Por que a Globo não consegue mais emplacar uma novela das 21 horas?
Muito se tem falado sobre uma crise generalizada que teria acometido as telenovelas brasileiras. As tramas se repetem; as audiências despencaram; o público agora prefere as séries. A médio prazo, o próprio gênero estaria fadado à extinção.
Mas basta conferir não só os números do Ibope como também a repercussão na imprensa e nas redes sociais para perceber que quase todas as novelas vão bem, obrigado.
Na Globo, as faixas das 18 e 19 horas vivem tempos de esplendor. Na primeira, a recém-terminada "Sol Nascente" decepcionou, mas foi um ponto fora da curva. Sua antecessora, "Êta Mundo Bom", triunfou em todos os sentidos, e a recém-estreada "Novo Mundo" parece que vai pelo mesmo caminho.
Na outra faixa, "Rock Story" está sendo saudada pela ousadia temática e pelos personagens complexos, apesar de não ser exatamente um estrondo. Mas mantém ininterrupta a sequência de êxitos do horário, que inclui títulos recentes como "Haja Coração" e "Totalmente Demais".
No SBT, "Carinha de Anjo" continua firme em torno dos 15 pontos de audiência, confirmando que a emissora fidelizou o segmento infanto-juvenil. Na Record, os índices de "O Rico" e "Lázaro" também demonstram que o filão bíblico ainda não se esgotou. E até a Band, sem tradição em dramaturgia, consolidou sua faixa de novelas turcas.
Só que há uma mancha de proporções consideráveis nesse panorama idílico. É justamente a joia da coroa, o mais importante programa de toda a televisão brasileira, que vem mal das pernas já há alguns anos: a novela das 21 horas.
O último fenômeno absoluto no carro-chefe do Globo foi "Avenida Brasil", no já distante 2012. De lá para cá, nenhum outro folhetim conseguiu repetir tal façanha. E alguns, como "Em Família" e "Babilônia", podem tranquilamente ser classificados como fracassos.
Este também é o caso de "A Lei do Amor", que termina nesta sexta (31). A estreia de Maria Adelaide do Amaral e Vincent Villari na mais nobre das faixas não empolgou ninguém, e nem merecia: foi uma novela surpreendentemente ruim, dado o talento e o currículo de todos os envolvidos. Salvou-se a interpretação de Vera Holtz como a incoerente vilã Magnólia.
Onde foi que erraram a mão? "A Lei do Amor" sofreu muitas intervenções da cúpula da emissora, na tentativa de adequar a história às preferências do público.
Mas o contrário aconteceu com sua antecessora, "Velho Chico", cujo diretor, Luiz Fernando Carvalho, se recusou a abrir concessões. O resultado? Uma obra de arte que, no entanto, também desapontou na audiência. E Carvalho agora está sem contrato com a Globo.
Conclusão: as novelas têm futuro, contanto que limitem seu público-alvo a um perfil bem definido (crianças, adolescentes, religiosos...). É justamente essa fragmentação, aliada ao acesso a novos canais e plataformas, que me faz suspeitar que o grande novelão universal —aquele que quer cativar todo mundo, de A a Z, e virar assunto no dia seguinte— já morreu. Só não foi enterrado ainda.
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