Tony Goes

Sucesso do desafio do balde de gelo frustra os cínicos de plantão

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Lei no.492 da internet: todo modismo gerará uma reação contrária. E uma contrarreação. E uma  contra-contrarreação. Depois será esquecido.

Esse roteiro foi seguido à risca por quase todas as campanhas surgidas na rede nos últimos anos: #SomosTodosMacacos#JeSuisCharlie#PrayforParis... Não importa quão nobre seja a causa.

Assim que o movimento se espalhar, os cínicos de plantão irão criticá-lo. Dirão que é fácil ser ativista sem levantar da poltrona. Que os artistas que aderiram só estão pensando em se promover. Que o dinheiro arrecadado, se houver, será prontamente desviado.

Foi exatamente o que aconteceu com o desafio do balde de gelo, que se popularizou há dois anos. Há várias explicações diferentes sobre sua origem, mas sua expansão foi fulminante. Em poucos dias, parecia que o mundo inteiro e seu pai haviam embarcado na onda.

A ideia era simples.

A pessoa desafiada precisava virar um balde de gelo sobre a própria cabeça, ou doar cem dólares para alguma instituição voltada às pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica  —uma doença terrível, conhecida nos Estados Unidos como “mal de Lou Gehrig” (famoso jogador de beisebol, uma de suas vítimas) ou, no Brasil, pela sigla ELA.

Quem virasse o balde deveria desafiar outras pessoas. Mas as celebridades que encamparam a ideia foram além: também fizeram doações, algumas bem acima do valor estipulado.

Nos Estados Unidos, nomes como Bill Gates, Ellen DeGeneresOprah Winfrey, Taylor Swift e até o ex-presidente George W. Bush toparam a brincadeira.

No Brasil, a lista também foi enorme: Luciano Huck, Fátima Bernardes, Ivete Sangalo, Luciana Gimenez, Bruna Marquezine... Mas também teve quem não topasse.

Xuxa se recusou, dizendo que já estava engajada com a causa porque a irmã de Luciano Szafir, o pai de sua filha, sofre da doença.

Rafinha Bastos virou um balde vazio sobre a cabeça, para criticar a falta d’água que assolava São Paulo.

Parece piada, mas o desperdício de água foi um dos argumentos favoritos dos cínicos de plantão. Na imprensa e nas redes sociais, não faltou quem reclamasse da campanha. Pois bem.

Nesses dois anos, a cifra arrecadada no mundo todo chegou a estarrecedores 220 milhões de dólares. E os resultados não demoraram, com a descoberta de novas drogas e tratamentos.

Nesta quarta-feira (27), a ALS Association, a maior ONG americana ligada à ELA, anunciou que, graças ao dinheiro doado, pesquisas conseguiram identificar um dos genes que causam a doença. Um passo importantíssimo na direção da cura definitiva.

Sei que é difícil acreditar na bondade humana. Todos os dias somos bombardeados com exemplos contrários. Só que, de vez em quando, alguma coisa boa acontece para valer. Nessas horas, nosso cinismo interior merecia levar um balde de gelo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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