Tony Goes

Boicote de Malafaia à Disney fracassa redondamente

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A versão live action de "A Bela e a Fera", o clássico desenho da Disney, entrou em cartaz no Brasil na quinta-feira passada (16), e já acumula mais de dois milhões de espectadores, com uma renda superior a 33 milhões de reais. Foi a maior estreia cinematográfica de 2017 até o momento.

Nos Estados Unidos, os números são ainda mais espetaculares: 170 milhões de dólares no primeiro fim de semana. O suficiente para tirar de "Batman vs. Superman" o recorde de melhor estreia em março de todos os tempos.

Ou seja: o boicote convocado por líderes religiosos, tanto lá quanto cá, simplesmente não deu certo. Se alguém deixou de ir ao cinema em protesto à inclusão de um personagem gay num conto de fadas, as bilheterias não registraram.

Esse resultado estrondoso encerra uma polêmica tonta que ocupou a imprensa e as redes sociais nas últimas semanas. Uma autêntica "nãotrovérsia", como dizem alguns jornalistas americanos.

Tudo começou quando o diretor Bill Condon (que é gay assumido) vazou que o longa teria um momento exclusivamente gay protagonizado pelo personagem LeFou (vivido por Josh Gad), uma espécie de ajudante do vilão Gaston (Luke Evans).

Na mesma semana, foi divulgado que um episódio da série em animação "Star vs. as Forças do Mal", também produzida pela Disney, mostraria pessoas do mesmo sexo se beijando na arquibancada de um estádio esportivo.

As duas notícias enfureceram homofóbicos do mundo inteiro. A Malásia pediu que o momento exclusivamente gay fosse cortado de "A Bela e Fera". A Disney se recusou, e o país acabou cedendo: o filme vai estrear por lá em sua versão integral.

Já a Rússia classificou "A Bela e a Fera" como impróprio para menores de 16 anos, e está investigando se a obra infringe as leis do país que proíbem a propaganda gay.

Nos Estados Unidos, igrejas evangélicas conclamaram seus fiéis a boicotar todos os produtos Disney, dos brinquedos aos parques. E, aqui no Brasil, o pastor Silas Malafaia, que recentemente foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de lavagem de dinheiro, pegou carona nessa cruzada.

Pouco mais de duas semanas atrás, publiquei uma coluna aqui no "F5" dizendo que esse boicote não daria certo, e que a verdadeira intenção de Malafaia era desviar a atenção de seus fiéis de seus problemas com a Justiça.

O pastor se enfureceu, e me atacou em seu perfil no Twitter. Também se voltou contra o vlogueiro Felipe Neto, que postou um vídeo contundente em sua conta no YouTube.

Agora as cifras de "A Bela e a Fera" mostram que o boicote fundamentalista contra a Disney não deu nem para a largada.

Mas como é o tal momento exclusivamente gay? Uma troca de olhares e sorrisinhos, durante o baile que encerra o filme. Crianças pequenas sequer perceberão; as mais velhas talvez entendam que, no meio de objetos falantes e um homem transformado em animal, "A Bela e a Fera" tem um pezinho na realidade.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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