os principais concorrentes ainda estão nas salas de cinema (muitos, inclusive, são lançados nesta época, justamente para coincidir com os prêmios).
Para os americanos, um troféu só é importante se reverter em dinheiro para o agraciado. Pode parecer mercantilista ao extremo, mas é só por isto que o Oscar ainda é uma premiação relevante, conhecida pela maioria do público.
Neste sábado (22), o mesmo Canal Brasil exibiu a entrega dos Prêmios Platino, que se propõem a ser uma espécie de Oscar para a produção ibero-americana. A cerimônia, realizada em Madri, premiou Sonia Braga como a melhor atriz por "Aquarius". Fico feliz por mais esta conquista da nossa conterrânea (ela merece!), mas será que alguém que ainda não viu “Aquarius” agora vai se animar a vê-lo?
Hmm, talvez. Porque eu mesmo me interessei em assistir a um dos premiados do Platino: o vencedor na categoria série de TV, “Quatro Estações em Havana”, que está disponível na Netflix.
Para isto o prêmio serviu.
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