Sucesso de 'Amor & Sexo' mostra que o Brasil não é tão conservador quanto dizem
Muito se tem falado da suposta caretização do telespectador brasileiro. Com o avanço das igrejas neopentecostais e do ideário conservador, o público médio estaria menos tolerante com o que vê na programação da TV.
São muitas as evidências. Em 2015, lideranças religiosas convocaram um boicote à novela "Babilônia" (Globo) por causa de um beijo, logo no primeiro capítulo, entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.
Na mesma novela, a personagem de Sophie Charlotte em "A Regra do Jogo" deixou de se tornar garota de programa depois que grupos de discussão rejeitaram a trama original.
Enquanto isto, as novelas bíblicas da Record transformaram-se em fenômenos populares. A versão compacta de "Os Dez Mandamentos" exibida nos cinemas ainda conquistou o primeiro lugar entre as maiores bilheterias nacionais de todos os tempos.
Só que este movimento não é tão generalizado quanto parece. Na mesma época em que a homossexualidade e a prostituição eram banidas de suas novelas das 21h, a Globo cravou um golaço com "Verdades Secretas": uma história com fartas doses de, adivinhe, homossexualidade e prostituição.
OK, "Verdades Secretas" era exibida depois das 23h, e nesta horário até o espectador mais quadrado está a fim de dar uma relaxadinha. Mas a trama de Walcyr Carrasco está longe de ser um caso isolado.
Vejamos "Amor & Sexo", a maior sensação da atualidade. A atração comandada por Fernanda Lima está com os dias contados desde 2013, quando estreou o que foi anunciada como sua última temporada.
Desde então, "Amor & Sexo" teve mais três reencarnações, com elogios crescentes da crítica e números impressionantes no Ibope.
Há quem diga que a Globo consegue esses resultados porque apela para a nudez. De fato, o programa desta quinta (9) terminou com nada menos do que um nu frontal masculino em pleno palco. Mas foi captado de longe e estava plenamente inserido no tema do dia, o papel do homem na sociedade.
Para além das brincadeiras, das coreografias, dos jurados espalhafatosos, "Amor & Sexo" vem se revelando um espaço mais do que necessário para a discussão de assuntos como feminismo, machismo e bissexualidade.
A produção tem atingido um equilíbrio surpreendente entre a diversão e a seriedade, misturando convidados que vão de especialistas da academia aos rappers do momento. Verdade que, às vezes, há tanta gente em cena ao mesmo tempo que o programa ameaça resvalar para o caos. Mas desde quando o amor e o sexo não são caóticos na vida real?
O mais interessante é a resposta do público, tanto nas redes sociais como na audiência propriamente dita. Os brasileiros de hoje podem estar mais caretas que os de dez anos atrás, mas "Amor & Sexo" aponta que alguns de nós ainda andam para a frente.
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